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Um pouco de mim – pelas mulheres que vieram antes

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Opinião

Um pouco de mim – pelas mulheres que vieram antes

Por meio dos ensinamentos e inspirações de 5 diferentes mulheres, conto um pouco do que me tornei


29 de março de 2022 - 6h02

(Crédito: Nia Chi/Shuttersotck)

Normalmente, os primeiros textos de uma coluna são para que o escritor se apresente: para mostrar suas cores, valores, gostos e, além de criar um elo leitor-colunista, o objetivo é deixar um gostinho do que podemos esperar daquela nova jornada de conteúdo que se inicia.  

Sinto-me impelida a fazer o mesmo nesta minha estreia, aproveitando especialmente que temos como pano de fundo o Mês da Mulher. Esta é uma data que fala de resistência, de luta, mas também de sororidade e união. Foi – e continuará sendo – por meio da conexão e da troca feminina que transformaremos nossa realidade.  

Eu me considero privilegiada em muitos sentidos, mas especialmente pelo fato de ter sido cercada por mulheres fortes, amorosas, corajosas e desbravadoras ao longo de minha vida. Diversas culturas, ciências e religiões há centenas de anos cultuam a importância da ancestralidade na nossa formação genética, espiritual e lapidação de caráter. A minha esta apoiada em mãos calejadas, olhos doces, cabeças criativas e pés cansados. Sejam de familiares, ícones da indústria ou personagens, minha trajetória foi rica de exemplos.

É através dessa lente que me apresento. Por meio dos ensinamentos e inspirações de 5 diferentes mulheres, conto um pouco do que me tornei.  

Rosa – Faz saudação ao sol, workshop de palhaçaria e danças circulares. É contadora de histórias, adoradora de incensos, literatura africana e múltiplos pontos de vista. Com a maior fé que já conheci, aprendi que a espiritualidade é uma grande bússola e mais importante que qualquer religião. Inspirada em você, mergulhei em diferentes culturas, conheci diferentes artes marcais (que outra mãe levaria uma criança de 8 anos para fazer Tai Chi Chuan?) e me tornei mestre de Reiki. Ser sua filha é uma aventura diária e me mostrou que a generosidade é a maior das virtudes. Obrigada, mãe. 

 

Sabrina Zanker e sua mãe, Rosa (Crédito: Arquivo pessoal)

Margit – Imigrante Húngara, foragida da 2ª Guerra Mundial (hoje consigo tangibilizar mais a sua dor vendo tudo o que acontece no mundo). Mudou seu nome para Maria (o mais fácil e óbvio possível para quem já foi tão perseguida, não é mesmo?) e criou sozinha 4 filhos num contexto em que mulheres que trabalhavam fora e não tinham marido eram rotuladas e discriminadas. Sem lenço, documento e sem falar a língua, você superou tudo com senso de humor peculiar e força descomunal. Inspirada em você, aprendi a fazer muito com pouco, colocar tudo em perspectiva e ter a certeza de que, na vida, quase tudo pode ser vencido. Ter sido sua neta foi uma honra. Kösz!  

 

Sabrina Zanker e sua avó, Magrit (Crédito: Arquivo pessoal)

Mafalda – Menina argentina de 6 anos, cabelos pretos e fartos e humor sarcástico. Suas opiniões e críticas sobre o funcionamento da sociedade ocidental acompanharam minha rotina diária antes de dormir, dos meus 8 aos 11 anos. Sua inteligência, feminismo e consciência social ajudaram na minha formação de caráter, pensamento crítico e compreensão ampla das dinâmicas mundiais. Se hoje sou sponsor de uma rede de empoderamento feminino, mentora de 10 mulheres, mãe de um casal (lindo, por sinal), defensora da igualdade de gênero e da coletividade, grande parte é por você. Tenho certeza de que não se chega a nenhum lugar sozinho – e, se chegar, que a gente abra espaço para os outros. Gracias, Mafa!  

Eliana – Bailarina Brasileira, naturalizada Russa. Dançou com o Bolshoi e com Rudolf Nureyev numa época em que o contexto social-econômico era minimamente particular naquele país, superando a solidão, a competividade e a pobreza. Fundou seu grupo de dança no Brasil e inspirou jovens bailarinas como eu a serem sempre a melhor versão de si mesmas. Se pude passar sozinha por diferentes cidades e países, corrido atrás de melhores posições e projetos na minha carreira, é porque tinha a voz da Eliana Karin dentro de mim dizendo que eu podia fazer mais. Delay luchshe, luchshe Sabrina! Obrigada pela disciplina, senso de responsabilidade, foco em resultados e, especialmente, por fazer não me contentar com pouco.  

Miuccia – Formada em ciências políticas, ativista de movimentos estudantis na juventude, Miuccia sempre viu na moda uma ferramenta de mudança social. Quando herdou a Prada em 1985, ela quis trazer um novo olhar para as coleções, almejando uma mulher bem-informada, ousada e inovadora, bem diferente do estilo extremamente feminino e sensual pregado na época. Reclusa e simples, mas ao mesmo tempo forte e assertiva, Miuccia me inspira a romper com o óbvio, a quebrar universos dominados por estereótipos. Como amante da arte, moda e cinema e ocupando hoje a posição de Diretora Geral da L´Oréal Luxo no Brasil, aprendi também que a coragem de quebrar tabus é essencial para transformar o mercado seletivo (ou qualquer mercado, para falar a verdade). É nosso dever como liderança ser exemplo, buscar e ditar tendências para o progresso. O novo luxo é inclusivo, simples e sustentável. E Miuccia sabe disso.  

Este pequeno pout-pourri é apenas uma introdução das várias faces da Sabrina – mãe, neta, filha, profissional e fã. À frase “somos a somatória dos livros que lemos, viagens que fazemos e pessoas que amamos” adiciono que somos também os nossos ancestrais, as pessoas que nos amaram e as ideias que nos movem.  

Afinal, sou, porque foram. Sou, porque somos. Sou, porque transformamos.  

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