Comunicação

Giacomo Groff assume a liderança da R/GA no Brasil

Novo líder da R/GA São Paulo revela que a venda da agência significa liberdade e aceleração

i 29 de setembro de 2025 - 6h02

Giacomo Groff R/GA

Giacomo Groff assume o cargo da managing director da R/GA São Paulo (Crédito: Celina Filgueiras)

Giacomo Groff – que atuou por quase cinco anos na R/GA São Paulo em cargos de liderança, como vice-presidente executivo de estratégia – retorna à agência como managing director.

A movimentação acontece após a R/GA voltar a ser uma agência independente, ao ser vendida pelo Interpublic Group (IPG) à empresa de private equity Truelink Capital, em março deste ano.

Desde 2022, o posto de mangaing director da agência no Brasil vinha sendo ocupado por Marcio Oliveira, que assumiu, em agosto deste ano, o cargo de co-CEO da Jotacom.

Durante seus dois anos fora da R/GA, Groff atuou como vice-presidente de estratégia da We Are Social e como vice-presidente de planejamento estratégico da Africa Creative. Nesse período, globalmente, a R/GA enfrentou uma série de rodadas de demissões e mudanças de comando, inclusive fechando espaços físicos.

Em entrevista exclusiva ao Meio & Mensagem, Groff explica o que causou esse momento conturbado da agência globalmente, de que forma a venda impactou a operação da agência e qual será a sua missão liderando nessa nova jornada da R/GA no Brasil. Confira abaixo na íntegra:

Meio & Mensagem – Em março desse ano, a R/GA foi vendida pelo Interpublic Group para a Truelink Capital. De que forma isso impacta a estratégia da agência dentro e fora do Brasil? Há mais liberdade criativa?
Giacomo Groff – A compra da R/GA pela TrueLink, que é um venture capital, além de liberdade, significa aceleração e uma certa flexibilidade para você não depender somente do resultado do próximo quarter. Ao invés de pensar nos próximos três meses apenas, você consegue pensar nos próximos três anos. Esse novo vento de cauda que a agência tem globalmente e no Brasil, passa por esse investimento que vem junto com a aquisição da R/GA pela TrueLink. Tem um investment fund de US$ 50 milhões, inicialmente, para que esses investimentos, pensando num roadmap de três anos, sejam feitos. E esses investimentos estão direcionados principalmente para desenvolvimento de produtos, a partir de tecnologias novas, aquisição de empresas, inclusive, e também contratação de talento. Um exemplo dessas aquisições, a R/GA é uma empresa de quase 50 anos, 49 anos agora em 2026, e a primeira aquisição que a empresa fez globalmente na história foi esse ano, da Addition, que é um AI design studio, para trazer soluções de AI para o dia a dia, não só para os processos da agência, mas também para o output, para o produto criativo da agência.

M&M – Qual é o papel prático do fundo de inovação de US$ 50 milhões na garantia da estabilidade operacional e do crescimento sustentável da R/GA, especialmente após um período de ajustes de equipe tão intenso?
Groff – Agora é um novo capítulo, é praticamente uma página em branco que a agência tem globalmente com esse vento de cauda de investimento. Todo esse processo pelo qual a agência passou nos últimos dois anos estava muito relacionado a esse processo de venda, porque a IPG colocou a R/GA à venda e isso, obviamente, gerou uma certa apreensão do mercado e essa fase acabou sendo uma fase que a empresa ficou bem mais enxuta. E agora é o oposto, a venda foi concluída, a agência está 100% independente e agora com esse novo momento de não só redefinir o que a agência pode ser de hoje até três, quatro anos e fazer os investimentos necessários, que passam não só por tecnologia e por aquisição de empresa, mas também por contratações. Isso foi uma das coisas que mais me atraíram nessa volta, que foi escrever um novo capítulo para a R/GA, que é uma agência que, historicamente, sempre teve a frente do tempo e sempre se reinventou com as novas tecnologias. A R/GA se reinventou cinco, seis vezes já, em termos do que ela fazia, desde efeitos especiais para o cinema, depois com o comerciais de TV, depois na era digital, com o mobile, com consultoria e agora com inteligência artificial. Podemos assumir que é uma nova fase de reinvenção da R/GA agora, mas com essa nova independência por trás.

M&M – Você retornou à R/GA após dois anos, em um momento crucial de crescimento e independência da empresa. Qual será a sua principal missão nessa jornada de liderança? 
Groff – Uma primeira missão é fazer o Brasil crescer a partir dos nossos clientes e fazer mais trabalhos, que não só explorem toda essa capacidade da agência, mas também dê visibilidade para o trabalho que a gente venha a fazer. Um segundo pilar é ter o escritório do Brasil como um escritório muito mais estratégico para a rede, que também já foi, o Brasil sempre foi um escritório, um centro de excelência para a rede. Na época de todos os aplicativos mobile, a maioria dos aplicativos era produzida no Brasil. Fazíamos aplicativo para o Goldman Sachs, fazia aplicativo para o Sonic, que é uma rede de fast food americana, além do próprio Next, o banco Next nasceu na R/GA. Tínhamos um centro de excelência em desenvolvimento mobile, hoje, temos um centro de excelência de content studio, um estúdio de produção de conteúdo já acelerado por inteligência artificial e que, hoje, é o principal motor do Brasil para servir a rede, principalmente os escritórios da região de Américas. Mas, queremos dobrar esse investimento e esse foco para explorar outras capacidades que o Brasil possa construir para se conectar e integrar melhor com a rede. Tem um crescimento aí, porque o Brasil além de ser sempre um centro de excelência é um exportador de talento. Sabemos o poder de criatividade do Brasil, sabemos o poder de impacto, de bom gosto do ponto de vista do design, de conhecimento avançado de tecnologia. Tudo isso podemos aportar novamente, além do content studio, que é o que já fazemos hoje com a rede. E uma terceira frente de crescimento é realmente podermos fazer trabalhos que não só sejam locais e que tenhamos capacidades para servir e integrar melhor com a rede, mas que consigamos fazer trabalhos regionalmente.

M&M – Como manter a cultura e a força da R/GA no Brasil mesmo após a independência do IPG?
Groff – A R/GA sempre teve uma cultura muito forte, porque mesmo sendo parte da IPG, ela sempre atuou de uma forma muito autônoma. Desde a fundação da agência pelo Bob Greenberg, pelo Richard Greenberg, isso tudo se manteve até hoje. A agência, do ponto de proposta de valor, de formas de trabalhar, a agência tem uma cultura muito forte. Isso não se perdeu, ao contrário, ela se manteve mesmo nos tempos de IPG e, agora, nessa nova fase independente, fica ainda mais essencial que isso se mantenha. É uma empresa que tem uma cultura muito forte. Do ponto de vista de ter um escritório físico é mais para realmente conectar as pessoas de uma forma que seja mais nossa.

M&M – Em entrevista ao Meio & Mensagem, em 2023, o CEO, Robin Forbes havia comentado sobre o conceito de criatividade distribuída da R/GA, no qual quase 30% operação da agência em São Paulo não estava presencialmente no escritório. Essa cultura deve mudar?
Groff – Não. A nossa diversidade é uma diversidade realmente abrangente, inclusive a diversidade regional, de background. É importante termos pessoas que não somente moram em São Paulo. Temos muita gente que mora em Belo Horizonte, pessoas que moram no interior do estado, pessoas que moram em outros estados além de Minas. Até 50% das pessoas moram em São Paulo e os outros 50% não moram em São Paulo. Claro, que quando queremos juntar todo mundo fisicamente é um desafio. A ideia é que todo ano, no mínimo uma vez por ano, reunamos todo mundo para fazer uma integração, mas queremos seguir nessa proposta de diversidade, inclusive diversidade regional. Como temos, agora, talvez o melhor dos dois mundos, de ser uma agência independente, mas, ao mesmo tempo, global, então ainda temos dez escritórios pelo mundo, conseguimos fazer essa conexão de ter uma visibilidade mais única de tudo o que está acontecendo. Quando estamos no mundo das grandes holdings, tem muitos escritórios, mas não necessariamente esses escritórios cooperam, não operam como network, eles são chamados de network, mas não operam como network. E a R/GA sempre foi o contrário, sempre operou como network, porque a visão, inclusive financeira, sempre foi única. E com essa nova fase, fica ainda mais fácil, tem menos amarras para realmente operar como única empresa global.

M&M – O CEO também afirmou que R/GA já ultrapassou a fase experimental da IA, integrando-a ao seu núcleo do trabalho. Como a operação de São Paulo planeja incorporar ativamente a expertise em IA da recém-adquirida Addition para criar experiências integradas de valor para clientes locais?
Groff – A gente vem falando de agentic AI, mas ainda não está lá. E toda essa questão de curadoria, de bom gosto, de insights, da emoção, tudo isso ainda é muito humano. E queremos usar a tecnologia para ser um facilitador disso. Tem uma abordagem que é a mais óbvia, que a maioria está adotando, que é olhar para a AI com um olhar de eficiência, de cortar custo, de fazer a coisa mais rápida, mais barata. E que isso é parte da ideia de adotar a IA. Mas a R/GA está indo num caminho oposto a isso, de olhar para a tecnologia como um facilitador de toda essa parte humana da alma da criatividade. Desde para fazer o trabalho mais criativo, mas também para encontrar formas até mais técnicas de criar uma solução. Por exemplo, a R/GA, nos Estados Unidos, criou uma plataforma de, como temos, hoje, o Search Engine Optimization, para você entender como que a sua marca aparece em uma busca do Google, a agência, junto com a Addition, criou o AI Search Optimization. Mapeando quais formas que a AI está sendo adotada em plataformas de e-commerce, plataformas de relacionamento, para ver como que as marcas podem aparecer mais e ser mais proeminentes em uma busca que acontece por AI, mas fora do Google. Aqui no Brasil, a ideia é que possamos usar a estrutura da Addition em projetos especiais onde a gente veja oportunidades para a inteligência artificial, além do básico, as ferramentas básicas de IA, o próprio content studio faz trabalhos para fora, mas ele também faz trabalhos para o Brasil, utilizando IA na produção de conteúdo.

M&M – Atualmente, qual o papel da operação brasileira nos resultados atuais da R/GA? E o que podemos esperar do futuro da R/GA no Brasil e no mundo?
Groff – O papel que o Brasil tem para a rede é muito estratégico em termos de visibilidade de trabalhos criativos e inovadores. Inovação aliada à estratégia e à criatividade continua sendo o core. O que queremos construir cada vez mais para o Brasil são esses tipos de trabalhos que vão além de comunicação e que tragam esse elemento de inovação e tecnologia para os projetos. O outro pilar que é estratégico para o Brasil é o Brasil estar muito mais conectado e integrado à rede através de capacidades que sejam difíceis de replicar em outros lugares. Uma outra oportunidade que enxergamos para o crescimento do Brasil são trabalhos que sejam integrados regionalmente. Se juntamos essas três coisas, o Brasil tem uma importância enorme para a rede, tanto localmente quanto globalmente. É isso que queremos evoluir. E nesse novo momento tem uma intenção ainda mais clara e forte de ter o Brasil como um mercado estratégico para a rede. Isso também foi um dos motivos que me atraíram muito para voltar de não só a agência estar em uma fase nova, mas o Brasil ter uma importância renovada de talento, de inovação, de trabalhos locais.