O poder dos games como transformador social
Executivos do Afroreggae e Riot falam sobre os impactos dos projetos sociais vinculados ao universo gamer
Executivos do Afroreggae e Riot falam sobre os impactos dos projetos sociais vinculados ao universo gamer
Carolina Huertas
1 de junho de 2022 - 19h38
Para além do entretenimento e da imaginação, os games vêm se mostrando como uma oportunidade de mudança social. No palco do ProXXIma, nesta quarta-feira, 1, Priscila Queiroz, gerente sênior de marca da Riot Games e William Reis, diretor executivo do Afroreggae debateram a questão.
A executiva comenta que durante muito tempo a indústria dos games ficou no background dessa movimentação social através do entretenimento, porém, agora, ela afirma que cada vez mais surgem ações que usam os jogos virtuais como transformador. Ela aponta que essa por conta do atraso das empresas em embarcar nessa ideia, as próprias periferias têm se organizado para usar as ferramentas. “Nos últimos anos temos visto torneios beneficentes que têm sido organizados pelas próprias comunidades, nós às vezes só entramos com o patrocínio”, afirma.
Reis comenta que para o AfroReggae, a categoria dos games veio como uma oportunidade de mudança social tão próspera que impactou toda a organização. “Nós éramos conhecidos pela música, mas quando o game surgiu, vimos com uma necessidade de nos reinventar como projeto social. No começo, muita gente não acreditou que poderia dar certo por achar que os jovens da periferia eram diferentes dos jovens do Morumbi. Mas não, eles querem as mesmas coisas, só falta oportunidade”, explica o diretor.
Os especialistas comentaram como o envolvimento dos jovens como os games trouxe a chance de melhorias de vida, como a oportunidade de aprender habilidades como o inglês e a computação. Reis também aponta como os jogos se colocam não apenas como ponte para a educação, mas como um formato que gera interesse.
“Se você chega com um inglês convencional dentro da favela, eles não vão querer fazer a aula. Mas se você chega com a estratégia do game, por exemplo, eles mesmo se interessam e querem participar”, afirma Reis.
Como gerente da Riot, Priscila falou também sobre o papel das desenvolvedoras para democratizar o acesso aos games. A executiva afirma tornar os jogos acessíveis é uma preocupação dos processos de desenvolvimento dos mesmos.
“Essa é uma preocupação nossa desde o começo do LOL, por exemplo. Ele é um jogo de PC, mas mesmo assim, ele foi pensado para que você não precisasse de um PC de última geração para jogar. Em outras vertentes nós temos um modo para daltônicos também. Acessibilidade é um caminho longo que estamos trilhando”, revela.
Os especialistas explicaram como o investimento em games para minorias sociais pode se apresentar essencialmente como política afirmativa e solução para problemas maiores e mais complexos, para a sociedade como um todo.
Durante a pandemia, Reis conta que o dinheiro investido pela Riot no projeto, foi direcionado para doações em alimentos às famílias que estavam em situação de vulnerabilidade. Mas para além de uma situação momentânea, ele conta que as organizações ao investirem nos jovens da periferia através dos games, estão também os afastando da criminalidade, dos vícios e dando uma perspectiva nova de vida para essa juventude.
“Hoje a violência se tornou democrática. As empresas precisam entender que virou um problema geral, que impacta todas as pessoas e algo precisa ser feito: o investimento em políticas afirmativas”, reforça.
O executivo afirma que um dos maiores obstáculos do avanço do projeto e da transformação é a falta de investimentos das marcas. Diante da questão, Priscila comenta a importância e a necessidade de ter mais parceiros nessa trajetória. ““Estamos sempre pensando em novas ideias e quanto mais parcerias nós tivermos melhor. Também queremos ouvir ideias que estão em desenvolvimento para ajudar. Oportunidade de investir e mudar o mundo hoje em dia é o que não falta. Quanto mais gente entrando e querendo mudar o mundo melhor”, diz Priscila.
Para além dos jogadores, os painelistas explicaram também a importância de se ter diversidade nos bastidores do universo dos games.
“Nós temos jovens de favela criando jogos que já estão na Apple Store e na Play Store, que falam sobre a questão indígena e a questão racial, sobre Orixás. Então, você já está combatendo o racismo, o racismo religioso, e trazendo autoestima para aquele jovem que também está no mundo dos games. Além disso, todos esses jovens que ajudaram a criar os jogos eram de times que disputam o campeonato de criação de jogos”, explica.
Priscila contou que pensar na diversidade em todas as etapas é essencial para que o usuário tenha a melhor experiencia possível, seja ele quem for. “É importante criar uma conexão, se queremos cumprir o propósito de ser a empresa mais foca no cliente, é preciso sermos diversos”, conclui.
Compartilhe
Veja também
Marcos Mion: relação com marcas vem de dedicação mútua
Apresentador da Globo, Marcos Mion acredita que uma relação longeva com marcas dependa de co-criação e dedicação
Como a mídia programática é afetada pela inteligência artificial?
Os vice-presidentes da Epsilon e BETC Havas acham que a partir da consolidação de produtos que usem IA as marcas ficaram mais seguras em explorar as potencialidades da tecnologia