Álcool em gel: do anonimato cotidiano à fama

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Álcool em gel: do anonimato cotidiano à fama

Explosão de demanda trouxe gestão de crise “positiva” para empresas como a Companhia Nacional de Álcool e Start Química, agora acompanhadas na produção por Cimed, Granado, Natura, Avon, Boticário, Pierre Fabre e Ambev, entre outros players


24 de março de 2020 - 6h00

Companhia Nacional de Álcool viu a demanda crescer 6.500% em março (Crédito: Divulgação)

“Fui comprar álcool em gel e voltei com uma garrafa de Jack Daniel’s, porque estava o mesmo preço”, diz um dos muitos memes na internet em torno da crise do coronavírus e seus impactos — brasileiro, afinal, pode perder o amigo, a saúde, mas não a piada.  Mas o fundo de verdade nesta em questão é a alta da demanda por um produto de higiene e limpeza pelo qual, até então, muitas vezes os consumidores passavam batido e, depois da crise, tornou-se campeão de vendas e alvo da ganância de alguns comerciantes, que abusaram da lei da oferta e demanda, elevando preços excessivamente. A corrida pelo álcool em gel está fazendo as empresas do setor se desdobrarem para repor o produto nas gôndolas e mobilizado até outras que não produziam o artigo.

Líder do setor há 71 anos, a Companhia Nacional de Álcool (CNA), que produz as marcas Coperalcool, Zulu, Zumbi e Da Ilha, viu a demanda por seus produtos subir 6.500% no mês de março. “Produzimos hoje por dia o que antes produzíamos num mês, e vamos triplicar a capacidade ainda esta semana para dar conta dos pedidos”, afirma Leonardo Medeiros Antunes Ferreira, CEO da companhia.

Para isso, a empresa abriu três turnos de trabalho, ou seja, está operando 24 horas, inclusive nos finais de semana, além de estar instalando mais linhas de produção. “Nossa previsão é que essa demanda fique intensa até julho. Depois disso é natural que haja uma acomodação”, pontua o executivo.

Antes da crise do coronavírus, os picos de venda ocorriam no inverno, quando os números registrados eram 20% maiores, em relação à média do ano. Sobre os aumentos abusivos de preços, Leonardo Ferreira argumenta que a indústria não controla as margens e a origem de abastecimento do varejo, mas, falando por sua empresa, garante que aumentos não estão partindo dela neste momento de crise — afirma, pelo contrário, estar segurando a pressão de aumento de insumos da cadeia e ter assumido compromisso com o governo do estado de São Paulo (a empresa é de Piracicaba, no interior paulista) de contribuir com o combate ao coronavírus por meio de doação para órgãos públicos críticos que precisam se manter em funcionamento, como por exemplo, as polícias de São Paulo.

Em relação à comunicação, se por um lado as marcas do setor nunca foram anunciantes em mídias de massa, agora têm feito um trabalho de certa forma até educativo. A CNA, por exemplo, afirma que seu SAC anda sobrecarregado com dúvidas de consumidores que estão entrando na categoria agora. Questionado sobre se acredita que ganhará novos concorrentes, uma vez que na sexta-feira, 20, a Anvisa divulgou uma resolução que facilita o processo de itens de proteção ao coronavírus, como o álcool em gel, Leonardo Ferreira pondera que a divulgação da eficácia da categoria vai ampliar o consumo e é natural que apareçam novos concorrentes.

Já Clayton Rezende, gerente de marketing da mineira Start Química, que produz a marca Asseptgel, afirma que a demanda aumentou em 30% no estado a fabricação de produtos de limpeza e higienização. “A produção de álcool em gel deu um salto de 12 toneladas ao dia para mais de 20 toneladas, somente em fevereiro”, aponta. Como no caso da CNA, ele cita o inverno, período em que aumenta a proliferação de vírus em geral, como o pico de vendas, antes do corona. Hoje, a Start fabrica 17 produtos, entre álcool e sabonetes antissépticos. Também atuando em três turnos, a empresa se prepara para lançar, em abril, uma opção de álcool em spray, em frascos de 60 ml. Embora tenha como prioridade o mercado interno, a empresa também tem exportado para China, Estados Unidos e países da Europa.

A Start Química também afirma manter inalterada sua tabela de preços, com a ressalva, como fez a CNA, de não poder regular o preço final praticado no ponto de venda. Neste momento, a empresa tem deixado de lado a comunicação de produtos e marcas isoladamente — como Asseptgel, Azulim, Tuff, Only e Indy — para atuar mais no âmbito do branding institucional. “Iniciamos esta semana, também, uma ação em conjunto com a Siamed para doação de 60 mil litros de álcool líquido 70% para instituições da nossa região que necessitam do produto. A campanha recebeu o apoio das TVs locais com a participação de apresentadores das emissoras”, conta Clayton Rezende.

Sobre novas empresas terem sido liberadas pela Anvisa para a produção de álcool em gel, o executivo da Start argumenta que a pandemia, em proporção jamais vista, torna necessária a união das empresas do setor para gerar itens que auxiliem na prevenção e evitar propagação do vírus. “Então, não consideramos que ganhamos novos concorrentes, mas sim novos aliados em um combate tão importante”, arremata.

Também para Minas Gerais, à região de Pouso Alegre, chegará o primeiro lote de doação que a farmacêutica Cimed fará. A empresa começou a produzir álcool em gel 70% exclusivamente para doação. O lote inicial tem 250 mil unidades e além de atender cinco mil funcionários da fábrica, será destinado à população local e UBSs do estado de Minas Gerais.

Fabricante do álcool em gel para a marca Giovanna Baby, a ProNova Cosméticos produzia uma média mensal de 80 mil unidades por mês, e em março a produção será de dois milhões de unidades. “Sem conseguir abastecer a todos os pedidos que tivemos”, revela Glaucia Felicia, gerente de marketing da ProNova.

Além de dobrar o número de funcionários de sua fábrica, indo para três turnos dedicados especialmente à fabricação de álcool em gel, a companhia reforçou sua estrutura logística, para fazer fluir o número de pedidos e está contratando terceiristas de fabricação, para chegar à produção mensal de cinco milhões de frascos.

A comunicação do álcool em gel, diz a gerente da ProNova, sempre foi  semelhante à dos outros produtos, reforçando diferenciais como as fórmulas com esferas hidratantes com vitamina E (que não permitem o ressecamento das mãos), e as fragrâncias, muito características da marca Giovanna Baby. “Quando percebemos o aumento na procura, passamos a reforçar a comunicação nos cuidados para o combate à propagação do vírus, não somente relativos ao álcool em gel, mas a todos os cuidados. Incentivar o consumo consciente, inclusive pensando empaticamente nos demais, foi foco de várias comunicações que fizemos”, explica.

Sobre o tempo que prevê para essa situação, Glaucia diz ser difícil estimar, mas toma por base o andamento da crise em outros países para responder. “Desejamos que o nosso País consiga passar rapidamente por essa pandemia. Porém, analisando os países que passaram ou estão passando pelo coronavírus, imaginamos que aproximadamente quatro meses”, argumenta.

Unidos pela urgência

Diante da escassez de álcool em gel para atender o crescimento da demanda, mesmo com empresas do setor atuando em três turnos, a Anvisa permitiu a companhias não apenas do setor farmacêutico, mas também o de cosméticos, a fabricarem o produto. Assim, vimos no Brasil empresas como a Natura anunciarem o início da fabricação de álcool em gel. E o Grupo Boticário, por meio do Instituto Grupo Boticário, doará 1,7 tonelada de álcool em gel Cuide-se Bem para o sistema de saúde pública de Curitiba, cidade onde está localizada sua sede.

Além da doação ao SUS, a empresa está promovendo campanha para reforçar e conscientizar sobre outras medidas na prevenção da doença, como a importância da lavagem das mãos com água e sabão e estimular a solidariedade. A ideia é incentivar quem tem acesso a água e sabão em casa a doar álcool em gel para as pessoas que realmente precisam. Natura e Avon, aliás, afirmaram que irão doar 2,8 milhões de sabonetes (barra e líquido) para comunidades carentes no entorno de suas operações em todos os países da América Latina.

O Grupo Pierre Fabre — dono das marcas Eau Thermale Avène, Darrow e Ducray — terá ações locais e globais a fim de colaborar com o fim da crise causada pelo Covid-19. Dentre as quais a produção de um Gel Higienizador à base de Álcool 70% para doar a hospitais.

“Somos uma empresa farmacêutica internacional, uma das líderes mundiais, e pertencemos a uma fundação de utilidade pública sem fins lucrativos. Entendemos que é nossa responsabilidade colaborar com a saúde pública, afirmou em comunicado Philippe de Carvalho, diretor-geral da Pierre Fabre no Brasil.

Quem também anunciou que começará a produzir álcool em gel, a partir de abril, foi o Grupo Granado, que também fará doação de quatro mil litros de sabonete líquido para instituições do ou que atuem no Rio de Janeiro, onde está sua sede, que vão desde o Hospital Miguel Couto à Unicef, ongs e comunidades. Mesmo a Ambev, que pertence a um segmento totalmente diferente, havia anunciado que irá produzir em sua cervejaria de Piraí (RJ) etanol e garrafas para envasar 500 mil unidades de álcool em gel, que doará aos sistemas públicos de saúde de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Outro produto que teve sua demanda elevada pela crise do coronavírus associada ao medo de algumas pessoas quanto ao desabastecimento foi o prosaico papel higiênico. Alguns supermercados chegaram a ficar sem o produto em alguns momentos. Procurada pela reportagem, a Kimberly-Clark, fabricante de Neve — uma das marcas do segmento que é mais ativa na mídia — se restringiu a enviar um posicionamento. Nele, a empresa afirma estar fazendo o possível para garantir um fornecimento constante de seus produtos às gôndolas. “A Kimberly-Clark está trabalhando em estreita colaboração com nossos parceiros e clientes para entender suas necessidades atuais, bem como para atender à crescente demanda por nossos produtos, incluindo a aceleração da produção e a realocação de inventário para ajudar a sanar essas necessidades”, afirma a mensagem. A empresa também diz ter como prioridade a saúde e segurança de seus colaboradores e estar tomando medidas extras para garantir isso, seguindo orientações das autoridades globais de saúde.

Já a Santher, que detém marcas como Personal, de papel higiênico, e Kiss, de lenços de papel, não tem dado entrevista sob o argumento de que seus executivos estão envolvidos no processo de mudança de comando, uma vez que no fim de fevereiro a empresa foi adquirida pelas japonesas Daio e Marubeni.

 

(*) A nota foi atualizada, na terça-feira, 24, às 10h52.

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