Dicotomia digital

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Opinião

Dicotomia digital

Dados são necessários para a oferta de melhores serviços, mas a privacidade das pessoas não pode ter preço


4 de novembro de 2019 - 12h32

Web Summit 2018 (Crédito: Divulgação)

O interesse das empresas e profissionais de comunicação pelos festivais de inovação, realizados mundo afora, é um indicador da ampliação tanto do território de atuação quanto da complexidade de integrar diferentes frentes e parceiros estratégicos para entregar o que se espera das marcas contemporâneas — serviços relevantes e propósitos de valor culturalmente alinhados com seu tempo e público.

Por emularem esse novo contexto muito mais colaborativo e diverso, com a presença de novos players que se tornaram variáveis fundamentais desse ecossistema, como as startups e empresas de tecnologia, festivais de inovação, como o South by Southwest, realizado, em Austin (EUA), a CES, em Las Vegas (EUA), e o Mobile World Congress, em Barcelona (Espanha), entraram para o calendário da indústria da comunicação e caíram nas graças dos profissionais brasileiros, que ano após ano registram novos recordes de presença. Agora é a vez do Web Summit, cuja edição 2019 será realizada entre a segunda-feira 4 e a quinta-feira 7.

Consolidado como o grande festival europeu de inovação, o evento receberá um público estimado superior a 70 mil pessoas e começa a colocar Lisboa no mapa anual de peregrinação da indústria, junto com Cannes e Austin. Você, caro leitor, acompanhará em nosso website, redes sociais e edições semanais a cobertura exclusiva de Meio & Mensagem: serão cinco jornalistas apurando in loco e mais de 30 blogueiros escrevendo direto da Altice Arena, onde acontece o festival.

Na capital portuguesa, habitués de grandes debates do mercado, Fernando Machado (CMO do Burger King), Raja Rajamannar (CMO da Mastercard), Sir. Martin Sorrell e Richard Edelman dividirão o line-up com líderes de companhias globais para áreas cada vez mais influentes e próximas da comunicação, como o chefe executivo de tecnologia da P&G, Alan Boehme, e a chefe global de transformação digital do grupo Bayer, Saskia Steinacker.

Ampliando o olhar sobre a programação com mais de mil palestrantes, distribuídos pelos 21 palcos principais do evento, em sessões dinâmicas com no máximo 25 minutos de duração, a privacidade destaca-se como tema onipresente nos debates e apresentações individuais. Não por acaso, a grande atração do dia de abertura será a entrevista via videoconferência com Edward Snowden, o ex-programador da CIA e da Agência Nacional de Segurança que expôs ao mundo as práticas dos programas de vigilância do governo americano.

Nos dias seguintes, subirão ao palco Ruby Zafo, chefe executiva de privacidade do Uber; Braden Smith, presidente da Microsoft; Katherine Maher, CEO da Wikipedia; e Brittany Kaiser, a ex-funcionária da Cambridge Analytica que confirmou, em depoimento ao Parlamento Britânico, o uso ilegal de dados de usuários do Facebook, em estratégias para influenciar eleitores, durante o plebiscito para o Brexit e a campanha presidencial americana de 2016.

A discussão certamente se expandirá para além dos painéis nos quais a palavra privacidade está explícita em seu enunciado. Além de estarmos em solo europeu, cujos tribunais têm sido mais rigorosos em estabelecer multas pesadas como referência para abusos de poder por empresas de tecnologia, o assunto se tornou intrínseco a praticamente todas as atividades pelas quais se possam coletar dados.

Corresponder à expectativa por melhores serviços passa, sem dúvida, por conhecer melhor o seu consumidor. O que será cada vez mais cobrado e valorizado pelo público é que isso seja feito sem invadir a intimidade das pessoas ou alimentando, ainda que indiretamente, a indústria do ódio a usar os dados e as redes em prol de interesses escusos.

Essa dicotomia é um dos grandes desafios contemporâneos não apenas da comunicação, mas de toda a nossa sociedade.

*Crédito da foto no topo: Divulgação

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