Mantenha a chama acesa

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Opinião

Mantenha a chama acesa

Os dados apontam a linha mestra para ações criativas mais certeiras e não cerceiam a ousadia, a emoção e a liberdade de surpreender


11 de agosto de 2020 - 13h42

(Crédito: Erhui 1979/ iStock)

Embora em circunstâncias muito díspares, esta não é a exatamente a minha primeira quarentena. Em diferentes momentos, em que decidi tomar novos rumos profissionais, aproveitei os períodos de non-compete para refletir sobre para onde gostaria de ir. Esta quarentena, embora não tenha me afastado do trabalho, tem sido, como em outras ocasiões, um processo de detox mental, abrindo espaço para o restart criativo tão fundamental para encarar os próximos anos que vêm pela frente, que certamente serão bem desafiadores e demandarão, mais do que nunca, boas relações e comprometimento com resultados e performance.

Se haverá um “novo normal”, imagino que nele estejam as marcas que são de verdade, aquelas cujo DNA e força foram construídos com consistência e com a ajuda de uma comunicação igualmente consistente. Como as pessoas, que vem questionando suas escolhas, tornando-se mais conscientes, solidárias e alertas em relação ao que consomem, também as marcas estão sendo convidadas a refletirem sobre seus propósitos, sobre sua responsabilidade socioambiental, sobre seu estar no mundo que não pode, de jeito algum, estar desconectado da realidade da sociedade, e do zeitgeist.

Se pararmos para pensar, nada do que se apresenta é, de fato, tão novo: já vínhamos vivendo transformações importantes e vislumbrando tendências dessa ordem há alguns anos. Mas a máquina do tempo acelerou, materializando um convite para que nos tornemos mais relevantes para as marcas, ajudando-as ainda mais intensamente a navegar neste oceano de variáveis tão delicadas, sob o olhar minucioso, atento e intermitente da sociedade.

Estamos saindo mais fortes e mais conscientes do nosso papel junto às marcas. Mais conscientes da importância da construção de relações mais transparentes, colaborativas, equilibradas e éticas – entre empresas, entre profissionais, entre patrões e empregados, entre pessoas. No fundo, as coisas estão exatamente como deveriam estar: com o ser humano no centro de tudo. E com a confiança norteando relações: nada mais acontecerá, se não houver confiança entre as partes envolvidas. Ponto.

Particularmente, acredito no poder do local em detrimento do global. Na força do local nas relações one to one possibilitadas pela tecnologia. Na substituição dos contratos de letrinhas minúsculas por trocas mais claras e conscientes – movidas pela confiança. Não há mais volta na mercantilização de dados: mas esta, se tornará cada vez mais clara, escancarada e transparente.

Neste mundo novo que nos rodeia, os dados orientam ações e impulsionam a criatividade. Proporcionarão a linha mestra para ações criativas mais precisas, mais certeiras, e não serão limitadores ou cerceadores da ousadia que sabemos e podemos oferecer. Acredito na criatividade que sim, parte de dados e conta com eles, mas traz para a conversa emoção e liberdade de surpreender.

Como criativo, minha preferência sempre foi, claro, por jogar o jogo de maneira mais livre, sem amarras de qualquer natureza. Com o tempo, o que ficou claro é que liberdade é construção: nasce das relações de confiança cuidadosamente elaboradas. E construção leva tempo. O tempo, que se tornou artigo de luxo. Quem tem tempo? A experiência da quarentena nos devolveu um pouco desse artigo tão escasso, nos fazendo reconhecer ainda mais o seu papel no amadurecimento de outro artigo essencial e escasso: a relevância.

Toda essa reflexão faz ainda mais sentido na quarentena, pois ela, em graus maiores ou menores, arrancou das profundezas das nossas almas individualistas a humanidade que andava adormecida. Nos devolveu a capacidade de valorizar o simples, ou o que parecia menor, menos importante. Devolveu para muitos a capacidade de se emocionar com a simples convivência em família, com a possibilidade de ajudar alguém e com o resgate da noção de coletividade. Dessa humanidade que nos une de um jeito ancestral, desde tempos imemoriais, em que se celebrava a vida em volta do fogo.

Portanto, acredito que sairemos dessa mais fortes. Mais conscientes da missão de manter acesa a chama: de uma propaganda que cumpre um papel ainda mais importante, ajudando marcas a se tornarem mais relevantes, com base na construção de relações mais éticas, transparentes e humanas entre todos os envolvidos. Sem jamais perder de vista que o que atiça a chama é o sopro das asas livres, leves e soltas da criatividade.

*Crédito da foto no topo: JBKdviweXI/ Unsplash 

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