Carência de encontros

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Opinião

Carência de encontros

Em processo acelerado de transformação digital, grandes eventos globais encaram desafio de manterem-se relevantes sem o networking presencial e sob o abalo da fuga de receitas, que também impacta suas cidades-sedes


15 de março de 2021 - 13h43

SXSW 2021 (Crédito: Reprodução )

Um dos piores efeitos colaterais das necessárias restrições de circulação para o combate à Covid-19 é a carência de encontros. Incomparável, evidentemente, à dor pelas vidas perdidas para o descontrole da pandemia, que, na semana passada, completou um ano desde que foi assim classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o peso do distanciamento tem maior impacto na esfera pessoal e familiar. No campo econômico, afeta também as relações profissionais — e, em escala global, representa prejuízo incalculável para as empresas organizadoras de grandes eventos. A reação em cadeia da fuga de receitas abala também as arrecadações de cidades-sedes, seus comércios, hotéis e restaurantes. Em Austin, o prejuízo causado pela não realização do South by Southwest (SXSW) no ano passado é estimado em US$ 350 milhões — uma quantia que também não entrará nos caixas locais em 2021.

A necessidade de adaptação inflou, nesses últimos doze meses, o mercado de eventos remotos, transmitidos via internet, e acelerou a transformação digital das empresas organizadoras dos principais festivais voltados à indústria de comunicação, marketing e mídia. A reportagem das páginas 28 a 31, que merece o destaque de capa, abre a cobertura especial do SXSW deste ano, que, após ser pego de surpresa pelo avanço inesperado da contaminação pela Covid-19, precisou ter a edição passada cancelada em cima da hora. A partir de terça-feira, 16, retorna em versão integralmente virtual, que vai até sábado, 20. O noticiário online sobre o evento pode ser acompanhado em sxsw.meioemensagem.com.br.

A agenda de Meio & Mensagem relativa aos principais eventos internacionais tem ainda outros três destaques principais em 2021, que, por ora, mesmo com possibilidade de um formato híbrido, sustentam atividades presenciais: Cannes Lions (21 a 25 de junho, em Cannes), Mobile World Congress (28 de junho a 1º de julho, em Barcelona) e Web Summit (1º a 4 de novembro, em Lisboa). Embora não voltado ao mesmo público e de dimensões incomparáveis no tocante à aglomeração de pessoas, o Rock in Rio tomou caminho oposto neste mês, ao se adiantar na divulgação de que os shows previstos para este ano no Brasil e em Portugal só serão realizadas em 2022.

As edições virtuais de grandes eventos causam impactos não somente econômicos, mas também um abalo intelectual na circulação de ideias e na troca de conhecimentos, ainda não totalmente substituídas pelas apresentações remotas. Mas, o esforço para a realização das edições virtuais é visto como positivo para manter aceso o aspecto cultural, ainda que não propiciem a mesma troca de conhecimento e networking dos encontros ao vivo, assim como os negócios gerados em exposições com exibições presenciais de produtos e serviços.

Além disso, os grupos e empresas mais dependentes do networking para fechar novos negócios se vêm diante de um círculo nada virtuoso, em que economizam com a ausência nos grandes fóruns globais, mas não se beneficiam mais dos negócios gerados por conversas “olho no olho” e fechados com apertos de mãos. Os indicativos financeiros denunciam que os investimentos das holdings de comunicação nos festivais internacionais, especialmente os baseados em prêmios, como Cannes, jamais voltarão aos montantes do passado — o balanço anual do WPP, mostra prejuízo de quase US$ 4 bilhões no ano passado.

O que poderá diminuir a carência de encontros e animar a troca de conhecimentos nesta semana que se inicia é o extenso programa do SXSW, que contempla assuntos relevantes para o nosso tempo, desde a injustiça racial até as contribuições positivas da tecnologia para melhorar a sociedade e o consumo consciente. Com ajuda da inteligência artificial para garantir interação virtual entre os participantes, será uma prova de fogo para um festival baseado na cultura maker, que ajudou a moldar profissionais e empresas que precisam continuar inovando para que a criatividade siga impactando a economia e a cultura do futuro.

*Crédito da foto no topo: Nick Collins/Pexels

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