Marketing

Pressão e relacionamento: os desafios das franquias

Alta da taxa de juros desafia o setor, que vive transformação com ganho de autonomia dos franqueados

i 30 de julho de 2025 - 6h12

Apesar de o mercado brasileiro de franquias ter superado as expectativas em 2024, com um faturamento de R$ 273 bilhões e um crescimento de 13,5%, o setor encara um 2025 de transformações. O cenário é marcado por desafios como a pressão inflacionária e a elevação da taxa Selic.

Franquias em 2025

Quiosque da Nutty Bavarian (Crédito: Divulgação)

Essa conjuntura econômica afeta diretamente o modelo. A alta dos juros dificulta o acesso a financiamentos, essenciais tanto para o investimento inicial do franqueado quanto para os planos de expansão das franqueadoras.

“Tudo tem que estar alicerçado sobre o equilíbrio financeiro do franqueado. Se não for, a cadeia se fragiliza”, defende Jean Paul Rebetez, sócio-diretor da Gouvêa Consulting. Ele acrescenta: “algumas marcas vão ter que rever suas taxas para possibilitar, pelo menos nesses momentos mais críticos, a rentabilidade para o empreendedor”.

A pressão econômica também é sentida no custo de matérias-primas, como o cacau. É o que conta Daniel Roque, VP de negócios da Cacau Show. “O atual cenário econômico, especialmente com o custo elevado do crédito, tende a tornar mais cautelosa a expansão com novas unidades. Para operações em andamento, o foco está na busca por eficiência operacional, controle de custos e entrega de valor ao consumidor”, aponta.

Adaptação e colaboração

A pressão econômica é acompanhada por uma transformação na relação entre franqueados e franqueadoras. O modelo de gestão, antes vertical e hierárquico, migra para uma estrutura mais colaborativa.

“Antes, as marcas se colocavam, ditavam o tom do comando. Tinha pouco diálogo colaborativo. Essas mudanças do digital, do consumidor e da evolução, obviamente, dos próprios empreendedores de franquia, estão tornando a relação cada vez mais horizontal”, explica Rebetez.

Nesse novo formato, a autonomia do franqueado ganha espaço. Mas é preciso encontrar um equilíbrio entre a padronização, essencial ao franchising, e a liberdade para customizar o negócio localmente. “A individualidade está muito em uma compreensão mais profunda que o franqueado tem da região dele, que nós nunca vamos conseguir ter”, argumenta Anderson Estevão, diretor de franquias da Pearson.

A rede Shell Select, por exemplo, adapta o portfólio de produtos e a comunicação ao perfil do consumidor de cada localidade. Para Gustavo Campos, diretor de negócios da marca, o limite dessa personalização está no ponto em que ela compromete a identidade da marca.

À frente da Nutty Bavarian, Adriana Auriemo pondera que o avanço das redes sociais e da influência deixaram as marcas mais expostas e que uma falha do franqueado pode representar um risco reputacional para toda a rede. “Precisamos ser mais duros em padronização do que éramos antes”, descreve.

No mês passado, a relação entre franqueadores e franqueados ganhou espaço nas manchetes e em debates nas redes sociais em uma polêmica envolvendo Cacau Show, maior franqueadora do País.

Começaram a circular publicações nas redes sociais, relatando a insatisfação de franqueados a respeito de cláusulas contratuais referentes a pagamentos e distribuição dos produtos.

Questionado sobre o assunto, o VP de negócios da marca apontou: “Entendemos que, como toda relação comercial, podemos ter divergências em alguns pontos operacionais, que são sempre tratados com escuta ativa e transparência no relacionamento entre as partes, também observando o acordo firmado com nossos franqueados”.

Evolução das franqueadoras

Com a evolução da parceria, cresce também a expectativa do franqueado por um suporte mais estratégico. A gestão financeira se tornou um ponto crítico. “Franqueadora que não está pensando nisso [no suporte à gestão financeira dos franqueados] dificilmente vai ter êxito”, aponta Diego Nakagawa, CMO da OdontoCompany.

As ferramentas de desenvolvimento e treinamento também atendem colaboram com o alinhamento. Para Eduardo Felix, diretor de expansão da Chilli Beans, o maior desafio possível em uma franquia é quando as partes estão distantes.

A companhia criou uma área específica de suporte para novos franqueados, uma vez que eles apresentam desafios diferentes de quem já faz parte da rede. Outro ajuste foi dentro da área de treinamento em que os conteúdos foram formatados também em pílulas para facilitar a conexão com o público jovem.

“Ninguém tem resposta para tudo. Mas, usamos muito a nosso favor esse grupo de franqueados que querem o melhor da empresa”, defende Felix.