Renda digna: qual é o papel das marcas?
Profissionais de Natura, Think Olga, Unilever, Sistema B e Pacto Global compartilham experiências e desafios sobre a questão
Profissionais de Natura, Think Olga, Unilever, Sistema B e Pacto Global compartilham experiências e desafios sobre a questão
Rafaela de Oliveira
7 de julho de 2023 - 6h51
Falar sobre dinheiro é, historicamente, um tabu no Brasil – ainda mais envolvendo questões de gênero e raça. No entanto, o desenvolvimento da Agenda ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) tem feito avançar algumas pautas.
Nesse contexto, algumas empresas têm trazido à pauta a questão da renda digna. Ou seja, a responsabilidade de prover remunerações que permitam aos colaboradores suprir suas necessidades básicas, como alimentação adequada, moradia digna, cuidados de saúde, educação de qualidade, transporte acessível e oportunidades de lazer.
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Renda Digna e os atuais movimentos de marcas, profissionais e personalidades em relação à questão foram tema de um evento realizado na fábrica da Dengo. O encontro teve a participação de representantes da Natura, Think Olga, Unilever, Sistema B e Pacto Global.
Como movimento global de empresas que buscam aliar lucro com o desenvolvimento socioambiental, o Sistema B incentiva realizar um cálculo salarial de colaboradores que ocupam desde a base até topo da pirâmide, para dar visibilidade sobre a distribuição de renda na empresa.
Representatividade em cargos de liderança também é questionado pelo movimento. “Quando cobramos essas perguntas, percebemos uma movimentação sobre essas questões”, indicou Cinthia Gherardi, diretora de marketing e relacionamento do Sistema B.
A diretora conta que menos de 30% das empresas têm 50% das mulheres ocupando cargos de liderança. “A partir do momento que as empresas certificadas utilizam isso como métrica, conseguimos aumentar a estatística para 50%”, observou.
Sobre a questão racial, no mercado em geral, somente 8% das empresas possuem 30% de representatividade em cargos de liderança, enquanto as certificadas representam 21%. “Isso nos mostra que quando vira uma métrica entre os que estão comprometidos, há de fato um avanço”, concluiu Cinthia.
O Pacto Global também comentou sobre suas metas: “Temos 33 empresas que assumiram o compromisso de implementar em sua operação 100% de salário digno e de engajar a sua cadeia de valor com treinamentos e conscientização até 2030”, explicou Tayná Leite, especialista em D&I no Pacto Global. “Podemos salvar o planeta sobre questões de carbono, mas de nada vai adiantar se não tivermos condições dignas de trabalho”, salientou.
A dificuldade mais citada pelas empresas quando pensam em salário digno se relaciona à cadeia de valor. “É preciso pensar nessa cadeia de valor de uma maneira estruturada. E entender que isso não se trata apenas de valores salariais, mas de condições de trabalho e garantia de direitos humanos”, disse Suelma Rosa, diretora sênior de sustentabilidade, governo e assuntos corporativos da Unilever Brasil.
Além disso, a diretora destacou que as metodologias que pautam o assunto são, majoritariamente, eurocêntricas. “Foi difícil entender e traduzir para uma equipe eurocentrada todas as demandas de desigualdade da América Latina e estabelecer uma cadeia de valor que conversasse com a realidade brasileira”.
Economia do cuidado foi outro ponto considerado na discussão. “O cuidado direcionado pela mulher em educar, zelar e manter a manutenção da vida acaba sendo um agravante de gênero, pois pode influenciar na forma que se dedica ao seu trabalho”, ressaltou Nana Lima, diretora de impacto da Think Olga, sobre a necessidade de entender que os trabalhadores precisam ter tempo de qualidade com suas famílias.
“O desafio é entender que isso não é custo. É uma forma de criar condições efetivas para uma economia e sociedade melhores”, afirmou Marina Leal, diretora de sustentabilidade e direitos humanos da Natura.
A Natura criou um indicador para as consultoras, produtores sazonais e colaboradores que é acompanhado para entender qual é a meta de renda que precisa ser alcançada. “Com as alavancas que geramos para efetivamente subir a renda delas, ganhar produtividade ajudou outros setores do tema de gênero, como o da violência e o do cuidado”, explicou Marina.
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