A intencionalidade dentro do empreendedorismo
Ana Fontes, da Rede Mulher Empreendedora, e Carmela Borst, da SoulCode Academy, conversaram sobre o papel da sociedade civil, público e privada no fomento ao empreendedorismo brasileiro
A intencionalidade dentro do empreendedorismo
BuscarAna Fontes, da Rede Mulher Empreendedora, e Carmela Borst, da SoulCode Academy, conversaram sobre o papel da sociedade civil, público e privada no fomento ao empreendedorismo brasileiro
Amanda Schnaider
4 de outubro de 2023 - 12h07
O Brasil sempre foi um país empreendedor. Mas, o período pandêmico foi o estopim do crescimento do empreendedorismo brasileiro. Atualmente, 67% da população adulta do País já tem um negócio ou está planejando começar a empreender, de acordo com o relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2022, realizado pelo Sebrae e pela Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe).
Nos últimos anos, o empreendedorismo no Brasil, no entanto, passou a ser visto de forma glamourosa, o que não reflete a realidade brasileira, segundo Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME).
Para exemplificar esse ponto, Ana revelou que, hoje, as mulheres são quase 50% dos pequenos negócios do Brasil. “Elas estão empreendendo, porque são empurradas a empreender, porque os ambientes de trabalho em que estão são hostis para as mulheres, especialmente as mães”. A fundadora da RME ainda explicou que quase todas elas empreendem nas chamadas áreas de domínio da mulher, ou seja, em beleza, moda, alimentação.
Apesar de estar há apenas três anos nesse mercado empreendedor, Carmela Borst, fundadora e CEO da SoulCode Academy, entende que não há nada de romantismo no ato de empreender em um país como o Brasil. Ela observa ainda que há muita desigualdade nesse mercado, com muito mais homens, brancos e jovens sentados nas cadeiras de lideranças das grandes empresas. “Precisamos trazer esse empreendedorismo para as mulheres. Sem diversidade não existe inovação”, complementou.
A RME trabalha justamente para tentar diminuir essas desigualdades dentro do empreendedorismo brasileiro. “Estamos trabalhando para que as mulheres empreendedoras tenham negócios do tamanho que elas queiram”, afirmou Ana.
Incentivar as mulheres dentro desse mercado é importante, segundo Ana, justamente porque as mulheres têm uma visão de negócio mais colaborativa, sistêmica e ligada a propósitos, no sentido de ser um agente transformador da sociedade. “Quando essa mulher da certo no negócio, ela não investe nela, ela investe em melhorar a educação dos filhos, em melhorar o bem-estar da família e em gerar emprego para outra mulher. Isso cria um ciclo de prosperidade. O impacto social que elas geram é muito maior”.
Mas quem são os agentes responsáveis por proporcionar essa transformação no empreendedorismo? Para Carmela, tudo começa pela educação. “Quando uma mulher está digitalizada, ela tem aceso a informação, educação, empregabilidade e empreendedorismo. E, na maioria das vezes, é retirada inclusive de situações de violência”. Com isso, a CEO da SoulCode Academy salientou que é preciso ter mais iniciativas que abracem essa nova vulnerabilidade, que é a vulnerabilidade digital.
Neste sentido, o trabalho de transformação deve acontecer a quatro mãos. “Quero tirar um pouco essa responsabilidade ou irresponsabilidade de acharmos que resolvemos problemas sociais de um país como o nosso com heroísmos individuais. Não resolvemos”, alertou Ana.
A empreendedora reforçou ainda que é fundamental ter a participação de empreendedores sociais, da sociedade civil, de políticas públicas e de organizações privadas nesse processo de transformação. “É sobre responsabilidade, não é fazer o social para parecer bonito na foto”.
Apesar de observar que muitas empresas já estão falando e comunicando sobre questões ligadas ao ESG, Ana entende que o segundo passo, ou seja, o passo da ação efetiva ainda é um desafio. “Temos que cada vez mais conscientizar as empresas que nem sempre vai ser super interessante para a comunicação, mas vai ser para o propósito, para a ação”.
Carmela concorda com Ana. Na visão da empreendedora, um dos maiores desafios atuais é entender qual o papel das marcas como agentes de transformação da sociedade. Porém, para ela, definitivamente, não é apenas discutindo ou fazendo uma campanha de comunicação, mas deixando um legado. “Tem dois caminhos que temos que olhar para fazer o impacto social: um é pelo amor e o outro é pela dor”, reforçou.
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