O evento mais social da história
Movimentação da torcida, dos atletas, dos organizadores e das marcas vai fazer a Rio 2016 explodir nas redes sociais
Movimentação da torcida, dos atletas, dos organizadores e das marcas vai fazer a Rio 2016 explodir nas redes sociais
Victória Navarro
19 de julho de 2016 - 9h38
Reportagem publicada na edição Meio & Mensagem Marketing na Olimpíada em novembro de 2015.
Por Eliane Pereira
Pela primeira vez no Brasil os Jogos Olímpicos poderão ser vistos em diversos canais de TV aberta (Globo, Bandeirantes, Record) e por assinatura. A televisão vai ser o meio pelo qual o público que não estiver nas arenas cariocas — ou seja, quase todo mundo — acompanhará, ao vivo, as diversas competições. Tão importante quanto a transmissão da TV, no entanto, será a repercussão no meio digital. Pela segunda tela, seja ela tablet, computador ou o onipresente smartphone, é que as pessoas vão se informar sobre resultados, ver bastidores, conhecer mais sobre atletas e modalidades — e, principalmente, comentar, postar, interagir, compartilhar todo tipo de conteúdo.
Será, sob todos os aspectos, o evento mais social da história. “Podemos esperar um crescimento de 10% a 20% no engajamento nas redes sociais em geral durante o período da Rio 2016”, acredita Jan Rezab, fundador e chairman executivo da Socialbakers, empresa de monitoramento e pesquisa de mídias sociais.
A Isobar trabalha desde janeiro no desenvolvimento do site que vai trazer todas as informações oficiais das competições. A equipe conta com dez pessoas do escritório de São Paulo totalmente envolvidas na criação do projeto, além de outras oito em Porto Alegre. A agência montou um verdadeiro war-room para esse trabalho. A expectativa é de que os resultados das provas estejam disponíveis no site em até dois segundos. “Quando o nadador bater a mão na borda da piscina, o usuário vai saber”, garante a vice-presidente de planejamento da Isobar, Renata Bokel.
A página oficial da Olimpíada terá placares, quadro de medalhas, tempos e recordes, curiosidades sobre o que acontece na competição, tudo disponível em quatro idiomas (português, inglês, francês e espanhol). O site deve ser lançado junto com o revezamento da Tocha Olímpica, cem dias antes dos Jogos. Ele terá várias fases e em todas a cobertura será exaustiva, com informações voltadas a todos os públicos.
Mas o que chama a atenção, além do site que já está no ar (www.rio2016.com), é a presença da Rio 2016 em praticamente todas as redes sociais mais relevantes — Facebook, Twitter, Google Plus, YouTube, Instagram, LinkedIn.
“Nosso conteúdo é baseado em três pilares: esportes, serviços e legado. Se conseguirmos comunicar essas três coisas para os espectadores, teremos feito um bom trabalho”, resume a diretora de comunicação digital da Rio 2016, Adriana Garcia. A questão do legado começará a ser trabalhada com mais intensidade a partir de janeiro, procurando destacar o que fica para a cidade além das grandes obras: os valores olímpicos como respeito, inclusão social, igualdade de gêneros e sustentabilidade, para citar alguns.
Twitter sai na frente
Diante de tal quadro, considerar a internet apenas uma segunda tela é arriscado, tamanho o papel que o meio digital vai desempenhar durante os Jogos. Ciente disso, e com base em dois eventos anteriores igualmente grandiosos — a Olimpíada de Londres 2012 e a Copa do Mundo de 2014, no Brasil — as principais redes sociais já estão em campo. Elas trabalham junto a agências, anunciantes e até comitês olímpicos e atletas para criar estratégias que possibilitem o melhor uso das características de cada plataforma por parte dos diversos players.
O Twitter lançou seu projeto no final de 2014, que tem como parceiros Visa, P&G, Coca-Cola, Nissan e Vivo (esta última é a única que não patrocina também a Olimpíada). Essas marcas já estão desde o início de 2015 em contato com o Twitter para criar um plano de ação totalmente alinhado com os objetivos de cada uma para os Jogos. Não se trata de um pacote de mídia, mas de formulação de estratégia, customizada para cada marca.
“A Olimpíada é nosso grande projeto para 2016. Da mesma forma que a Copa foi um marco para o Twitter, os Jogos Olímpicos também serão”, prevê o vice-presidente da empresa para a América Latina, Guilherme Ribenboim (veja quadro). Nos seis meses anteriores à Copa do Mundo, o Twitter fez mais de 60 workshops, resultando que 85% dos patrocinadores do Mundial ou da seleção brasileira incluíram o microblog em suas campanhas durante o torneio.
No projeto olímpico, a primeira atividade foi um encontro de dois dias na sede do Twitter, na Califórnia, no início deste ano, com as equipes de marketing das marcas parceiras e das agências que as atendem. A ideia era discutir os objetivos de cada uma e como o microblog pode ser usado para atingi-lo. O trabalho continua no Brasil e a previsão é de que, mais próximo da Olimpíada, outras empresas também procurem o Twitter. Mas, para essas, a oferta deverá ser mais como plataforma de mídia do que de estratégia.
Youtubers em campo
O projeto do Google foi lançado no final de agosto e ganhou o nome “O Brasil inteiro joga”. É patrocinado por Visa, Nissan, Claro e Skol — não por acaso, marcas que também apoiam a Rio 2016. A iniciativa começou com parceria nos canais populares no YouTube, que se destacam entre a multidão de vloggers do site de vídeos e passaram a incluir a pauta de esporte em suas produções.
Foram escalados youtubers conhecidos, como Ana Maria Brogui, Invento na Hora, Manual do Mundo, Niina Secrets, Você Sabia? e Xafurdaria, que publicam um vídeo com algum assunto relacionado a esportes olímpicos uma vez por semana. Em comum eles têm o fato de terem mais de um milhão de inscritos cada e de não estarem associados a temas esportivos — a ideia é exatamente fazer com que cada canal aborde o esporte por ângulos inusitados, como gastronomia, beleza e ciência.
No projeto, os patrocinadores fazem uso das bumper ads, novo formato de vinheta de cinco segundos que a plataforma oferece aos seus parceiros. O Google já adiantou que vai contar ainda com games de todas as 42 modalidades esportivas. O projeto estreará em janeiro sua segunda fase, focada em serviço e entretenimento, tendo o Google Maps como base.
“A segunda tela não é mais segunda, é concomitante. Twitter, Periscope, Snapchat, vão ajudar a ter montes de telas para a gente ver tudo, de todos os ângulos. O arsenal de ferramentas à disposição dará um milhão de alternativas para as pessoas seguirem a Olimpíada do jeito que elas quiserem”, aponta Renata Bokel, da Isobar. Com tudo isso, só vai ter que fazer força quem quiser ficar de fora. Alguém?
Guerrilha digital
Para ajudar um de seus clientes, a Samsung (patrocinadora oficial) a sentir como está o espírito do brasileiro com relação à Olimpíada, a Isobar fez uma pesquisa com 700 pessoas entre 19 e 29 anos. E acabou descobrindo que os millennials deverão acompanhar as competições de forma mais intensa do que se esperava. Entre os eventos atuais, a Olimpíada (com 52%) só perde em nível de interesse para a Copa do Mundo (57%) e fica à frente do Rock in Rio (47%). Em relação aos esportes olímpicos, ginástica (37%), futebol (36%) e natação (30%) são as modalidades favoritas.
A tendência é que, daqui para frente, com as ativações dos patrocinadores aumentando de intensidade, o nível de interesse do público só cresça e o volume das conversas aumente. As marcas, é claro, não vão querer ficar de fora, mesmo as que não são patrocinadoras ou apoiadoras dos Jogos Olímpicos. Mas não será fácil achar uma brecha para participar da festa: as regras do Comitê Olímpico Internacional são ainda mais rigorosas que as da Fifa. A ponto de os atletas, seus nomes, imagens e performances esportivas não poderem ser usados para fins publicitários durante o período dos Jogos, nem por seus patrocinadores pessoais.
A vigilância do COI apertou principalmente após Londres 2012, quando a fabricante de fones de ouvido Beats lançou a ação Show Your Color. Atletas de várias modalidades usaram fones de ouvido customizados com as cores das bandeiras de seus países ao se apresentar para as provas. Uma ação nas redes sociais convidava os jovens a postar e compartilhar uma foto sua com os fones Beats e uma palavra que descrevesse sua personalidade, como “louco” ou “autêntico”. Além da participação de mais de 25 mil pessoas, o buzz foi geral e virou notícia até na TV.
Isso acendeu a luz de alerta no COI, que passou a monitorar com mais atenção o uso indevido das marcas olímpicas nas redes sociais. “Mesmo que não se possa falar do evento ou dos atletas, o que poderia ser considerado ambush marketing, dá para celebrar o orgulho brasileiro, a torcida, que foi o caminho trilhado na Copa”, aponta Gabriel Borges, CEO da Ampfy, especializada em mídias sociais.
A W3Haus está estudando com cuidado as regras do COI para encontrar um terreno que possa ser explorado por seus clientes, nenhum deles detentor de cotas de patrocínio. O plano é criar uma série de conteúdos com antecedência, que possam ser acionados (ou alterados) de acordo com os acontecimentos, conforme explica a diretora de conteúdo, Larissa Magrisso. “A conversa sobre Olimpíada será forte, mas a estratégia tem de ser mais sobre como driblar as restrições. Não definimos ainda se teremos um war room, mas haverá pessoas dedicadas a esse trabalho, com monitoramento em tempo real das principais conversas”, assegura.
No mais, é lembrar que as pessoas estão à procura de conteúdos que sejam relevantes, venham eles de um amigo ou de uma empresa, lembra Maria Luisa López, do Facebook. O importante é as marcas encontrarem seu tom de voz quando estão falando num grande evento. “Não é loucura usar real time marketing se não for patrocinador. A Fiat não era patrocinadora da Copa e foi bem lembrada com o Vem pra Rua. Se você contar uma boa história, vai se destacar”, argumenta Renata Bokel, da Isobar.
Compartilhe
Veja também
Comitê Paralímpico Brasileiro dará nome à estação Jabaquara
Iniciativa do Governo do Estado de São Paulo visa homenagear os atletas paralímpicos brasileiros e escolhe estação próxima ao Centro de Treinamento
Asics venderá apenas um pé de tênis para pessoas com deficiência
Patrocinadora do Comitê Paralímpico Brasileiro, marca comercializará um dos lados do par de calçado para pessoas com deficiência ou amputação na perna