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2020, o ano em que a Terra parou

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Opinião

2020, o ano em que a Terra parou

Tempo de praga dupla; não só a nossa, instalada, mas a do mundo todo; com o freio de arrumação bruscamente puxado, fomos para casa de volta ao ninho, abraçados com a família


8 de dezembro de 2020 - 13h25

(Crédito: Reprodução)

Nós embarcamos de volta ao futuro, como num túnel do tempo. Tempo de praga dupla; não só a nossa instalada, mas a do mundo todo. Com o freio de arrumação bruscamente puxado, fomos para casa de volta pro ninho, abraçados com a família. A mídia foi fundamental e cumpriu, praticamente, o papel da escola. A TV e o rádio, pelos canais de notícia, ganharam relevância. A impressa foi mais fundo e apontou os caminhos a seguir. A mídia digital, para os que já tinham acesso e aos que aderiram, veio para o primeiro plano e mudou de patamar. Novas experiências de vida, de volta para casa, de levar trabalho para lá e não mais sair. De ajudar os filhos nas lições de casa, de proteger os mais velhos e de reforçar como isso é importante. De não perder mais tempo entre idas e vindas. De criar vínculos por home-office em infinidades de calls, zooms e zaps. Tempo de streamings, podcasts, deliveries e muita mudança. Sacrifício maior dos pobres, sem outras opções de renda, transporte e mobilidade. O auxílio emergencial,  mesmo limitado, serviu de boia para milhões de desesperados, até então invisíveis.

Nesse tempo fora de tempo era tanta fumaça exposta, com máscara ou sem, que vimos a terra nascer plana, florestas arderem por dentro, pessoas tomarem veneno comandados por uma horda ensandecida de fanáticos e incompetentes em luta contra o conhecimento. Ano em que o mundo, descobriu um outro Brasil. Um Brasil que mostra a sua cara e que ainda não se sabe quem é que paga para gente ficar assim. Não mais admirado pelas artes, esportes, simpatia, tolerância, natureza, criatividade e miscigenação; mas agora, taxado como “maricas” , convive com trevas, preconceitos e privilégios sem fim.

Os elefantes e as formiguinhas

Cresce a resistência às big techs na Europa, Austrália e até nos EUA. Questionam fuga de impostos, domínio cartelizado da busca, frágil combate às fake news e discursos de ódio e concorrência desleal de outros veículos de mídia. Isso gerou um forte boicote de importantes anunciantes globais. São dilemas dos novos tempos. O digital consegue desintermediar modelos e até as acomodações históricas. Mas tão centralizados como são, viram também pontos de incômodos e de novos privilégios. Novas negociações para criar limites de concentração e de pagar melhor pelo uso das notícias podem criar um modelo mais sustentável.

O campo da audiência

Há tempos não havia um esporte tão descentralizado. A crise da pandemia foi determinante, como também um presidente brasileiro vingativo, incentivando a mudança nos direitos dos jogos. A Globo desistiu da Libertadores, do Campeonato Carioca e chegou até a ficar de fora de um jogo da seleção brasileira. Com isso, “renasceram” o SBT (com a Libertadores), a Band (com Feminino e alguns europeus) e a propria Disney, consolidando a integração da ESPN com a Fox. A maior contenda está entre a Globo e o grupo Warner Media, que já dividia parte do Campeonato Brasileiro, tem um forte portal EI (Esporte Interativo) e que avançou também nos direitos das Eliminatórias da Copa em países latinos.

Mediacare

A fase mais dura da pandemia, sem a mínima coordenação ou sensibilidade de nosso governo federal, exigiu uma maturidade e uma admirável solidariedade da sociedade brasileira. Boa parte ficou em casa e respeitou os protocolos. A mídia teve papel importante nisso, mantendo a calma e passando muita orientação. Entre as ações elogiosas que notei, estão a divulgação no Jornal Nacional  das doações das empresas, a Band News FM promovendo pequenos serviços de entrega, a JC Decaux e a Ótima com mensagens de cuidado para os que estavam nas ruas e veículos de notícias que abriram as suas assinaturas a todos que queriam se informar sobre a pandemia.

Fora da ordem

A pandemia nos obrigou a mudar o padrão de vida. As pessoas saíram dos escritórios, casas foram revalorizadas, home-offices se provaram eficientes, não mais como necessidade, mas por preferência. A maioria das viagens corporativas eram dispensáveis, muita economia se fez e estragos também. Tudo o que podia ser feito por distância foi valorizado. Nessa ampliação do digital em nosso dia a dia, espaços no litoral e campo foram mais ocupados, distribuindo melhor o consumo pelo país e trazendo novas oportunidades de mídia. Vale lembrar que facilitar o acesso à Internet pelo país, é uma forma de dar oportunidades para todos, investir em educação e de combater as desigualdades.

Black jobs matter 

Ano em que as marcas evoluíram e, junto com a mídia, acordaram para questões sociais de raça, gênero, religião e passaram a buscar os seus propósitos. Tempos de reação das empresas, portando-se como gente responsável, com ações voluntárias contra a pandemia, para dar esperanças frente a um país muito desigual. Reflexos de maturidade na comunicação, com propagandas menos estereotipadas, maior presença de negros, valorização de mulheres, LGBT+ e outros tipos de família. Um destaque vai para a Magalu, ou Magazine Luiza, que priorizou a contratação de negros. E, acredite, teve gente contra.

Quem lê tanta notícia

Uma das boas novas do ano foi a chegada da CNN Brasil, muito bem feita tecnicamente e com bons talentos, inclusive da sua principal concorrente, como o Márcio Gomes, William Waack etc. A GloboNews, líder no segmento, reagiu bem com uma Globo mais integrada e forte presença nacional. Como de hábito, numa disputa de alto nível como essa, quem ganhou foi o telespectador e o mercado anunciante.

Mídia 360 graus

O Grupo de Mídia de São Paulo, com mais de 50 anos de história, abriu as portas para profissionais além de Agências, como Anunciantes, Veículos e Fornecedores. É um passo importante para uma visão mais holística da função, numa época em que pessoas, grupos e empresas querem criar a sua própria expressão.

Que país é esse?

Ano em que as empresas de varejo assumiram um papel de liderança, pois previram a mudança digital e, felizmente, se prepararam para esse tempo de praga. São elas que colocam o leite das crianças na porta, garantem que o produto chegue em tempo e quem, tomara, vai garantir a logística quando for necessário  distribuir as vacinas. O nosso país é grande demais e tem uma população enorme para ser incorporada à sociedade, ao consumo e aos direitos fundamentais. Quando iremos parar de olhar só para o passado e começar discutir o crescimento do país, aumentando a produção e incorporando mais segmentos de trabalhadores e de consumidores?

A conferir em 2021: Com tantos novos streamings (Disney +, Pluto TV, Roku, além de Amazon, GloboPlay, Netflix etc.), como ficará o bolso do consumidor e quem liderará? Vai ocorrer uma  maior abertura do mercado de comunicação para investidores internacionais? E quando o rádio vai trabalhar o seu potencial enquanto meio?

Um melhor ano a todos, que seja o ano da virada e beijos nas crianças!

*Crédito da foto no topo: iStock

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