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Opinião

A busca da oferta perfeita

Para a maioria dos mercados e segmentos, as premissas e regras continuam basicamente as mesmas, mas o jogo, definitivamente, mudou de campo


6 de junho de 2016 - 11h00

Redação da Fluir, no final dos anos 1990. Na foto, estão: Kate Souza, Walter Garrote, Luciano Ferrero, Adrian Kojin, Paulo Costa e eu, em pé, mandando um “joia”. Faltou o ilustre Ernani Mesquita.

Redação da Fluir, no final dos anos 1990. Na foto, estão: Kate Souza, Walter Garrote, Luciano Ferrero, Adrian Kojin, Paulo Costa e eu, em pé, mandando um “joia”. Faltou o ilustre Ernani Mesquita.

Um dos títulos impressos mais longevos do País foi oficialmente encerrado no final de maio. Após 32 anos de edições con­tínuas e símbolo da força dos veículos segmentados, a revista Fluir, especializada em surf, deixará de ser publicada. À primeira vista, nada mais paradoxal, pois o esporte que era a razão de Fluir existir finalmente ganhou as massas e está no auge históri­co de sua popularidade.

As razões da derrocada ficam mais cla­ras logo no segundo parágrafo desta aná­lise — e dizem respeito a um universo muito mais amplo. A nova audiência in­teressada nas ondas e em seus ídolos en­xerga valor em entregas que as revistas de surf não foram capazes de equiparar em relação às novas plataformas concorren­tes que surgiram. Por décadas, as revis­tas foram a fonte primordial de informa­ção e inspiração, motivando seus leitores a aguardarem ansiosamente por longos 30 dias até a edição seguinte, para confe­rirem as mais belas imagens das viagens em busca dos picos perfeitos e dos cam­peonatos do circuito mundial. Hoje, tudo isso está ao alcance de um click no smartphone ou mouse mais próximo, em telas e plataformas ativas e interativas, seja nos programas do canal Off, no app da World Surf League ou nas coberturas da ESPN. Os dilemas das revistas de surf são si­milares aos de todas as revistas, dos mais diferentes temas e tribos, especialmente as de entretenimento e esportes, cujo públi­co-­alvo sempre foram os mais jovens, para os quais o apelo dos vídeos e dos eventos ao vivo fala ainda mais alto. Veja as publi­cações de música. E as de futebol? Nunca o esporte mais popular do planeta movimen­tou tanto dinheiro. Mas os veículos perió­dicos que se dispõem a retratar o mundo da bola já tiveram dias melhores em ter­mos de receitas, tiragens e influência, co­mo as britânicas World Soccer e Four Four Two, a francesa France Football e a nossa estimada Placar.

Tanto sob o aspecto comercial quan­to aspiracional, porém, é preciso esten­der os desafios das revistas a toda mídia impressa, que fez fama e fortuna em uma época na qual a força da oralidade tinha papel fundamental na divulgação dos fa­tos e fomentação de heróis — um cenário no qual a visão do especialista era ingre­diente singular na formação de opinião. Muito da mitologia em torno de grandes estrelas da música e do futebol foi cons­truído dessa maneira. Quantos dos lances épicos de Pelé foram narrados de um tor­cedor para outro, que, mesmo sem nunca ter assistido a alguns de seus mais belos gols (pois as transmissões pela TV eram artigo escasso), era capaz de descrevê-­los de cor e salteado? É uma realidade bem diferente da encarada pela geração que idolatra Messi, Neymar e Cristiano Ronal­do, cujas grandes jogadas são comparti­lhadas, por milhões, em vídeos cheios de detalhes e ângulos diferentes.

Um recente memorando da direção do New York Times para a equipe do jornal dei xa ainda mais explícito que o elo perdido desta evolução é, sem dúvida, a migração para uma oferta adequada às plataformas digitais. A queda nas barreiras de entra­da mudou completamente o ambiente de negócios e os hábitos de consumo de mí­dia. A concorrência passou, então, a surgir de todos os lados — inclusive dos próprios protagonistas das páginas desses veículos (esportistas, artistas, políticos…) que por meio das redes sociais abriram um canal de contato direto com o público interessa­do em seus próximos passos. Com a pro­posta de conceber a redação do futuro de um jornal, o documento do NYT impõe a seus colaboradores o fim das coberturas comoditizadas e estabelece o vídeo como a linguagem mais apropriada para atrair e reter a atenção dos leitores.

Abrindo ainda mais o leque, a essência a mover tais transformações alcança, en­fim, um número muito maior de merca­dos, nos quais as premissas e regras conti­nuam basicamente as mesmas, mas o jogo definitivamente mudou de campo. Como no caso daquela velha pergunta que todo mundo já ouviu um dia, em alguma pa­lestra: se a Blockbuster dominava o alu­guel de filmes para consumo doméstico, não seria a empresa mais indicada a in­vestir primeiro nos serviços de vídeo on demand? Pensando bem, não é uma on­da muito diferente daquela que as marcas precisam aprender a surfar hoje em dia: a da oferta perfeita para o consumidor con­temporâneo — e, sob essa ótica, recomen­do a leitura da reportagem assinada por Luiz Gustavo Pacete e Roseani Rocha, pu­blicada a partir da página 18, e do artigo da vice­presidente para a América Latina da WGSN, Letícia Abraham, à página 20.

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