A IA não pensa; ela calcula
É importante também entender o que a tecnologia não é, já que muita gente a encara quase de uma forma mística
É importante também entender o que a tecnologia não é, já que muita gente a encara quase de uma forma mística
Entender como funcionam os modelos de linguagem é fundamental para usá-los com inteligência e não cair na armadilha e no vício de só ouvir o que já concordamos.
Em um papo gostoso hoje com minha filha, uma millennial quase Gen Z, discutimos um pouco sobre as IAs, seus usos, para que servem etc. E a partir disso me aprofundei nessa reflexão. Claro que dentro do atual estágio de desenvolvimento da tecnologia e sem grandes elucubrações futurísticas tentando antever tudo o que pode (e vai) mudar em breve. Muito breve.
Muita gente fala sobre inteligência artificial quase de forma mística, como se fosse uma entidade mágica. Mas está na hora de tirar esse manto e olhar de frente para o que ela é: um sistema estatístico altamente treinado. E, talvez mais importante, entender o que ela não é.
Venho estudando IA há bastante tempo e, nos últimos anos, mergulhei fundo no funcionamento dos LLMs (Large Language Models), as tecnologias por trás dos chats que finalmente colocaram a IA no front end da experiência online. Esses modelos estatísticos sofisticados, alimentados por bilhões de simulações, fazem algo muito parecido com o que nosso cérebro faz: tentam prever a próxima palavra dentro de um contexto. Simples assim.
A diferença está no porquê.
Enquanto nós usamos vivências, experiências e aprendizados para construir sentido e buscar evolução, os LLMs operam em outra lógica. Eles foram treinados com volumes imensos de dados para prever a próxima palavra de maneira probabilística — mas com um objetivo claro: manter você engajado.
Porque engajamento é a moeda da internet. Meta, Google, Amazon — e agora a IA generativa — todos operam sob essa lógica.
O foco não é te ensinar, nem te transformar, mas fazer com que você continue ali: conversando, clicando, consumindo. Isso significa que a IA não está exatamente “te dizendo a real, a verdade”. Ela vai te dizer o que aprendeu que você quer ouvir.
E sejamos honestos: a IA aprendeu com a gente mesmo. Porque nosso cérebro faz algo bem parecido. Ele evita o desconforto. Busca a confirmação. Economiza energia o tempo todo. A diferença é que, ao contrário do cérebro, os modelos não têm um sistema interno de valores, intuição ou propósito — só parâmetros matemáticos.
Mesmo quando parece haver debate, há um limite invisível e um propósito claro: a IA vai discutir com você apenas dentro da sua zona de conforto. Ela não vai propor um ponto de vista que te tire o chão, que te provoque a repensar a base da sua opinião. E isso é um problema, porque o crescimento real — pessoal, intelectual ou criativo — raramente nasce da confirmação. Ele vem do atrito, da discussão às vezes até exacerbada de pontos opostos, da ausência do espaço seguro, do desconforto. Ou seja: da busca real por transformação e reforma íntima.
Se quisermos, de fato, extrair valor da inteligência artificial, precisamos entender que ela não é um oráculo. É uma máquina de previsão — que até ajuda muito a organizar o que você já sabe, de alguma forma. E se tudo o que ela faz é prever o que queremos ouvir… é sempre bom escutar outras vozes. Vozes humanas. Vozes reais.
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