Cáng lóng wò hu
Embora a indústria brasileira já saiba, precisamos lembrar que modelos mentais devem ser constantemente desconstruídos para evoluirmos
Embora a indústria brasileira já saiba, precisamos lembrar que modelos mentais devem ser constantemente desconstruídos para evoluirmos
Durante décadas, a indústria de comunicação atuou seguindo uma série de modelos mentais que padronizaram não só o trabalho que colocávamos nas ruas como o nosso modus operandis. Hoje, porém, romper arquétipos preestabelecidos e representar uma pluralidade de perfis que nos apresentam novas lógicas e realidades se tornou uma das principais pautas das agências.
Nunca se falou tanto sobre diversidade. Diversidade de talentos. De experiências, habilidades e personalidades. Houve um tempo em que apenas uma agência com sede bonita, clientes que permaneciam uma década em seus portfólios e criativos persuasivos eram suficientes para garantir o seu crescimento. Agora, marcas e colaboradores querem mais.
Querem respirar culturas que encorajem paixão, confiança, vulnerabilidade e honestidade. As pessoas almejam que a sua visão sobre o futuro e a de seu CEO sejam convergentes. Desejam entender claramente qual é o seu ponto de diferenciação em relação ao mercado.
Mas como a indústria pode atrair talentos diferentes quando tão pouco é dito sobre os reais diferenciais competitivos de cada player e quando continuamos a ver repetidamente os mesmos modelos mentais sendo aplicados? Estamos abertos o suficiente para sair da zona de conforto e reconhecer pessoas que não são o status quo, abrindo espaço para que elas expressem a sua essência mesmo quando isso nos lança em um lugar desconhecido?
Para que possamos responder a essas perguntas e criar ambientes realmente transformadores e plurais, que permitam o florescer de personalidades únicas e desafiadoras, precisamos olhar para o próprio umbigo e refletir sobre alguns pontos. O primeiro deles é que talvez a nossa indústria esteja colocando muita energia e foco no lugar errado: na “mecânica” do negócio e na “engenharia” da solução dos problemas — justamente no que não é inspirador nem motivador. Existe uma oportunidade colossal para voltarmos às raízes do que fazemos melhor e centrar esforços novamente no poder das ideias.
O segundo desafio é estarmos alertas e conscientes de que todo e qualquer crescimento ou disrupção gera complexidade, mas lidar com esse cenário requer extrema simplicidade. O terceiro está ligado a fazermos mais perguntas que se iniciem com uma suposição do tipo “e se…”. Esses “e se…” não são sobre testar novas soluções ou atitudes. Mas, sim, sobre romper com convenções e pensar além dos padrões.
Por último, organizações de sucesso mantêm a curiosidade como um dos pilares centrais de seus negócios. Como podemos nos assegurar que ela seja uma força motriz para nos tirar do “jogo da conformidade” na nova era da comunicação? Quais são as barreiras que precisam ser rompidas e os ambientes que precisam ser criados para que a curiosidade prospere?
Tive o privilégio de trabalhar por muitos anos na Ásia e isso fez com que eu aprendesse a conviver com o sentimento de “estrangeirismo”. Nem sempre era fácil. Mas, na maior parte do tempo, eu percebia uma naturalidade das pessoas ao meu redor diante do novo. E isso fazia com que cada um de nós se sentisse confortável para expressar a sua individualidade e contribuir para o trabalho de forma única.
Quando estava por lá, uma das expressões que rapidamente aprendi foi “Cáng lóng wò hu”, uma lição de humildade que significa simplesmente: “Pessoas ao seu redor podem ter mais habilidades do que você”. Embora a indústria brasileira já saiba, e tenha movimentos claros rumo à formação de um ambiente mais diverso, precisamos nos lembrar de que modelos mentais devem ser constantemente desconstruídos para evoluirmos. Isso não se faz de uma vez só e exige esforços constantes de todos nós que, em um ambiente tão competitivo, muitas vezes deixamos de olhar para o lado e reconhecer a contribuição que outra pessoa tem a oferecer.
*Crédito da foto no topo: Reprodução
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