Comunicação sem estresse

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Opinião

Comunicação sem estresse

Mensagens e ligações têm se tornado vilãs do equilíbrio emocional de muitas pessoas no mundo corporativo


15 de setembro de 2022 - 6h06

(Créditos: Shutterstock)

Você é daquelas pessoas que começa a suar só de ouvir o som da notificação do whatsapp, imaginando ser alguém do trabalho? Tem crise de ansiedade quando recebe o e-mail da reunião semanal com a diretoria? Chega a ter dor de barriga quando vê a carinha do seu chefe no monitor do celular quando ele te liga? Se a resposta for algo parecido com as descrições acima, atenção: algo precisa ser revisto nessa comunicação.

É inegável que as tecnologias trouxeram mais praticidade e agilidade na troca de informação. Porém, mensagens e ligações têm se tornado vilãs do equilíbrio emocional de muitas pessoas no mundo corporativo, além de ser um grande distrativo quando precisamos manter o foco e a presença em alguma atividade importante. Para tornar essa equação mais difícil, o home office acabou com boa parte daquela ida direta à mesa do colega para conversas cara a cara, aquela pausa para o cafezinho que ajudava a esclarecer uma ou outra dúvida que não ficou clara na reunião, entre outras situações que um minuto de conversa pessoalmente poderia resolver mais facilmente.

Tudo passou a ser muito mais objetivo, direto e impessoal, além de muitas vezes superficial e confuso, desafiando a nossa cultura latina que valoriza a proximidade nas relações. E, aí, quando a interação entre pessoas passa a ser ignorada ou menosprezada, essa praticidade e objetividade podem se tornar mais um problema do que facilitadores, nos impedindo de estabelecer boas conexões, uma comunicação clara e eficiente e, consequentemente, gerando mais ansiedade e estresse no contato com os nossos colegas.

Como menciona Simon Sinek, uma das maiores referências em liderança, existe um campo de segurança e confiança que une as relações, mesmo que seja profissional. Dentro desse campo, dois fatores são fundamentais: a empatia e a honestidade. Sentir que a outra pessoa está verdadeiramente te ouvindo e saber que ela vai se expressar de forma honesta desperta, naturalmente, a confiança na relação. Algo que a comunicação não violenta, ou mais popularmente a CNV, estuda em profundidade.

Segundo seu autor, Marshal Rosenberg, o objetivo da CNV é proporcionar uma cultura de colaboração e empatia para que possamos construir relações mais autênticas e verdadeiras. Vale deixar claro que CNV não se trata de falar baixinho ou falar de modo fofinho, seja presencialmente, seja com emojis de carinhas alegres por meios digitais. Há que seja extremamente agressivo falando em tom de voz quase inaudível. Comunicação não violenta se dá quando estabelecemos uma conversa baseada em observação dos fatos sem julgamentos, quando identificamos o sentimento verdadeiro que uma mensagem nos toca e que tipo de pedido esse sentimento requer que se faça para se estabelecer uma relação empática e honesta com o outro.

A mensagem de whatsapp curtinha, meio truncada comentando sobre os resultados ruins de vendas sem mais explicações nem sempre se traduz em um chefe nervoso. Um colaborador que chega atrasado ou que parece disperso não precisa de gritos ou ameaças para estar mais cedo no trabalho. Um e-mail fora de hora convocando uma reunião urgente quando a pessoa já tinha outra programada com o cliente nem sempre exige mudança na agenda para atendê-lo. Ou talvez precise, mas é necessário ver os fatos como são, sem achismos ou conjecturas. E com base no que é real, entender como aquela mensagem te afeta, estruturar e organizar os sentimentos para a partir daí saber qual o próximo passo para uma comunicação mais efetiva.

Vamos imaginar exemplos de respostas para as mensagens acima? “Fulano, a sua mensagem agora há pouco não ficou clara para mim. Quer conversar mais detalhadamente sobre os resultados de vendas? Posso apresentar o relatório completo para você”; “Sicrano, você chegou atrasado esta semana todos os dias. Está com algum problema? Preciso que esteja aqui no horário que foi acordado no dia da sua contratação. Posso contar com isso?”; “Beltrano, recebi o seu e-mail e me parece que precisa falar comigo com urgência. Poderia me confirmar? Como já tinha uma reunião com um cliente importante queria checar com você antes de desmarcar com ele”.

E, assim, a cada mensagem, em um exercício constante de observar sem achar o outro isso ou aquilo, sem colocar os colaboradores em estado diário de tensão e ansiedade, sem medo de sugerir algo diferente do que o seu chefe pediu, cada um se comprometendo com seus próprios sentimentos e com a necessidade de resposta que eles te pedem, criar o hábito de dialogar com honestidade, tranquilidade, assertividade e sem medo de punição.

Relações profissionais que são construídas com essa base naturalmente criam um campo de segurança e confiança entre as pessoas. E, assim, trocas de mensagens ou ligações passam a ser interações naturais e acolhedoras em qualquer ambiente, inclusive no corporativo, seja presencialmente ou digitalmente.

O cuidado com as relações que a CNV tanto preza tem impacto direto na cultura da empresa, na sensação de pertencimento dos colaboradores e nas famílias destes colaboradores. E colaboradores que se sentem em um ambiente de segurança levam esse cuidado nas relações com os clientes, impactando, por sua vez, nos resultados da companhia e, de forma mais ampla, na sociedade que estamos construindo.

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