Em tempo
Uma reflexão sobre este começo de ano e o que esperamos de novos ciclos
Todo começo de ano, ou até no fim do ano anterior numa tentativa de capturar mais leitores, quem trabalha com marcas, em suas diversas áreas, já conhece o cenário: uma chuva de relatórios de tendências de todas as fontes possíveis. São materiais nacionais, internacionais, traduzidos, adaptados—um volume imenso, cada um trazendo suas perspectivas sobre o que esperar e quais oportunidades podem surgir no novo ciclo.
A partir daí, certas análises começam a reverberar e, inevitavelmente, os mesmos temas passam a ecoar entre nossos analistas favoritos. Eles aparecem nas newsletters, nos perfis das redes sociais e nos tradicionais textões do LinkedIn. Até aqui, nada de novo.
Neste começo de 2025, entrei o ano ainda tão imersa em um 2024 intenso—tão desafiador e marcante que janeiro parecia apenas uma continuação, um 2024 barra 2. Com essa sensação de transição arrastada, tudo o que eu queria era desconectar: estar menos nas redes, mais presente com as pessoas que gosto, mais conectada ao agora. Quis falar menos sobre o que penso, criar menos expectativas, fazer menos barulho, ter menos listas… menos de tudo.
E qual não foi a minha surpresa ao ler a newsletter da Bia, da Bits to Brands, e encontrar justamente essa ideia: a tendência de desconectar depois de um período de hiperconexão nas redes. E de tudo o que tenho lido, duas tendências ressoaram profundamente com essa minha sensação pessoal.
A primeira, chamada The Analog Movement (ou Movimento Analógico), do relatório The Future 100, fala sobre como nossa hiperconexão e exposição excessiva às telas nos levou à beira do burnout, impulsionando um contramovimento em busca do desconectar—valorizando interações pessoais e uma reconexão com a natureza.
A segunda, Sensescaping (ou Escapada Sensorial), da TrendWatching, reforça essa tendência, mas acrescenta uma nova camada: a busca pelo autoconhecimento por meio de experiências imersivas e sensoriais individualizadas.
Essas duas perspectivas, unidas, me levaram a uma reflexão sobre a necessidade de (re)conexão com os outros e com nós mesmos, e como essa jornada também passa pelo sensorial, trazendo uma dimensão importante sobre expectativas de experiências.
Depois disso tudo, dois pensamentos se desdobraram: não estou só (na verdade, quase nunca estamos) e mas se todo mundo tá assim, o que resta para as marcas que recorrem às redes para tentar estabelecer conexão?
Minha resposta é curta: não sei. E, sinceramente, nem tenho a pretensão de oferecer uma resposta rápida para essa questão. Inclusive, muitos nem concordaram com esse cenário como sendo algo realmente relevante. E tudo bem, afinal nossa área não trabalha com respostas certas, mas com intenções certas, com momento certo…
Diante disso, voltei meu pensamento sobre nossa humanidade e nossa necessidade de pertencimento. Quem trabalha ou trabalhou comigo já me ouviu falar sobre esse conceito que nos é tão basal e é tão poderoso para nossa existência como espécie. Para pertencer é preciso um olhar atento e humano.
Não é sobre ser autocentrado, de exaltar nossa marca e dizer como somos incríveis (inclusive, já faz tempo que essa não é uma fórmula lá muito válida), e sim sobre reconhecermos no outro algo que também nos é importante e que podemos, de fato, construir conexões genuínas e significativas, que façam sentido para todos os lados.
Muito dito, pouco simples.
Talvez, diante desse início de ano caótico, o melhor convite seja darmos aquele passinho para trás. Desconectar um pouco e tentar olhar além das telas e resgatar a conexão humano a humano (H2H, como muitos já chamam). Buscar interações genuínas — que, aliás, nem sempre precisam acontecer online.