6 de agosto de 2018 - 12h34
Escrevi um texto para esta coluna, reli e não fez muito sentido. De alguma forma soou repetitivo ou como se eu estivesse tateando apenas a superfície de um assunto no qual não quero mais entrar. Busquei outros temas. Pensei no mais óbvio: o menino Neymar e a estranheza que senti em todos os jogos. A equipe pronta para entrar em campo, e ele chegando por último, com um intervalo quase calculado. Poderia fazer uma relação com as estrelas mimadas que já vi e o estrago silencioso que isso causa aos que estão ao redor, mas pareceu mais do mesmo. Sobre o comercial de desculpas, há muito já falado.
(Crédito: PicJumbo/Pexels)
Lembrei, então, do último artigo do Pyr Marcondes, especificamente deste trecho: “Criatividade? Bem, amigos, no dia em que não houver criatividade nesta indústria, ela deixa de ser esta indústria.” Discordo da afirmação porque tem muita gente, mas muita mesmo, que não está nem aí para a criatividade, que simplesmente executa fórmulas e, ainda assim, ganha uma fortuna. Sem falar dos profetas escondidos atrás de jargões inventados de marketing e cargos com pouco sentido. Sei lá, deu preguiça de comprar mais essa discussão e isso me levou a um lugar que eu já visitava em pensamentos esporádicos. Nesse lugar, eu não escrevo mais esta coluna, dou um tempo. Resolvi ficar por lá.
Em um mercado em que muitos têm um posicionamento que lembra aquele slogan do melhor hambúrguer do mundo, a melhor pizzaria da cidade, o mais qualquer coisa, certo questionamento soou como um jeito de escrever. O discurso engessado ou muito ensaiado e a metáfora exaustivamente repetida que diz “propaganda não é corrida de 100 metros” nunca me apeteceram.
Escrevo porque não sei desenhar. Às vezes, sai uma caricatura; outras vezes, um traço simplório; em algumas delas, o realismo. Em todas, preciso colocar no papel. Nesse tempo de Meio & Mensagem, algumas colunas ficaram guardadas em arquivos com senha, mas tirei da cabeça, expurguei. Sou grato aos meus sócios por serem diretos quando eu mais precisava e resilientes na blindagem, mais grato ainda à minha esposa, a Peu, que disse que a decisão de parar faz valer os cabelos brancos.
Em um espaço cedido, há de se pisar com o respeito a quem lhe faz a gentileza. Há uma linha bem fininha que devemos tentar não cruzar. É óbvio que, ao expor meu pensamento, estou a vender o que acredito. Mas daí a nomear o que a minha agência fez ou faz, os cases dos quais participei, os feitos pretensamente heroicos, elogiar cliente em meio à concorrência, há um abismo enorme e já preenchido, com louvor, nesse mercado. Da editoria do Meio & Mensagem, tive um campo aberto, mas tentei ficar na faixa que me cabia. Não muito na sombra nem muito no sol. Tenho cá para mim que eles receberam algumas ligações indignadas e seguraram a bronca. Coisas que só em uma mesa de bar, daqui uns dez anos, poderão revelar. Não por isso, agradeço ao Salles Neto e ao Marcelo Gomes pela confiança, a Regina Augusto pelo início da jornada, ao Ale Zaghi Lemos pelo convite e insistência delicada (você bem sabe que resisti a ocupar essas linhas), a Eliane Nunes pela compreensão (desculpe-me por entregar os artigos em cima do laço) e ao Jonas pela sinceridade e por entender que eu precisava desse tempo.
Saio deste espaço pela intuição de que era o momento e pelo receio de me repetir. Saio porque há gente demais com muitas certezas, e eu resolvi valorizar as minhas dúvidas. Se nesse tempo eu não aprender a desenhar, volto a escrever. Foi um prazer.
*Crédito da foto no topo: Pixabay/Pexels