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Opinião

Fandom: o poder das novas relações entre ídolos e fãs

Os fandoms movem montanhas e as marcas podem ganhar muito por entender esse fenômeno cultural


21 de maio de 2021 - 6h00

Para quem nunca ouviu falar sobre fandom, essa é uma boa hora para prestar atenção a esse fenômeno que se manifesta como uma das maiores forças culturais da atualidade.

Os fandoms são comunidades que gravitam em torno de uma peça central, que pode ser um influenciador, um cantor, uma marca, ou qualquer outro ícone que consiga juntar fãs em torno de si. Nesses grupos de pessoas, são compartilhadas diversas questões em comum: interesses, valores, hábitos e comportamentos.

Os fandoms carregam uma ideia de autenticidade e engajamento e para explicar esse fenômeno é preciso entender que ele nasceu dos moldes dos fã-clubes vistos até os anos 2000. Esse é o nosso ponto de partida, mas o conceito vai além da relação de admiração e carinho entre ídolo e fã. Existem diferenças grandes entre cada um deles.

Para ilustrar essas diferenças, um exemplo. Lembro da febre que foi o surgimento do grupo mexicano Rebeldes, há mais de dez anos. Foi um grande estouro e também um bom exemplo do que era um fã-clube à moda antiga. Mas o ponto aqui não é a admiração dos fãs pelos ídolos, e sim a forma como essa relação se organizava. Era uma dinâmica hierárquica, em que a narrativa e o ritmo da relação vinham do ícone, enquanto os fãs só absorviam.

O fandom é uma evolução disso e traz muitas características que já eram conhecidas, mas tem uma dinâmica própria. Trata-se de um fenômeno que só existe graças a um mundo em que a internet está sempre presente, expandido conexões e fortalecendo bolhas. E como quase tudo que vem do digital, esses agrupamentos trazem um novo nível de engajamento e horizontalidade às relações e aos atores envolvidos. Agora, a dinâmica deixa para trás a apreciação passiva e ganha tração ao trazer envolvimento ativo, dinâmico, com foco em conversas e na co-criação.

O fandom é o poder para a comunidade.

São comunidades compostas pelos fãs e pelos ídolos, com muitas interações, trocas e fluidez de pensamento, em que todos que fazem parte criam a história que será contada. É um cenário em que, apesar das celebridades ainda terem poder de influência, a criação da narrativa é compartilhada. Trata-se de uma sinergia criada a partir do pertencimento e da autenticidade e que acaba gerando oportunidades criativas e comerciais, pautadas nos laços entre todos que fazem parte desses grupos.

Esses são alguns dos fatores que definem o que é um fandom e mostram a capacidade de impactar cultura. Lembro bem que há alguns anos vi na televisão que uma boy band sul coreana iria fazer um show no Brasil e que milhares de pessoas acamparam na fila para conseguir um bom lugar para assisti-los. Eram jovens esperando ansiosamente para ver uma apresentação da sua banda preferida da qual eu nunca tinha ouvido falar. Foi então que conheci o BTS e toda a organização de fandom, ou Army, que vive ao redor deles.

Banda BTS tem um dos maiores fandoms na internet, o ARMY (Créditos: Instagram)

Esse é o tipo de descoberta que mostra que esse movimento não pode ser ignorado. Ainda mais por quem trabalha com marcas e consegue enxergar as oportunidades de vestir a camisa ao entrar nesses universos.

Quando as marcas entendem esse fenômeno, podem usá-lo a seu favor.

Hoje, não é possível pensar uma campanha sem um conhecimento profundo dos públicos, mas quando se fala de fãs é preciso conhecê-los ainda mais para conseguir ser verdadeiro. Além disso, uma marca que quer se aventurar por esse universo precisa se mostrar aberta para participar das paixões de cada comunidade, deixando que as conversas sejam criadas por quem tem muita vontade de participar.

É preciso soltar as rédeas e deixar que as coisas fluam. Os memes vão surgir e as ações da marca vão reverberar com engajamento inevitável. Isso pode ser garantido com o planejamento certo. Uma vez que as conversas vão fluir organicamente, o trabalho das marcas é direcionar os diálogos de forma autêntica para que falem a língua dessas pessoas. Os fandoms movem montanhas e os resultados, é claro, são exponenciais: transformam relações, geram novos produtos e formas de monetização, entre muitas outras possibilidades.

Colocar tudo isso na balança é o primeiro passo para quem quer apostar nesse mundo. E se você ainda não acreditou na força desse movimento como catalizadores de engajamento, não é preciso se ater apenas às minhas palavras. Muito mais fácil é acreditar no que está na rua. Pergunte à Coca-Cola, ao McDonald’s e a muitas outras marcas o que elas têm ganhado ao investir nessas comunidades. A resposta, com certeza, irá fazer você cogitar usar o poder dos fãs numa ação de marca.

Para fechar, faço um brinde ao Chico Barney e à Nação Barneyra, comunidade a que pertenço. E “voltamos a qualquer momento com novas informações”.

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