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Opinião

O fogo e o foco nos fatos

As mudanças climáticas aceleradas e suas possíveis consequências pautam desde a escolha de parceiros comerciais, nas principais economias e empresas do mundo, até a decisão de compra de consumidores cada vez mais críticos


26 de agosto de 2019 - 9h24

(Crédito: IldoFrazao/iStock)

Com a repercussão internacional das queimadas na Amazônia e a escalada na tensão diplomática entre o Brasil e importantes países da geopolítica global, especialmente França e Alemanha, Jair Bolsonaro finalmente começa a tornar o Brasil grande de novo — talvez um grande problema.

A gafe de Emmanuel Macron no mundo virtual, ao compartilhar uma foto antiga de incêndio na Amazônia para denunciar uma “crise internacional” criou mais uma oportunidade gratuita para que assunto tão sério da vida real fosse desacreditado por seus detratores na forma de memes, ofensas e acusações de fake news, um bando de ferramentas que servem para decidir o campeão de audiência, mas em nada contribuem com um debate responsável para que ações práticas sejam tomadas.

Foi combustível puro para o brado contra o colonialismo com o qual Bolsonaro reagiu ao clamor do presidente francês por interferência dos países do G-7 na questão. Grupos da população devem concordar com o presidente brasileiro nesse ponto: a hipocrisia de nações europeias em relação à defesa da Amazônia era um discurso em voga nos anos 1980, quando Sting levava ao palco o cacique Raoni e foi acusado de promover-se à custa da floresta, enquanto seu continente de origem colocara abaixo, décadas atrás, suas fauna e flora em prol do desenvolvimento, na tese em que teriam aproveitado uma oportunidade que agora supostamente querem cercear ao Brasil.

Trinta anos depois, avançamos demais em ciência, conhecimento e informações para permitir que a legitimidade de um sentimento patriótico e a bandeira da soberania sejam usadas para justificar a ignorância.

As mudanças climáticas aceleradas e suas consequências para a vida no planeta pautam desde a maneira como as principais economias e as grandes empresas do mundo definem seus parceiros comerciais e investimentos até a decisão na ponta da gôndola de consumidores cada vez mais críticos em suas escolhas de produtos e serviços. Enquanto França e Irlanda já ameaçam não ratificar o acordo entre Mercosul e União Europeia, caso o Brasil “não honre seus compromissos ambientais”, a escalada do interesse internacional pelo desmatamento na Amazônia incitou os primeiros protestos estrangeiros, como o boicote a produtos de origem brasileira e o cancelamento de viagens turísticas ao País.

Se evitar o viés ideológico e concentrar-se no impacto que as decisões de seu governo possam ter sobre a participação e a relevância do Brasil no ambiente de negócios internacional, Bolsonaro prestará um grande serviço às empresas brasileiras que tenham porção representativa de suas receitas advindas do comércio internacional e a ambição para se tornarem de fato marcas globais.

É o caso, por exemplo, da Natura, cujo CEO, João Paulo Ferreira, é o principal entrevistado da edição impressa de Meio & Mensagem nesta segunda-feira, 26. Na conversa com a repórter Roseani Rocha, o executivo da companhia que leva a natureza no nome e ingredientes da biodiversidade brasileira em todos os seus produtos falou sobre o projeto de internacionalização da companhia, impulsionado pelas compras da The Body Shop e Avon, e também sobre os investimentos que a empresa faz na Amazônia — foram mais de um bilhão e meio de reais desde 2012.

“O papel de uma empresa como a Natura neste momento é mostrar que essas visões — proteção ambiental e prosperidade econômica — são conciliáveis. O caminho é o diálogo entre os entes envolvidos: comunidades, governos, agricultores, empresas, ongs. Sentar à mesa e criar modelos de negócio sustentáveis”, afirma Ferreira. “A polarização reduz demais as possibilidades. Queremos mostrar que, sim, existe alternativa.”

*Crédito da foto no topo: Sebastien Goldberg/Unsplash

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