Assinar

O futuro dos cinemas em risco

Buscar
Publicidade
Opinião

O futuro dos cinemas em risco

Covid-19 terá grande impacto sobre o negócio


22 de maio de 2020 - 13h19

(Crédito: South Agency/ iStock)

Há seis meses, escrevi sobre o futuro do streaming. Naquele momento, não tínhamos a pandemia e cada serviço lutava para encontrar seu espaço em um mundo repleto de oportunidades de entretenimento. Com a chegada da Covid-19, o cenário mudou e o número de assinaturas de streaming explodiu. Netflix, Amazon Prime e Disney+ se beneficiaram de terem muito conteúdo no momento que todo mundo estava em casa.

Por outro lado, o negócio de cinema foi duramente impactado e pelo que vislumbro irá demorar para se recuperar.
Para que vocês entendam o impacto nas exibidoras de cinema, precisam entender que o faturamento delas geralmente vem 50% da bilheteria e 50% da venda de produtos da bomboniere e que seu principal custo geralmente vem do aluguel de espaço e funcionários.

Nestes últimos dois meses, esse negócio não teve faturamento. Diferentemente do comércio que pôde tentar uma saída pelo e-commerce ou de centros de beleza que venderam vouchers para compras futuras, as exibidoras tiveram que assistir a isso sem poder reagir, enquanto os custos de funcionários e estrutura continuam chegando todo mês. Os aluguéis foram renegociados em muitos casos, mas até quando?

Também parece que o varejo irá se recuperar mais rápido, assim que as medidas de isolamento forem sendo relaxadas, mas quem estará disposto a entrar em uma sala fechada no escuro com mais 200 pessoas durante duas horas? Com as medidas de segurança a serem tomadas, no melhor dos casos as salas poderão comportar 40% da sua lotação, ou seja, uma redução potencial de 60% na receita de bilheteria e, por consequência, na bomboniere.

Nesse modelo de negócio os pequenos exibidores sofrem bastante, pois dificilmente terão como renegociar seus aluguéis, e muitos terão que fechar suas portas. Para complicar ainda mais, a maior rede de cinemas do mundo AMC Theaters, passa por sérias dificuldades financeiras, com alto nível de endividamento e queda de mais de 90% no preço de suas ações nos últimos 2 anos.

Menos salas para exibir, significa menos bilheteria e menos receita para os estúdios, que até antes da pandemia, gastavam rios de dinheiro para lançar um filme e ficavam com apenas 50% da receita da bilheteria. Um filme como Malévola2 que custava US$ 200MM para o estúdio e tinha uma venda de tíquetes de US$ 500MM na verdade praticamente empatava seus custos, e depois seria rentabilizado ao longo dos anos no streaming, no aluguel on-demand e na venda para as TVs.

Com essa incerteza de como será a volta dos cinemas, qual estúdio irá se arriscar a lançar um filme que custa US$ 200MM com a possibilidade de reduzir em 60% as suas receitas de bilheteria? Não à toa, filmes como Mulher Maravilha 1984, Viúva Negra e o novo 007 tiveram suas estreias adiadas.

Os estúdios sempre reclamaram de terem que cumprir a “janela” de 75 dias após a estreia dos filmes no cinema para colocar o filme disponível para venda on demand. Gostariam de aproveitar o “buzz” em cima da estreia do filme para disponibilizá-lo rapidamente para aquele espectador que não vai aos cinemas.

Para tentar diminuir o prejuízo, e aproveitando as crianças em casa, a Universal lançou o filme Trolls 2 nos EUA diretamente no vídeo on demand, sem passar pelas salas de cinema. Esse modelo, em que o estúdio costuma ficar com 80% do faturamento, funcionou para o estúdio, mas foi duramente criticado pelos exibidores, que já ameaçam boicotar os novos filmes da Universal.

A Disney não ficou atrás e seu novo CEO, Bob Chapek, já admitiu que a empresa irá repensar a estratégia de lançamentos e poderá colocar alguns filmes diretamente no seu serviço Disney+, como fará com Artemis Fowl.

Os demais estúdios ainda não se manifestaram, mas a verdade é que o verão americano, que costuma ser o período de maior bilheteria do ano, já está chegando e provavelmente ainda veremos estratégias de lançamentos sendo alteradas pelos estúdios e trazendo um impacto ainda maior a um dos nossos locais de lazer preferidos.

*Crédito da foto no topo: Unsplash

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Quando menos é muito mais

    As agências independentes provam que escala não é sinônimo de relevância

  • Quando a publicidade vai parar de usar o regionalismo como cota?

    Não é só colocar um chimarrão na mão e um chapéu de couro na cabeça para fazer regionalismo