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Pulo das marcas e dos executivos

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Opinião

Pulo das marcas e dos executivos

Ao fazer todos encararem a morte, pandemia também colocou de cabeça para baixo um sistema de valores até então em vigor


22 de novembro de 2021 - 16h58

Esta pandemia mudou para sempre a vida de muitos líderes e de muitas marcas. Pois é, no final, as marcas são feitas por líderes, pessoas que estão detrás, que sentem, que choram, que têm medo.

Engana-se quem acha que terá protagonismo ou maior impacto profissional entregando o projeto ou sua parte finalizada para a equipe. Esse tempo passou (Créditos: Blue Planet Studio/shutterstock)

Como coach executivo, tive a oportunidade de ver em seus olhos: a morte questionava profundamente a maneira como muitos deles viviam. Ela virou de cabeça para baixo um certo sistema de valores que eles tinham para medir suas carreiras.

Muitas vezes vivemos sem pensar que vamos morrer. Mas vamos morrer. A Covid-19 veio para nos lembrar dessa verdade. E fez isso com eloquência.

Você se lembra do oráculo do poeta Horácio, no filme Sociedade dos Poetas Mortos? Carpe diem significa “aproveite o dia”. Estas duas palavras em latim são um anúncio para o retorno ao essencial diante de tudo o que é urgente.

Desde o início de 2020, o professor das marcas, em vez de ser Robin Williams, foi a pandemia. Um professor cheio de personalidade e retumbante que fazia pensar até os mais distraídos.

O contato mais regular dos executivos com seus filhos e companheiros foi uma experiência que, para alguns, mostrou que poderiam ter outro tipo de vida. Uma espécie de renovação de um vínculo humano diferente. As marcas também vivenciaram isso. A transformação digital foi um jeito de estar perto das pessoas, de ingressar nos seus lares.

Essa experiência chocante e inesperada os lembrou de como a vida é finita, de como a família é importante e de como é absurdo gastar dinheiro em algo que não os deixou tão felizes. A morte tem esse poder: abalar nossa escala de valores. E já é impossível pensar um branding sem valores.

Isso veio junto com uma nova dimensão de tempo. A pandemia destruiu relógios e nos colocou em um não-tempo: os dias monótonos
se parecem. Estamos em uma temporalidade sagrada que os gregos chamavam de kairós: aberta às oportunidades. Cronos é quantitativo, kairós é qualitativo. É um momento de nos deixarmos passar pelo que pode nos transformar. Nesse kairós, o vírus que derrubou todas as bolsas do mundo, nos questionou excessivamente: “E você, o que vai fazer da sua vida? Onde você vai investir? Não é nada que os pensadores antigos não conhecessem. Tempus fugit, escrevera Virgílio, “o tempo voa”, vai. Algo que muitos de nós sentimos ao ver como nossos filhos crescem rapidamente.

Durante esse tempo de crise e oportunidade, os executivos sentiram um terremoto interno em seus corpos como nunca antes. Em minhas
conversas com executivos e diretores de nível C, o problema central tornou-se realização e felicidade. Plenitude é felicidade consolidada ao longo do tempo. É um estado onde você não precisa mais de muito mais do que você tem para ser feliz. A sustentabilidade, hoje no topo da onda, é um pouco isso, também.

Essas reflexões ocorreram na cabeça e no coração dos executivos, mas também das marcas, enquanto viviam um dos momentos mais
incertos de suas vidas, enquanto o mercado desabava e familiares morriam.

É irônico, porque a incerteza, se você a ouvir, tem um dom: ou ela o assusta até a morte, ou o convida a renascer como a Fênix, a pensar seu branding a partir de um novo lugar.

Nesse processo sociológico e psicológico, muitos deles começaram a pensar em fazer uma mudança em suas vidas: dar um salto. Alguns saíram de suas empresas e ativaram seus próprios negócios ou empreendimentos. Outros se perguntaram se essa era a posição
que os fazia se sentir confortáveis.

Carregando nos ombros o medo de deixar uma vida segura e com a vulnerabilidade interna pregada no peito, eles voaram como a
Fênix. Quando a morte bate à nossa porta, ela impudentemente nos pergunta como estamos vivendo e como estamos nos comunicando com as nossas audiências.

Vários bravos executivos e marcas a ouviram e não a ignoraram. Talvez por isso tenham saltado para a grande mudança: a interna.

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