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Retomada desafiadora

Boas perspectivas para os meses finais de 2021 animam empresas, marcas e executivos, mas incertezas ainda rondam o planejamento futuro


16 de agosto de 2021 - 13h31

(Crédito: Alexsl/ iStock)

As vinte semanas que nos separam do fim de 2021 prometem ser as melhores para a economia e os negócios, desde o início da pandemia. O reaquecimento anima empresas, marcas e executivos, mas ainda há muitas incertezas em relação à velocidade da retomada, que não está imune a solavancos previsíveis ou não.

Sustentado, entre outros fatores, pelo avanço da vacinação, mesmo que não na velocidade necessária, pelo aumento da confiança entre consumidores e pela expansão do crédito, o conjunto de boas notícias inclui as revisões para cima nas previsões de crescimento do PIB. A fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por exemplo, aumentou a sua de 3% para 4,8%, considerando que o impacto do isolamento social sobre a atividade econômica, no início do ano, foi menor do que o inicialmente esperado. Em contrapartida, também sobem as projeções de inflação. O Ipea, que apontava para um IPCA de 4,6%, já esbarra nos 6%. Neste ponto, um dado que reforça a crueldade das desigualdades brasileiras: a taxa de inflação para as famílias de renda muito baixa é maior que para as de alta renda.

O setor de serviços é um dos que mais vêm contribuindo para a onda otimista. Na semana passada, o IBGE divulgou que o crescimento deste segmento foi de 1,7% em junho, o que o fez alcançar o maior patamar desde maio de 2016 e ficar 2,4% acima de fevereiro do ano passado, período pré-pandemia. O crescimento em doze meses, em relação a junho de 2020, é de 21%. Os maiores destaques na composição da alta de junho são justamente os serviços de informação e comunicação, que cresceram 2,5% e alcançaram o ponto mais alto de sua série histórica.

Na seara da publicidade, após encerrarem 2020 abatidas, as holdings globais tiveram bons desempenhos no primeiro semestre, e, em alguns casos, superaram não apenas os resultados do ano passado, o que seria natural, dado o abismo que houve nos primeiros meses da pandemia, mas ultrapassaram, inclusive, índices de 2019. Os resultados positivos nos seis primeiros meses de 2021 comparados com o primeiro semestre de 2020 vão dos mais de 12% de Omnicom e IPG aos 3% do Publicis Groupe, passando pelos 10% do WPP e pelos 7% da Dentsu. O CEO do WPP, Mark Read, avalia que o crescimento configura recuperação para níveis pré-pandêmicos mais rápida que a esperada — um ano antes que o previsto inicialmente. Reflexo, diz ele, do reinvestimento dos clientes em marketing, mídia digital e comércio eletrônico. Analistas acrescentam uma possível valorização dos serviços das agências pelos clientes no decorrer da pandemia e uma menor pressão por precificação, com menos “repitching”, os processos de revisão de parcerias que, em muitos casos, visam baixar custos.

No embalo do aquecimento nos negócios, o mercado brasileiro assistiu nos últimos dias um movimento ousado que introduz um novo player no ranking das grandes agências. Após longa negociação, uma cisão na DPZ&T levou o grupo liderado pelo CEO Eduardo Simon a lançar a Galeria, agência que já nasce atendendo três dos maiores anunciantes do País: Itaú, McDonald’s e Natura. Após revelar a informação, Meio & Mensagem detalha como será o início da operação e relata os planos do Publicis Groupe, dono da DPZ&T e acionista minoritário na Galeria, através de entrevista com o chief operating officer (COO) da holding no Brasil, Guillaume Epstein . O executivo francês diz que apesar de a indústria ter começado o ano diante de um  grande nevoeiro, o clima que se revelou atrás dele não foi tão ruim, as marcas descobriram que ficar no escuro por muito tempo traria problemas e decidiram voltar a investir.

O empenho da indústria de comunicação, marketing e mídia tem como maior entrave futuro a própria dinâmica volátil da pandemia, que ainda impõe um cenário de instabilidades. Nos Estados Unidos e em outros mercados que já haviam relaxado restrições, a ascensão da variante Delta faz as empresas reavaliarem os planos de volta aos escritórios. Inclusive em relação ao trabalho híbrido, mas não somente neste ponto, os inéditos aprendizados acumulados nos últimos meses por empresas, marcas e executivos, e a sedimentação de novos propósitos e posicionamentos mais empáticos, equilibrados e flexíveis devem minimizar os efeitos negativos de possíveis revezes e sustentar o presságio de que dias melhores virão.

*Crédito da foto no topo: Reprodução

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