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Opinião

Tempos de escassez

Macroeconomia impactada por Covid, guerra e crise climática impõe desafio de inovar e crescer com menos recursos e mais otimização — seja para o varejo global ou para a Americanas em recuperação judicial no Brasil


24 de janeiro de 2023 - 16h00

Crédito: Divulgação

Os três homens mais ricos do Brasil, um dos CEOs mais valorizados do mundo corporativo e uma das estrelas ascendentes do varejo, sustentada por uma das marcas mais tradicionais e fortes do mercado nacional, com lugar de destaque entre os maiores compradores de mídia do País.

O enredo do surpreendente abalo sofrido pela Americanas neste início de 2023 tem muitos protagonistas e números superlativos: 40 mil funcionários, três mil lojas em 900 cidades, 53 milhões de clientes ativos e dívidas estimadas em R$ 43 bilhões.

Com menos de dez dias desde ser tornado público, o caso já rendeu o maior derretimento visto pela bolsa brasileira desde 2008 e entrou em nova fase, na quinta-feira, 19, com o aval para o início da quarta maior recuperação judicial da história do Brasil.

Quase centenária, a Lojas Americanas surgiu em 1929, mas ganhou fôlego para se transformar em uma das gigantes do varejo a partir de 1982, quando foi comprada pelo 3G Capital de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que a colocaram entre os expoentes da economia digital a partir do início dos anos 2000. Em novo impulso, em 2021, a fusão com a B2W leva o 3G a abrir mão do controle acionário, mas mantém a liderança do trio de empresários como acionistas de referência.

O rombo nos balanços da Americanas afeta não somente os bolsos de investidores e credores e a segurança dos empregados. Arranha o capital reputacional de Lemann, Telles e Sicupira, que controlam outras gigantes — como AB InBev, Burger King e Kraft-Heinz. Impacta a notável carreira do CEO Sergio Rial, que ficou nove dias no cargo e foi o porta-voz da notícia sobre as inconsistências contábeis. Gera dúvidas sobre o futuro de outras marcas pertencentes à empresa — Imaginarium, Puket, Submarino, Natural da Terra, Ame e Shoptime, entre outras. Questiona a credibilidade das auditorias, mais notadamente a PwC, responsável pelo trabalho no balanço de 2021 da varejista. E influencia até mesmo a dinâmica da estreia do principal produto televisivo do Brasil, o Big Brother, como conta a reportagem dos editores Bárbara Sacchitiello e Fernando Murad, na página 16.

Enquanto os analistas financeiros tentavam entender o que se passa com a Americanas, boa parte dos empresários e executivos varejistas brasileiros se juntava ao maior fórum global desta indústria: a NRF Retail’s Big Show 2023 reuniu 40 mil participantes, na semana passada, em Nova York.

O Brasil formou a maior delegação estrangeira do evento, que em suas mais de 200 palestras discutiu temas como hiperpersonalização, conexão emocional com os consumidores, omnicanalidade e revenda de produtos usados. Para continuar evoluindo, o setor se fia no apego humano às novidades, a uma grande experiência (on ou offline) e à qualidade de serviço que faz cada cliente se sentir único.

Nas páginas 24 a 29, você confere parte da curadoria de conteúdo feita pela nossa equipe presente no evento, formada pelo diretor de conteúdo Jonas Furtado, as editoras Roseani Rocha e Isabella Lessa, a repórter Thais Monteiro e o videomaker Rafael Barreto — a cobertura movimentou as redes sociais e o site meioemensagem.com.br/nrf, onde o blog coletivo Conexão Nova York reúne as visões de diversos brasileiros participantes. A NRF foi o ponto de partida do giro internacional do projeto 100 Dias de Inovação, com o qual Meio & Mensagem acompanhará, ainda, o Mobile World Congress (MWC), em Barcelona, de 27 de fevereiro a 2 de março, e o South by Southwest (SXSW), em Austin, de 10 a 19 de março.

Entre as reflexões provocadas em Nova York estão as das consequências impostas pela escassez de recursos, economia circular e fim da era da abundância, o que torna ainda mais complexo o futuro de diversos mercados, expostos aos desafios de se adaptarem à nova realidade macroeconômica e incitados a estabelecer novas bases nas relações com os consumidores, em especial os setores que têm o incentivo às vendas em sua essência, como o varejo e a publicidade.

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