Hackathons: o legado das maratonas para a inovação aberta
Para Ricardo Queiroz, head da Campus Party Brasil, maratonas colaborativas impulsionaram a cultura do MVP e a criação de modelos ágeis
Hackathons: o legado das maratonas para a inovação aberta
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Taís Farias
15 de maio de 2023 - 6h03
Os hackathons, maratonas colaborativas para criação de projetos e solução de problemas, nasceram no universo da computação. Mas não demorou até que as empresas percebessem o potencial desse formato.
Anunciantes como Coca-Cola, Dafiti, Itaú e C&A já apostaram no formato para ampliar a entrega de produtos e serviços. Além de conquistar as empresas, os hackathons foram embaixadores da cultura de inovação aberta.
Na prática, a inovação aberta descentraliza a mentalidade de inovação de uma companhia, trazendo outros atores para colaborar e pensar em soluções para os problemas de mercado. Entre 2016 e 2020, o número de empresas que se relacionam com startups, por meio de iniciativas de inovação aberta, cresceu quase 20 vezes, de acordo com dados da plataforma 100 Open Startups.
Ricardo Queiroz, head da Campus Party Brasil – que no ano passado voltou ao seu formato original – conta como as maratonas colaborativas evoluíram e seu papel na inovação aberta.
Meio & Mensagem – Como surgiram as maratonas colaborativas – hackathons, datathons e ideathons?
Ricardo Queiroz – O conceito surgiu aproximadamente em 1999, quando um grupo de engenheiros de computação se reuniram para reescrever alguns protocolos de segurança de linguagens de programação da época em curto período. Logo esse conceito se popularizou e começou a ser realizado em diversas empresas de tecnologia. E assim começaram a recrutar profissionais utilizando nova forma de avaliação de conhecimento. Posteriormente, isso começou a ser utilizado para desenvolver soluções para desafios específicos que ninguém dentro da empresa até então conseguia resolver.
M&M – De lá para cá, como o papel dessas maratonas se transformou no ecossistema de tecnologia e inovação?
Queiroz – Esse tipo de atividade mostrou que podemos fazer coisas mais ágeis, potencializou a cultura do produto minimamente viável (MVP), do errar rápido, de que, às vezes, precisamos criar ambientes apartados da operação para testar, encontrar falhas, mas, acima de tudo, nos traz um drive mais focado em resolver problemas e encontrar soluções rápidas. Do outro lado, mostrou que o conhecimento prático tem muito mais valor do que o conhecimento teórico. Somos muito mais mão na massa, pois vivemos em ambientes altamente mutáveis, e os hackathons são ótimos para isso, pois o conceito de pivotar pode acontecer a qualquer momento e no jogo valendo, às vezes, os times não estão preparados para isso.
M&M – Qual é o papel dessas maratonas para fomentar a inovação aberta?
Queiroz – Entendo que é um dos caminhos para a cultura de inovação aberta, embora tenha muitas discussões sobre propriedade intelectual nesse tipo de atividade, mas o que vai ser mandatório é o motivo por trás. Estamos falando de soluções de interesse público ou não? Quando sim, o espaço é amplo, pois os hackathons têm um grande papel de engajar as pessoas pelo seu formato altamente desafiador para resolver problemas gerais e de impacto social. Outro ponto importante é quando conseguimos dar sequência nesse primeiro estágio e levar os projetos para um segundo nível mais avançado e menos prototipado dentro de programas de aceleração/incubação onde esses projetos deixam de ser hipóteses e passam a ser negócios já mais estruturados, mesmo que em estágio inicial.
M&M – As companhias já exploram todo o potencial da inovação aberta? Como podem maximizar essa conexão?
Queiroz – Temos bons exemplos, grandes empresas têm programas estabelecidos, realizados com frequência e estão em constante evolução. Na Campus Party, já criamos algumas iniciativas e a mais recente foi com o Ministério da Saúde para criar soluções para gestão de pesquisa dentro de uma das secretarias do ministério. Isso mostra o quanto já estamos conseguindo entrar em entidades privadas e públicas, mas o desafio não está na exploração das empresas, e sim em dar mais capilaridade e permitir que mais pessoas possam fazer parte do processo de construção e criação. Ainda é um público restrito. Quando essas maratonas começaram a acontecer remotamente durante a pandemia, houve um ganho muito grande, mas podemos expandir ainda mais.
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