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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

A solidão como isca: o elo entre isolamento social e fraudes online

A solidão dói, mas também abre portas para o crime. Como lidar com a necessidade de conexões reais na era digital?


12 de março de 2025 - 14h21

Já se passaram quatro dias de SXSW e, em meio a tantas previsões e tendências transformadoras, um paradoxo da era digital está em evidência: a tecnologia tem o potencial de conectar as pessoas, mas também pode aprofundar o isolamento e torná-las mais suscetíveis a explorações emocionais e financeiras. Já na abertura do evento, a palestra de Kasley Killam, especialista em saúde social e autora premiada de A Arte e a Ciência da Conexão, abordou os riscos do isolamento social, enfatizando como a falta de conexão humana pode afetar tanto a saúde física quanto a mental.

Ontem, no painel Tech-Wide Battle Against Online Fraud, que contou com especialistas do FBI, Match Group – empresa responsável por aplicativos como Tinder, Hinge e OkCupid – e Coinbase, me peguei refletindo novamente a respeito das informações compartilhadas por Killam. A busca por conexão continua sendo um dos impulsos mais fortes do comportamento humano, e é justamente essa necessidade que os golpistas exploram. Afinal, o aumento das fraudes financeiras e emocionais está diretamente ligado aos impactos da solidão na vida moderna, permitindo que a vulnerabilidade das vítimas em busca de relações significativas seja explorada de maneira perigosa no ambiente digital.

Como foi dito no painel, “a fraude online não é apenas um crime financeiro, é um crime contra a confiança humana”. A crescente dependência de interações digitais tem sido explorada por criminosos de maneira sofisticada – exemplo disso é o fenômeno conhecido como romance scam, em que fraudadores estabelecem vínculos emocionais falsos para extorquir suas vítimas. No Brasil, esse tipo de golpe já é conhecido como ‘golpe do amor’ e tem feito inúmeras vítimas, que transferem dinheiro acreditando estar ajudando um parceiro romântico legítimo. O golpe do “pig butchering”, mencionado na discussão, segue um padrão semelhante: criminosos constroem um laço de confiança ao longo de semanas ou meses antes de induzir as vítimas a investir em esquemas fraudulentos.

Em um contexto em que muitas pessoas se tornam totalmente desconectadas, como podemos prevenir isso, e? Segundo dados levantados no estudo de Killam, atualmente uma a cada quatro pessoas se sente muito solitária e 20% delas não tem ninguém com quem contar para pedir ajuda, passando duas ou mais semanas sem falar com um amigo ou familiar. O combate às fraudes e os impactos do isolamento social exige soluções que vão além da tecnologia, passando por regulamentação eficiente e iniciativas de educação digital para mitigar riscos e fortalecer a confiança no ambiente online. 

Dentro desse contexto, a ascensão das criptomoedas adiciona uma nova camada de complexidade, levantando o dilema da privacidade versus rastreabilidade no mundo digital. Enquanto as moedas digitais oferecem maior liberdade e descentralização, também abrem espaço para transações não rastreáveis, dificultando o combate a fraudes financeiras. Independentemente da plataforma usada, esses golpes sempre passam por uma transação financeira. A vítima acredita estar ajudando alguém que ama, e esse consentimento torna a rastreabilidade das transferências extremamente complexa. Isso se agrava ainda mais quando entram em cena criptomoedas, dificultando a recuperação dos valores.

A reflexão deixada pelos especialistas é essencial e urgente: à medida que nos tornamos mais digitais, também precisamos reforçar nossas redes de apoio reais. Construir laços sólidos e estar atento aos sinais de manipulação emocional são passos indispensáveis para navegar de forma segura em um mundo cada vez mais interconectado. Como disseram os especialistas durante o painel, “a primeira pessoa a conversar com a vítima sobre golpes não deve ser o criminoso, e sim um amigo, familiar ou profissional da área de segurança”. Somos humanos e, em tempos de inteligência artificial e automação, não podemos esquecer que precisamos de conexões para viver com qualidade e segurança.

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