SXSW

Além de IA: conexões humanas e sair da bolha é o futuro

Um mergulho no universo que conecta inovação, tecnologia e criatividade nos fóruns do SXSW 2025

Barbara Sapunar

Diretora Executiva de Business Transformation da Nestlé 17 de março de 2025 - 14h05

Primeira vez no SXSW?!” Escutei essa pergunta incontáveis vezes, quase sempre em português, que parece ser a segunda língua oficial do festival. O South by Southwest, o festival de inovação e criatividade mais “hypado” do momento, é mesmo um verdadeiro mergulho em novas ideias, conexões e aprendizados inesperados. Como uma estreante entusiasmada no evento, fui impactada por diferentes insights e trouxe para o Brasil impressões importantes.

A primeira lição veio logo de cara: com mais de 800 palestras, é impossível assistir à tudo. Para extrair o máximo de experiências do SXSW, é preciso ser seletivo, abraçar as inevitáveis filas e lidar com o já conhecido FOMO (fear of missing out, o medo de perder algo importante), que aqui ganha um novo significado, o FOMA (fear of missing audience, o medo de perder relevância e influência). Aprendi que renunciar a certos painéis faz parte da experiência do festival e que estar presente no momento certo pode valer mais que assistir à todas as apresentações possíveis.

Sobre as trilhas de conteúdo, percebi que vale muito sair da bolha cotidiana e explorar temas completamente diferentes do nosso dia a dia. Uma palestra sobre produção de alimentos no espaço, fora do planeta, me fez refletir sobre como desafiar princípios estruturantes pode levar à inovação: cultivar comida sem agricultura, sob condições extremas, abre portas para novas possibilidades aqui na Terra.

A onipresença da inteligência artificial era esperada e, de fato, estávamos cercados por discussões sobre suas aplicações em todas as áreas, desde robôs humanóides até carros autônomos. Mas, curiosamente, senti que o grande anseio das pessoas ia além da tecnologia: a busca constante por nos reconectarmos com o humano e o coletivo. O grande interesse por palestras sobre saúde social, como conceito que complementa a saúde mental individual, o poder das comunidades, a longevidade, conhecimentos ancestrais e futurologia sobre como moldar nossas vidas (human agency) prova que, embora amemos tecnologia, gostamos ainda mais de gente. Neste contexto, destaco as palestras de Esther Perel (que fez uma mistura explosiva no palco com Amy Webb) e Brené Brown, que trouxeram insights profundos sobre conexões humanas e o futuro da empatia.

A IA está transformando o mundo com muita rapidez e é imparável, mas o sentimento de medo pode ser contornado. Como disse Amy Webb, “futuro é sobre as decisões que tomamos hoje; temos que ganhar agency”. Ou seja, devemos desenvolver e criar o nosso próprio futuro individual para ganharmos controle sobre o amanhã e diminuir a ansiedade pela incerteza do que virá. Exercitar a criatividade em aplicações de IA e se voltar para a arte são bons caminhos para sair da zona do medo gerada pelas mudanças tecnológicas.

A verdadeira beleza do SXSW não está apenas nas palestras, mas principalmente, nas trocas espontâneas, nas ativações espalhadas pelas ruas e na energia única da cidade “estranha” de Austin. Estar presente fisicamente e vivenciar essa efervescência criativa vale muito mais que simplesmente assistir aos conteúdos depois no YouTube.

Meu veredito? Sempre vale a pena reservar um espaço na agenda para se oxigenar, ouvir perspectivas diferentes e se abrir para novas ideias. O SXSW entrega tudo isso – e muito mais!