Jornalismo tenta mitigar riscos do conteúdo falso feito com IA
Representantes da CNN e do The Washington Post reforçam o papel da educação midiática diante da ascenção de conteúdo falso produzido com IA
Representantes da CNN e do The Washington Post reforçam o papel da educação midiática diante da ascenção de conteúdo falso produzido com IA
Thaís Monteiro
13 de março de 2024 - 10h42
O universo do jornalismo está ameaçado pela inteligência artificial. As tecnologias bebem desautorizadamente do conteúdo de veículos jornalísticos e, além de não atribuir a informação ao publisher ou remunerá-los por esse ato, ainda entregam a informação para o usuário de forma mais rápida, customizada à sua necessidade e sem, necessariamente, manter compromisso com a verdade.
Mas o painel “AI and Journalism: The Massive Consequences When Truth is AI” não debateu essas questões. Em vez disso, os convidados se propuseram a discutir imagens e vídeos falsas feitas por IA e como trabalham para mitigar os impactos delas.
A conversa contou com a presença de Sandra Stevenson, diretora de fotografia do The Washington Post, e três representantes da CNN: o diretor editorial David Allan, que mediou o painel; a diretora de fotografia global, Bernadette Tuazon; e o correspondente Donie O’Sullivan.
Allan iniciou o painel pontuando que os riscos da IA foram traçados assim que a tecnologia foi criada e que já não é mais útil discutir as consequências dela, pois elas já estão circulando: são fotos, áudios e vídeos falsos. Ele reforçou o desafio de desmentir tais conteúdos, uma vez que eles circulam mais rápido do que a possibilidade de desmenti-los.
“Parte do problema é a velocidade que as imagens são criadas e como elas ganham vantagem Você não pode ‘desver’ algo. O impacto emocional vai continuar. Temos que ensinar as pessoas a fazer nossos trabalhos de checagem”, argumentou.
Bernadette Tuazon destacou que imagens falsas existem antes da popularização da IA. “O Photoshop facilitou muito isso”, disse. No entanto, com a IA, tornou-se mais acessível e fácil a produção desses conteúdos em larga escala.
Na perspectiva de Sandra Stevenson, tornou-se essencial fazer a checagem de fatos em relação a esses conteúdos falsos e entregar ao consumidor, como um serviço. É o que aconteceu, por exemplo, com as fotos da Princesa de Gales, Kate Middleton, que foram divulgadas pelo Palácio de Buckingham, e tinham alterações. Depois de identificar os erros, a CNN fez uma publicação sobre as alterações feitas na imagem, não sem antes falar com outros portais de notícia e bancos de imagem.
“Nós trabalhamos com informação e não competição. Nós estamos educando a audiência, precisamos ser transparentes e corrigir coisas erradas e quem estava errado”, declarou Bernadette. A executiva criticou a postura da Adobe Stock, que recentemente começou a publicar imagens feitas com auxílio da IA no seu banco de imagens sem identificar de forma clara que se trata de uma imagem falsa ou alterada.
Sandra reforça a necessidade de não confiar em imagens divulgadas e dedicar tempo para investigação desses conteúdos. “É melhor estar certo do que rápido”, afirmou.
Em época eleitoral, tornou-se mais comum o conteúdo ligado à política, como os candidatos em situações não comum à eles e imagens de cédulas de votação sendo queimadas ou destruídas de outras formas.
Para Bernadette, o risco potencial para as eleições é grande, pois os eleitores podem temer ir votar por medo de violência a partir de conteúdo falso que visa manipular o público. “Se eu ouço que no meu local de votação está tendo brigas. Eu vou votar? Não”, disse.
Segundo O’Sullivan, o cenário de descredibilização se tornou mais intenso com o fim de muitos jornais locais, que poderiam dar conta de conferir os fatos e educar a população sobre o que é verdadeiro ou não. Hoje, com menos veículos em operação, tornou-se mais difícil desmentir a quantidade de imagens, vídeos e áudios falsos.
Para o correspondente, uma situação mais alarmante será o público começar a duvidar até do que é real, em meio ao mar de notícias falsas, ou então os agentes políticos começarem a dizer que situações verdadeiras são falsas para seu benefício.
Ao final do painel, questionados pela plateia sobre o processo do The New York Times contra a OpenAI por uso indevido e desautorizado de seu conteúdo, O’Sullivan argumentou que a ameaça da IA não é recente e que os líderes dos veículos não se posicionaram rápido o suficiente, portanto agora correm atrás das consequências. “Onde estavam os nossos líderes nessa época?” Recentemente, o The New York Times anunciou investimentos próprios em IA.
Os participantes afirmaram que não devem usar a IA para produção de imagens por enquanto. Para eles, a educação midiática terá papel essencial para mitigar os impactos das notícias falsas e que instituições de ensino e veículos jornalísticos são responsáveis por isso.
O’Sullivan não foi esperançoso. “Deixamos as redes sociais comer nosso lanche e agora vemos a OpenAI fazendo isso. Eu não tenho esperança que a nossa indústria vai saber dominar essa tecnologia. Não acho que vamos usar a ferramenta”, opinou.
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