O Vôo do Pássaro preto de Austin
As palestras que selecionei pra fechar essa minha contribuição do evento para a Play9 e o Meio&Mensagem tem por essência grandes figuras e pensadores dos temas
As palestras que selecionei pra fechar essa minha contribuição do evento para a Play9 e o Meio&Mensagem tem por essência grandes figuras e pensadores dos temas
18 de março de 2024 - 16h35
Existe um animal da fauna de Austin que me marcou e representa plenamente o que é a cidade. É um pássaro preto, que remete a um corvo, mas tem uma longa cauda que se abre como um leque quando voa, tem umas pernas longas, mas ele é muito mais simpático que um corvo, animal garimpeiro, e claramente não é presságio de mitologia. Ele está presente em todas as áreas, claramente territorial, mas não é agressivo aos humanos. O bicho canta de diversas formas e tons, a qualquer hora do dia. Ouvi o bicho cantando às duas da manhã quando estava voltando de uma festa, e na manhã seguinte enquanto despertava para mais um grande dia respirando vida. Esse pássaro é o GRACKLE DE CAUDA GRANDE. Depois de pesquisar, dizem que eles migraram pra Austin por conta das muitas luzes noturnas, de forma que eles conseguem ficar mais tempo ativos à noite. Pra mim, é icônico que esse seja o principal animal que encontramos por aqui. Nada te prepara para a aleatoriedade de Austin.
A cidade de fato é uma estrela nessa experiência. Uma cidade com menos de um milhão de habitantes, consegue ter mais de 20 opções de casa de show (do que eu fui só), de estilos muito distintos, com um recorte artístico absolutamente variado e nada relacionado. Claro, que o SXSW contribui pra isso ampliando os recortes de gênero ainda mais. Muito privilégio você sair de uma cantora low country na pegada Johnny Cash, e escutar uma Rapper australiana de descendência aborígene num mesmo espaço.
A aleatoriedade com que o Grackle circula e canta em Austin, representa muito bem essa segunda metade do evento, e a integração que é o SXSW e a cidade de Austin. Um não seria o mesmo sem o outro. Isso encanta e fizemos disso a inspiração para a escolha dos conteúdos que seguiram no evento. Larguei um pouco o track de tecnologia e futurismo, e navegamos para as culturas humanas de criadores, música e espiritualidade. Diálogos profundos com personalidades muito relevantes. As palestras que selecionei pra fechar essa minha contribuição do evento para a Play9 e o Meio&Mensagem tem por essência grandes figuras e pensadores dos temas.
Escutar da boca do Chuck D, do Public Enemy, banda icônica do movimento hip-hop, o quanto ele está empolgado com o momento da música é de fato surpreendente. Ele citava as versões distorcidas, aceleradas do TikTok como uma coisa positiva pra durabilidade do single, por exemplo. É um árduo contraste dos movimentos que estão ocorrendo por conta da discrepância dos pagamentos dos serviços de streaming para os artistas. Ao lado do Chuck estava uma figura que me deixou muito otimista pelo futuro do selo nascido durante o big bang do hip-hop. O CEO atual é o Tungi Balogon, envolvido indiretamente desde quando era assistente de A&R no relacionamento com Kendrick Lamar e o primeiro álbum dele. Renovou o RnB no mercado, com nomes como SZA e Childish Gambino. Aos 40 anos, millenial, um fenômeno de nascimento nigeriano, já enxerga o selo com importância global em termos estratégicos, com a música latina e os afrobeats. O futuro é próspero pro gênero urbano global. Que outros sigam essa tendência. Um detalhe de um gráfico de outra palestra do Rob Jonas (CEO da Luminate), destaca que os ouvintes latinos nos EUA já são 48% dos streams, sendo música latina 53% de todo stream. Força latina chegou no consumo, e como o hip-hop tem artéria latina no desenvolvimento do gênero, a coligação dos movimentos nos EUA e no mundo será cada vez mais forte.
Estou até agora refletindo a potência que foram as três gênias que integravam esse painel. Christina Gerakiteys, da Singularity University Australia, Simoné Planté que é focada em investimentos de Inteligência Artificial e Tecnologia Quântica há mais de 15 anos. Além das duas, Diana Walsh, doutora professora, que explora todas as vertentes de religiões e distinções de mundo espiritual com ciência, inclusive ufologia. Estar em presença de mentes tão elevadas foi altamente gratificante. Saí elevado pela potência feminina.
A conversa caminhou para onde deveria, foi intenso. Elas abordaram temas muito relevantes, principalmente no que tange a convergência humana com inteligência artificial. Em todas suas esferas, principalmente o espiritual. O conceito englobava não apenas a longevidade humana na parte biológica, mas também falaram sobre o upload de consciência que fará com que a inteligência artificial e um sistema possam absorver a ponto de representar você através do sistema. De distorcer a mente essa reflexão. O ser humano se tornar transversal num sistema é de cinema. Os filmes estavam certos assim como os futuristas do passado. Outra visão muito boa que elas trouxeram tem a ver com a divinização do algoritmo, que a inteligência artificial pode trazer. Desde nosso consumo em rede social até o que estão se tornando os modelos de linguagem grandes, como ChatGPT e seu exponencial imprevisível ainda. Ouvi ChatGOD ? E pra fechar, elas trouxeram a reflexão sobre o quantum entanglement, que traduzido seria um enrolo quântico, que foi uma expansão de conversa a partir da premiação do nobel da ciência de 2023. Teoria que discorda e desprova certas teorias de Einstein. Além de provar cientificamente a intuição humana e conexão energética que temos mesmo estando a distância.
Aqui é tudo personagem. O Jack Conte, é o rosto pra mim do que deveriam ser os CEOs de empresas ligados a artistas e conteúdo. De formal, apenas o conteúdo. O resto puro drip e visão de mercado. Ele foi artista então montou um negócio que atende tudo aquilo que ele não conseguiu vivenciar e viu implodir para os criadores ao longo dos últimos anos no digital. A visão de sairmos da luta pela atenção do usuário, mas atender o maior e melhor consumidor. O super fã. Não foi só ele que citou isso, o Rob Jonas, da Luminate, empresa de pesquisa de tendências de consumo, comentou sobre a importância do super fã. Aquele que consome o artista em pelo menos cinco segmentos distintos de acesso. Essa turma, que são 5% representam 70% do faturamento do artista. Volta aquele pensamento, de que bastam apenas mil pessoas que se dedicam a você, para que você possa viver da sua arte como criador, cantor, etc. A história de vida do Jack Conte, ele conta de forma breve, mas você logo percebe a visão empreendedora. Admiro muito, já estive envolvido em 8 empresas ao longo dos meus quarenta e um anos vividos. 20 como profissional.
O Jack Conte é provocador, e chega em certo momento, depois de cultuar a revolução do subscriber, que o conceito de follower está morrendo por conta da máquina de algoritmos criados para apenas prender sua atenção e não te conectar com o criador. Isso é a construção da visão dele para combater o movimento anti-criador que ele analisa pelo que as plataformas se tornaram. O foco segue sendo fortalecer e potencializar as comunidades. Sejam elas de mil, ou milhões.
E não à toa, por essas reflexões, experiências e suspiros inspiracionais, me tornei aquilo que está no futuro da relação digital entre humanos e os criadores, segundo o Jack Conte. Me tornei um super fã de Austin, e podendo seguirei consumindo mais vezes o South By Southwest fazendo parte dessa comunidade.
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