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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

Por mais diversidade na indústria do investimento

Olhares mais plurais garantem portfólios mais saudáveis e empreendedores mais diversos garantem a chegada mais certeira a mercados consumidores mais amplos


10 de março de 2024 - 19h12

A indústria de investimento é possivelmente uma das menos diversas no mundo. Eu que venho da indústria da comunicação, onde também há grande desequilíbrio e iniqüidade e entrei nessa de fusões, aquisições e investimentos há 3 anos, ainda me surpreendo com a cansativa homogeneidade dos meus interlocutores em fundos, VCs, aceleradoras e assessores. Não só são todos homens brancos e ricos, como suas fontes de informação, suas escolas (acadêmicas e profissionais) e suas referências são as mesmas. E isso é assim no Brasil, na América Latina, na Europa, nos EUA, na Ásia.

Ontem assisti a um painel com 4 mulheres com posições de liderança em fundos de venture capital. Judene Small Jean-Louis, Gabie Kur, Dana Wildeboer e Jenny He falaram dos desafios de ser mulher numa indústria dominada por homens e todas reconhecem que tiveram que se esforçar duplamente para conseguir cavar seus espaços. Algumas delas, apesar de se destacarem em firmas globais, acabaram saindo e abrindo seus próprios fundos, vendo que era a melhor maneira de conseguirem determinar o destino de suas carreiras e implementar as ideais que elas traziam. É evidente que a diversidade é boa para os negócios e também o é na indústria do investimento. Olhares mais plurais garantem portfólios mais saudáveis e empreendedores mais diversos garantem a chegada mais certeira a mercados consumidores mais amplos (addressable market).

Hoje vi uma sessão com Arian Simone, fundadora do Fearless Fund, um fundo de investimentos dirigido a fundadoras mulheres negras. Ela, que montou um primeiro fundo de 25 milhões de dólares, investiu em várias companhias que vêm tendo performances destacáveis e vinha levantando um segundo fundo maior, foi surpreendida em agosto do ano passado com uma demanda judicial, acusando-a de discriminar outros grupos étnicos (homens brancos?) ao focar seus investimentos em mulheres negras. O impacto para seu negócio foi imediato. Ela teve que reduzir sua equipe de 19 pessoas pra 6 e também viu sua rodada de captação fortemente afetada. A agenda, segundo Arian, é política e visa frear as iniciativas de diversidade equidade e inclusão, inibindo as empresas a continuar investindo nesta agenda, recuando de uma pauta progressista, que ainda está muito longe de estar estabelecida, mas que vinha fazendo avanços consideráveis. A sessão contou ainda com inúmeros testemunhos de assistentes que são empreendedores pertencentes a minorias étnicas e que contaram suas histórias e expuseram sua frustração em ver esses movimentos de ataque às políticas de DE&I acontecerem. Arian as incentivou a seguirem lutando e a ampliarem suas vozes, exigindo dos políticos nos quais votaram que trabalhem na proteção dessas políticas de inclusão. Ela também falou da importância do trabalho dos aliados, homens brancos privilegiados, que podem e devem fazer sua parte em trabalhar por uma causa que, ela lembra, não é das minorias e sim de todos, pelo bem da sociedade e dos negócios.

Saí da sessão com Arian Simone instigado a contribuir para a causa de maneira mais efetiva. Há 3 anos decidi que todos os meus novos investimentos seriam em empresas com pelo menos uma founder mulher e assim tenho feito. Também aceitei o desafio de mentorar algumas empreendedoras. Agora quero lutar para dar maior espaço às mulheres nas posições de decisão sobre investimentos. E quero seguir advogando, mas de maneira mais efusiva, pela maior diversidade no setor, seja nas empresas nas quais trabalho, como nas que de alguma forma posso influenciar.

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