DE 08 A 16 DE MARÇO DE 2024 | AUSTIN - EUA

SXSW

Quem tem medo da IA?

Porque o SXSW vem atraindo uma horda de profissionais receosos com o futuro


7 de março de 2024 - 15h30

Na chegada do SXSW, evento que evidencia as maiores tendências mundiais em comunicação e tecnologia, o clima é sobretudo de apreensão. Por mais que muitos dos presentes sejam experts em seus ramos de atuação, a dura realidade é que tudo o que podemos ter em relação ao futuro são projeções em cima de dados atuais e, claro, muitas especulações.

O primeiro de todos os receios não carece de uma pesquisa muito acirrada para dar as caras. Quem começa a digitar “a IA…” no campo de busca do Google se depara com a dúvida fatídica que roda pelos corredores de todas as empresas: “a IA vai roubar o meu emprego?”.

Será difícil para qualquer pessoa que faça essa pergunta obter uma resposta objetiva, mas o que podemos garantir é que, a partir de agora, o mercado nunca mais será o mesmo. Isso se deve ao fato de a automação da inteligência coletiva ser capaz de reunir e processar rapidamente informações que pessoas de diferentes lugares e campos de estudo detêm, o que já exige uma grande adaptabilidade dos profissionais cujos cargos são restritos à reunião e organização de dados.

Mas, por outro lado, aqueles que se especializarem na interpretação e manuseio desses dados a partir do uso das ferramentas de IA serão recompensados com uma redução considerável no esforço de pesquisa, podendo encabeçar um avanço sem precedentes de ciências como astrofísica, robótica e medicina, tópicos que estarão muito presentes nos palcos do SXSW.

Entretanto, entre a neblina difusa do otimismo que envolve esse tema, existe uma grande quantidade de comunicadores com medo não apenas de ficarem obsoletos, como também de terem o seu potencial criativo colocado em cheque. Basta imaginar a reação de alguém que passou a vida absorvendo e desenvolvendo as técnicas de arte mais elaboradas ao se deparar com uma belíssima arte produzida por IA sob a cruel pergunta: “se o que você faz é arte, isso é o quê?”.

Essa é uma insegurança que a organização do SXSW visa aplacar – ou intensificar, dependendo do ponto de vista – trazendo dezenas dos maiores gurus do mundo às suas mesas de discussão. Mas os receios que envolvem esse debate vão muito além de uma possível substituição de funções profissionais. Um dos medos mais presentes, e que é tema de fóruns políticos internacionais assíduos, é o papel da IA na manipulação das eleições políticas por meio da subversão de imagens, vídeos e áudios, além da rápida evolução do processo conhecido como deep fake.

As discussões sobre esse tema já tiram o sono das grandes organizações governamentais em todo o mundo. Recentemente, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes, manifestou sua preocupação com o possível uso indevido da IA em “ataques de desinformação direcionados em relação à vontade do eleitorado”. Buscando precaver os impactos desse cenário já em 2024, o TSE se juntou à União Europeia para orquestrar caminhos de regulamentação da inteligência artificial. Debater sobre esse tema é de urgente necessidade para que a sociedade mantenha as suas bases democráticas e isso por si só já faz do SXSW 2024 uma edição histórica.

Além disso, o que eleva a importância do evento a um marco incontestável é que, dentre todos esses tópicos efervescentes, existem temores que são ainda mais palpáveis, literalmente. Um dos temas mais abordados no programa de palestras do das próximas semanas é o impacto ecológico que a IA pode causar no planeta. E aqui, trata-se de uma questão para além do social, de resultado físico imediato. Para se ter ideia, segundo a rede Observatório do Clima, uma conversa de dez a cinquenta respostas com o chatbot da IA pode consumir meio litro de água e, além disso, somente para treinar o GPT – 3 nos centros de dados da Microsoft nos EUA, pode ter ocorrido um consumo de 5.4 milhões de litros de água.

É inegável que estamos em um momento de mudanças profundas e estruturais na sociedade e em sua relação com o planeta, e esse é um ano chave para entendermos quais são as novas dinâmicas que ditarão o que conhecemos como realidade. No meio de toda essa ansiedade existem excelentes perspectivas sobre o futuro e é em busca delas que milhares de pessoas se reúnem em Austin nesta semana. Na bagagem da vinda, todos trazem mais perguntas que respostas, e na bagagem de volta não será diferente, já que, para entender o futuro é sempre melhor manter-se perguntando do que respondendo.

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