Os 3 C’s que constroem compaixão e resiliência
Simran Jeet Singh, diretor do Aspen Institute e autor de best-seller sobre empatia e resiliência, oferece uma visão sobre como reagir a ofensas e confrontos no dia a dia
Simran Jeet Singh, diretor do Aspen Institute e autor de best-seller sobre empatia e resiliência, oferece uma visão sobre como reagir a ofensas e confrontos no dia a dia
Isabella Lessa
11 de março de 2024 - 20h59
Simran Jeet Singh odeia a palavra resiliência e os discursos frequentes sobre como é transformador o processo de pessoas se tornando mais resilientes. Existem chief resilient officers, workshops e cursos sobre como aprender a ser resiliente, até mesmo shampoos que prometem deixar os fios mais resilientes, seja lá o que isso signifique.
“A palavra resiliência se tornou tão onipresente que perdeu o significado. Será que sabemos do que estamos falando? O que é resiliência? E, mais do que isso, como nos tornamos resilientes? As ideias nos guiam, mas precisamos saber como agir sobre elas”, disse Singh, que é diretor executivo do programa de sociedade e religião do The Aspen Institute.
Um dos fatores que levam diretamente à resiliência, segundo Simran, que também é autor do best-seller The Light We Give: How Sikh Wisdom Can Transform Your Life, é a compaixão. Antes mesmo de chegar a pesquisas que comprovam que uma coisa não existe sem a outra, ele começou a ter os primeiros sinais disso por meio de experiências em sua vida pessoal e profissional.
Filho de imigrantes indianos e nascido nos EUA, Simran se acostumou a hostilizado pela sua aparência em seu próprio país. Um dia, ele e seu irmão foram comer tacos na cidade natal de ambos, San Antonio, no Texas, e uma mulher se aproximou, comentando de forma irônica que o sul norte-americano estaria se tornando muito árabe.
Naquele momento, ele se viu diante da escolha de como reagir àquela hostilidade. Ainda que impulso natural e inerente a qualquer ser humano seja o da raiva seguida por uma resposta à altura, existe sempre a possibilidade de escolher um outro caminho, refletiu.
“Ter optado pela primeira alternativa teria arruinado minha semana. Poderia ter me sentido bem por alguns segundos, apenas. Resolvi deixar para lá. E essa escolha fez toda a diferença. Sei que foi um pequeno momento e uma escolha pequena diante de piores casos de racismo que sofri. Mas todos temos a oportunidade de fazer as escolhas certas – e isso é parte da resiliência. A vida não simplesmente acontece diante de nós, podemos navegar a adversidade que nos acomete”, compartilhou.
Em uma outra situação, ele teve uma semana difícil no trabalho e desabafou com um amigo próximo. A resposta do amigo foi: “você vai ficar bem, já passou por coisa pior”. Simran se sentiu imediatamente desconfortável com o comentário e, depois de um período tentando processar a sensação, chegou a uma conclusão.
A de que existe a crença, em parte verdadeira, que pessoas forjadas em contextos menos favoráveis tendem a lidar melhor com adversidades. Isso evidencia que o consenso geral em torno do significado de resiliência é presumir que certas pessoas, por causa de como aparentam ser, têm maior ou menor facilidade para responder a desafios.
“Meu amigo não me deu o apoio que eu estava buscando. Eu não quero ficar ok, não quero sobreviver. Queremos saúde, felicidade, bem-estar. Isso é prosperar. E a diferença entre as duas coisas são imensas. Todos vamos ficar ok, mas e se pudermos ficar ótimos? Resiliência é sobre prosperidade”, disse.
Mais uma vez, Simran trouxe uma experiência pessoal: hoje morador de Nova York, ele pregou um táxi para o aeroporto de Newark. Logo que entrou no carro, o motorista lhe disse que não gostava de dirigir até New Jersey.
Ali mesmo, ele soube que a corrida seria difícil. E foi. O motorista errou a saída para o aeroporto duas vezes, e Simran, irritado, começou a dar as direções. Então percebeu que as mãos do homem no volante estavam tremendo. E ele começou a se perguntar que tipo de problemas poderiam estar se passando com aquela pessoa à sua frente.
Essa capacidade de fazer perguntas e de ter interesse genuíno no que leva a pessoa a ser e agir de determinada maneira, é algo que vem à tona somente com certa dose de criatividade.
O Ocidente acredita que é preciso ter compaixão porque é a coisa certa a se fazer. Ou porque ajuda a amenizar o sofrimento alheio. E ainda que essas duas premissas sejam verdadeiras, há uma terceira, menos falada, que é o que se sente quando se dá algo a alguém.
“Amacia um mundo em que não existe maciez suficiente. Em um mundo em que estamos constantemente nos fechando uns diante dos outros. Ter ficado curioso em relação ao motorista do táxi me amoleceu”.
É preciso, segundo Simran, combater um contexto polarizado como o atual – em que é fácil fazer presunções sobre alguém, em que caixinha vai colocar aquela pessoa para poder julgá-la e provar que ela está errada –, com a curiosidade.
É necessário ter coragem para receber críticas, sejam elas verdadeiras ou falsas. As pessoas sempre vão falar coisas boas e ruins sobre as outras, e a chave para contornar as que são ruins é saber quem se é.
Simran reconhece que, para chegar a esse estado é preciso ter clareza e não se deixar distrair, por isso a coragem entra em cena: a coragem para tomar a decisão de não entrar no mesmo jogo que a pessoa que proferiu a ofensa e, em vez disso, reconhecer quem se é e onde quer chegar.
Este terceiro item parcer ser o mais óbvio e intuitivo, pontuou Simran. Afinal, se as pessoas não se sentem conectadas umas às outras, é impossível sentir compaixão. Porém, na cultura ocidental, há uma compreensão bastante limitada sobre como as relações e o olhar sobre o outro se dão.
À medida que mais comunidades e pessoas interagem com novas culturas e tentam entendê-las, pode haver a noção de que há uma união maior em curso. Mas há muito espaço para a interconexão ser explorada, aponta Simran: a de que o meu bem-estar é validado a partir do bem-estar do outro.
“Se conseguirmos construir estes três pilares e criar a transformação a partir de nós mesmos, se tivermos mais compaixão, seremos mais resilientes. Construiremos confiança, grupos de apoio, perspectiva”.
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