Opinião

A hora e o papel do Brasil na nova economia mundial

A bioeconomia não é apenas um conceito para o nosso país, é parte da nossa identidade e do nosso futuro

Helen Pedroso

Diretora de Responsabilidade Corporativa e Direitos Humanos do Grupo L’Oréal no Brasil 18 de novembro de 2025 - 10h45

(Crédito: Shutterstock)

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Há algo de profundamente transformador no momento em que vivemos. Pela primeira vez, o crescimento econômico e a regeneração ambiental não precisam estar em lados opostos. O que antes parecia uma contradição começa a se tornar estratégia, e o nome dessa virada é bioeconomia.

Em vez de um modelo linear que extrai, produz e descarta, a bioeconomia propõe um ciclo virtuoso, baseado na valorização da biodiversidade, no conhecimento científico e na inovação tecnológica. No Brasil, essa transformação já está em curso. A bioeconomia não é apenas um conceito para o nosso país; é parte da nossa identidade e do nosso futuro.

Temos vantagens únicas que nos colocam no centro dessa transição global: a maior biodiversidade do planeta, capital intelectual robusto, cadeias produtivas já estabelecidas e uma estrutura crescente de investimentos e regulamentações que favorecem a inovação sustentável.

Mas nenhuma transição acontece apenas pela força da tecnologia. É preciso visão, coerência e colaboração entre setores. O setor privado, nesse contexto, tem um papel decisivo, e é aqui que exemplos concretos mostram que alinhar ambição ambiental com impacto real é possível.

No Grupo L’Oréal, a bioeconomia é um eixo estratégico da transformação que estamos a construir. Ela nos permite repensar toda a cadeia de valor: do cultivo da matéria-prima ao uso responsável de energia e embalagens. Nosso compromisso é claro: queremos descarbonizar nossas fórmulas e operações, substituindo matérias-primas fósseis por recursos renováveis, reciclados e de origem sustentável. Até 2030, buscamos que 75% dos ingredientes em nossas fórmulas sejam de origem natural ou reciclada e que 90% dos materiais de base biológica usados em fórmulas e embalagens venham de fontes sustentáveis.

Essa visão se concretiza em projetos tangíveis. Um dos que mais me orgulham é o case do biometano, um marco na descarbonização da nossa logística. Em parceria com a Gás Verde, inauguramos o primeiro ponto dedicado de abastecimento com biometano na América Latina, aproveitando resíduos orgânicos que antes seriam desperdiçados. Hoje, esse biocombustível move parte da nossa frota, substituindo o diesel e reduzindo significativamente as emissões. A estimativa é evitar 2.200 toneladas de CO₂ até o final de 2025, um impacto real que inspira outras empresas a seguir o mesmo caminho.

Mas o mais importante é entender que a bioeconomia vai além da tecnologia e dos números: ela é sobre pessoas e relações. Trata-se de reconhecer o valor dos conhecimentos tradicionais, conectar inovação científica e sabedoria ancestral, e garantir que os benefícios cheguem a quem está na base. Nas comunidades extrativistas, nas cooperativas, nos pequenos produtores, encontramos a essência da regeneração: a prosperidade que preserva.

Ao longo da minha trajetória, aprendi que transformar o modo de produzir e consumir exige consistência, paciência e coragem. Exige rever hábitos, processos e métricas de sucesso. E, sobretudo, exige colaboração. Nenhuma empresa, por maior que seja, conseguirá sozinha resolver os desafios ambientais e sociais do nosso tempo. Precisamos de parcerias entre setores, de políticas públicas que valorizem a natureza como ativo econômico e de consumidores conscientes, que compreendam o poder de suas escolhas.

O Brasil tem tudo para liderar a bioeconomia global. Temos biodiversidade, ciência e criatividade. O que precisamos é transformar esse potencial em política de Estado e cultura de mercado, em um modelo que veja a floresta em pé como fonte de valor e prosperidade, e não como obstáculo ao desenvolvimento.

Quando penso no futuro, imagino um mundo em que progresso e preservação sejam sinônimos. Onde o desenvolvimento econômico não aconteça à custa da vida, mas em parceria com ela. A bioeconomia nos oferece essa possibilidade, a de crescer respeitando os limites do planeta e ampliando as oportunidades para todos.