Minhas dicas para a realização, não para o sucesso
De tanto ser questionada sobre como trilhar um caminho profissional bem-sucedido, resolvi compartilhar algumas vivências e desafios

(Crédito: Shutterstock)
Estou no Google há 14 anos. Parece que foi ontem, mas também parece muito tempo. Nos últimos três anos, assumi a diretoria de marketing no Brasil, obtendo uma visão mais abrangente das operações da empresa, enquanto conciliava mudanças pessoais e a oportunidade de participar de eventos globais como a COP.
Essa brevíssima apresentação serve como introdução ao que será nosso espaço de diálogo aqui no Women to Watch. De tanto ser questionada sobre dicas para trilhar um caminho profissional de sucesso, resolvi lançar mão da escrita, que eu adoro, para compartilhar algumas destas vivências e desafios. Espero deixar reflexões sobre possíveis caminhos para que mais mulheres trilhem essa dura e recompensadora jornada corporativa.
E justamente sobre essa trilha, uma das perguntas que mais ouço em mentorias é sobre qual a característica ou habilidade principal e necessária para a tal “carreira de sucesso”. Mas aqui temos duas grandes questões: sucesso e habilidades. Aqui também começa a desconstrução que quero propor.
Confesso que ‘sucesso’ não é uma palavra com a qual me identifico. O que é sucesso? Pra que e pra quem? Acredito que o ‘sucesso’ precisa ser entendido individualmente, como um exercício profundo de entendimento de quem somos, quais os nossos valores, o que queremos realizar, o que nos satisfaz. Para simplificar, essas noções também mudam: o que era necessidade, realização e satisfação aos 20 anos, para mim são bem diferentes aos 46.
Lá no começo da minha carreira, a realização era ter uma experiência internacional. Acabei decidindo pela França, onde fui fazer um curso de especialização e comecei um estágio em Paris. Lembro bem da maior sensação de realização: conseguir me sustentar em Paris, pagando sozinha o aluguel do apartamento de 12m² e ver, de dentro, o desenvolvimento de comunicação digital de grandes marcas.
Pensando no que é realização hoje, vejo mais camadas, mas refletindo aqui que passa por conseguir realizar um impacto direto no negócio do Google e no Brasil, nutrir um time motivado, seguir me testando e aprendendo e ser a guia de um desenvolvimento saudável do meu filho. Fica a primeira provocação: para você, onde está a realização, o sucesso?
Sobre as tais habilidades necessárias, claro que depende muito de onde se quer chegar e em que contexto a trilha está. Mas se posso tentar generalizar um pouquinho aqui, o que acredito que me ajudou foi uma curiosidade e uma inquietação.
Minha primeira missão no Google foi apresentar o Chrome aos consumidores. O que parecia ser mais uma campanha de produto se provou complexo: “o que é um navegador?”, “por que eu precisaria trocar o que tenho usado?”. Eram esses questionamentos que a gente ouvia dos consumidores.
De 14 anos para cá, consumidores foram ficando mais avançados, ou “tech savvies”. Do Desktop, passamos pros Smartphones e a eles somou-se a TV conectada e a revolução da inteligência artificial. Tudo mudou! Para me manter atenta aos desafios, eu recorri à curiosidade e ao que chamo de “poder do não sei”.
A curiosidade é o que me move a entender se surgiu uma tecnologia nova, um produto novo, uma nova forma de se comunicar, de trabalhar, de se entreter. E o que demorei mais para compreender é que precisamos abandonar a vergonha de dizer ‘eu não sei’. Tenho feito esse exercício honesto: “Não vi isso que você está me contando, me fala mais?” É um passo crucial para quem busca a relevância contínua.
Impulsionada pela curiosidade, a inquietação esteve em como aplicar isso que estou aprendendo. Como aplicar essa nova tecnologia, como incorporar um novo hábito do consumidor, como ajudar em um novo desafio da empresa. A inquietação vem nesse exercício constante de repensar o que estou fazendo e como. E manter a inquietação de “e como pode ser o futuro”?
Fica então o convite para que a gente siga buscando a nossa curiosidade e acredite na inquietação.