Opinião

A intuição faz parte da sua liderança?

Ao longo dos anos, entendi que o verdadeiro diferencial está em algo mais sutil e poderoso  

Isabela Castilho

CEO da Rocketseat 28 de julho de 2025 - 10h07

(Crédito: Shutterstock)

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Como mulher em posição de liderança num setor ainda majoritariamente masculino desafiando uma estatística de probabilidade ao ocupar o espaço que ocupo, sei o quanto a linguagem dos dados pode nos empoderar. Porque quando temos clareza, temos voz. E quando temos voz, podemos abrir caminhos. Não só para nós mesmas, mas para muitas outras que virão.

Quando comecei minha jornada na Rocketseat, sabia que tecnologia seria o centro da transformação da minha carreira. Mas o que aprendi ao longo dos anos é que, mais do que dominar linguagens de programação ou ferramentas sofisticadas, o verdadeiro diferencial está em algo mais sutil (e poderoso): saber ler, interpretar e decidir com base em dados. Quando somos vistas como profissionais emotivas, é preciso mostrar que algumas coisas são mais que intuição. São, de fato, estratégia. 

Pode parecer óbvio num mundo onde cada clique, curtida ou compra deixa um rastro digital. Mas a realidade é que, mesmo com uma avalanche de informações à disposição, ainda existe, para os profissionais e as empresas, um longo caminho para transformarmos dados em ação.  

Segundo um estudo recente do Google, 90% dos profissionais de marketing reconhecem o valor dos dados primários, mas só 1 em cada 3 se sente pronto para usá-los com eficiência. Isso não vale só para marketing. Em tecnologia, RH, vendas ou produto, tomar decisões com base em intuição tem sido a regra, quando poderia ser exceção.

Arrisco dizer que esse dado reflete o comportamento de muitas outras áreas. E poderia me considerar uma otimista por pensar assim.  Mas não precisamos enxergar o copo meio vazio. Porque tudo isso representa uma enorme oportunidade. Isso pode mudar, e tem mudado. 

Hoje, vemos líderes que não vieram da tecnologia, mas que entenderam o valor estratégico da análise de dados, assumindo cargos-chave, mudando suas trajetórias e tomando decisões com muito mais segurança. É aqui que a inteligência artificial entra como aceleradora, mas também como filtro: ela potencializa quem já sabe perguntar, interpretar e agir com base em informações concretas. 

No dia a dia da Rocketseat, vejo esse movimento acontecer de forma inspiradora. Alunos que vieram de outras áreas e, ao dominarem fundamentos de dados e IA, ganharam voz, clareza e influência. Profissionais que começaram com uma planilha simples e hoje criam soluções ainda mais inteligentes e apresentam dashboards estratégicos. Profissionais que entenderam que dados não são um fim, mas um caminho para decisões mais humanas, eficazes e conscientes. 

Para quem acha que isso é técnico demais, deixo um convite: experimente participar de uma decisão baseada em dados. Veja o poder de saber argumentar com evidência. Você não precisa virar cientista de dados, mas pode (e deve) aprender o suficiente para usar essas habilidades como diferencial. De estratégias robustas de marketing ao “simples” botão dentro do seu site de vendas, tudo pode ser impulsionado por dados analisados com propriedade. 

Esse é um dos grandes trunfos que a inteligência artificial traz. Ela vai, sim, automatizar tarefas, mas vai também exigir uma nova postura: menos achismo, mais estratégia. Menos repetição, mais pensamento crítico. E isso não depende de formação prévia, depende da vontade de aprender e de se permitir mudar o olhar sobre seu próprio trabalho.