Burnout parental atinge 9 em cada 10 mães
Não haverá equidade de gênero sem um olhar afirmativo sobre a maternidade
Não haverá equidade de gênero sem um olhar afirmativo sobre a maternidade
29 de agosto de 2024 - 15h28
A origem do termo “burnout” surgiu em 1974, quando o psicanalista Herbert Freudenberger usou pela primeira vez esta expressão, derivada do inglês “to burn out”. Freudenberger passou a descrever o estado de alguém que atingiu seus limites, afetando gravemente seu desempenho físico e emocional. O termo em inglês significa “esgotamento e exaustão”, referindo-se à incapacidade de continuar desempenhando funções que foram determinadas.
De acordo com o Ministério da Saúde, um a cada 4 brasileiros sofre com sintomas de burnout. O Brasil, neste levantamento, é o país que lidera o ranking de sintomas relacionados à ansiedade e à depressão na América Latina, com quase 19 milhões de pessoas.
A pesquisa de Burnout Parental no Brasil nasceu de uma inquietude da B2Mamy e Kiddle Pass, após terem contato com um estudo da Universidade de Ohio. Foi realizada entre abril e julho de 2024 e ouviu 2.000 mães. O levantamento destaca o preocupante adoecimento das participantes, revelando que mais da metade das mães já receberam algum tipo de diagnóstico referente à saúde mental.
O estudo utilizou uma escala de burnout com advérbios de frequência (nunca à frequentemente) adaptada para a relação entre as figuras parentais (mães e pais) na relação com seus filhos. Compõem perguntas como: sinto-me sobrecarregada ao tentar equilibrar meu trabalho com as minhas responsabilidades com meus filhos?
O burnout parental é um tipo específico de esgotamento emocional que afeta as figuras parentais maternas e paternas, devido ao estresse contínuo e à sobrecarga associada às responsabilidades parentais cotidianas.
Envolve uma sensação de ineficiência perante as relações com seus filhos, principalmente relacionada ao cuidado e proteção, quase uma despersonalização no papel do cuidar.
Soma-se aos sintomas de burnout:
– Exaustão emocional especificamente em relação aos cuidados com os filhos com episódios de raiva ou apatia extrema;
– Sentimentos de distanciamento com comprometimento da realização pessoal na parentalidade;
– Autopercepção inadequada comparada a outras figuras parentais.
Alguns dados destacam como 75% das mães ou figuras parentais maternas chegaram a questionar, em algum momento, a permanência no mercado de trabalho diante do adoecimento e transtornos mentais – diagnosticados em mais da metade das participantes.
As mulheres também foram questionadas sobre sua rede de apoio, e 20% delas responderam que não tiveram suporte com filhos e 3 a cada 10 não se sentem seguras em falar sobre a sua família no trabalho.
Olhando para o recorte de raça, as mães negras sinalizaram um esgotamento moderado a grave 24% a mais que as brancas.
A despeito da importância óbvia das mães para a sociedade, elas encontram um ambiente hostil no mercado de trabalho devido a sua condição. É o que se chama de penalidade da maternidade, uma realidade que implica em menores salários, na progressão das carreiras e mesmo na própria empregabilidade. E a FGV informa que 48% delas saem do mercado de trabalho até o segundo ano de retorno da licença-maternidade.
Diante desse cenário, era de se esperar que muitas mulheres tomassem o caminho do empreendedorismo. De acordo com uma pesquisa feita pela Boston Consulting Group (BCG), em parceria com a Mass Challenge, startups fundadas por mulheres recebem em média US$935 mil em investimentos, contra US$ 2,1 milhões em aportes das fundadas por homens mesmo dando um retorno maior a longo prazo. Empreender é arriscado e complexo e não acredito que todas querem essa empreitada.
Um recado para as empresas:
– Entenda que desigualdade e burnout têm custo financeiro e reputacional;
– Invista na implementação de benefícios e políticas que estejam alinhados com as necessidades específicas de parentalidade;
– Prover ambientes pró-família, na qual líderes e liderados sejam capazes de entender a diversidade e integralidade de todos no time.
Essa pesquisa revela uma crise silenciosa que exige a nossa atenção imediata. É hora de transformarmos os dados desse documento em ações concretas. Empresas, governo, homens e sociedade civil: somos nós que podemos construir uma realidade onde as mulheres possam conciliar suas vidas pessoais e profissionais sem abrir mão de sua saúde e bem-estar.
O report completo pode ser baixado no link.
Com amor e dados,
Dani Junco
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