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Empreendedorismo LGBTQIAP+: superando obstáculos e gerando impacto

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Empreendedorismo LGBTQIAP+: superando obstáculos e gerando impacto

Entenda o contexto dos empreendedores LGBTQIAP+ no Brasil, histórias dessas mulheres e como empresas podem apoiar a causa


28 de junho de 2023 - 12h42

Da esquerda para a direita: Amanda Aragão, sócia da Mais Diversidade, Mariana Torres, CEO da Diversa Jobs, Thalita Gelenske, CEO da Blend_Edu e Raquel Virgínia, CEO da Inhaí (Crédito: Divulgação)

Da esquerda para a direita: Amanda Aragão, sócia da Mais Diversidade, Mariana Torres, CEO da Diversa Jobs, Thalita Gelenske, CEO da Blend_Edu e Raquel Virgínia, CEO da Inhaí (Crédito: Divulgação)

Para empreendedores LGBTQIAP+, fazer parte de marcador social é um aspecto central de suas vidas e, portanto, de seus negócios”, como afirma a pesquisa “Empreendedorismo LGBTI+ 50+ Gerações”, do Instituto Mais Diversidade. Além de enfrentarem obstáculos como a falta de recursos e contatos, a comunidade enxerga no empreendedorismo uma oportunidade para gerar impacto e ter maior liberdade para se expressarem por completo. 

Ainda segundo a pesquisa, o cenário econômico do país é um dos principais desafios enfrentados por esses empreendedores (39%). Outros obstáculos importantes são a falta de investimento (53%) e a falta de redes de contato (40%), sendo este último tópico ainda mais complexo para pretos e pardos (59%) e indígenas (48%).  

Raquel Virgínia é Women To Watch 2022 e CEO da Inhaí, startup que acelera o desenvolvimento da diversidade em empresas. Dentre suas iniciativas, a organização possui a “Contaí Comunidade”, uma rede social para empreendedores LGBTQIAP+. Em sua avaliação, existem três grandes desafios: “o primeiro é nos reconhecer como pessoas que empreendem, pois grande parte das pessoas não têm a autoestima necessária para se estabelecer no ramo empresarial mais normativo”, relata.  

“O segundo é conseguir construir um plano bem embasado. O distanciamento do ramo empresarial normativo potencializa a dificuldade de ter apoio na construção de um planejamento eficaz”, descreve. Por fim, Raquel também destaca o fator financeiro como uma dificuldade. “A maioria das pessoas LGBTs não tem aporte de investimento e isso naturalmente não ajuda na evolução dos negócios”.

Raquel Virgínia, Women To Watch 2022, fundadora e CEO da Inhaí (Crédito: Divulgação)

Raquel Virgínia, Women To Watch 2022, fundadora e CEO da Inhaí (Crédito: Divulgação)

ONDE O PINK MONEY NÃO CHEGA 

Amanda Aragão, sócia, CHRO e head de Curadoria de Talentos da Mais Diversidade também pontua esse desafio. “Existem pouquíssimas iniciativas no país, principalmente com recorte para pessoas LGBTI+, que fazem investimento direto (de capital semente)”, explica. Logo, a pesquisa mostra que 75% dos empreendedores usaram recursos próprios para empreender. “Temos um desafio de educação financeira para as pessoas entenderem que existe a possibilidade de acessarem recursos no banco, e entenderem que isso não é um risco, mas que pode ser um caminho de crescimento”, continua. 

Além das dificuldades financeiras de começar um negócio, esses empreendedores enfrentam obstáculos para manter seus negócios funcionando. Apenas 57% deles conseguem obter remuneração com seu negócio próprio. Já em relação à formalidade, apesar de 78,82% possuírem CNPJ, a grande maioria é MEI (62,69%). Ou seja, a maioria das empresas têm um faturamento limitado, e apenas 16% dos entrevistados disseram ganhar mais de R$ 81 mil por ano. 

IMPACTO NO DNA 

De acordo com Raquel Virgínia, existe um ecossistema que exclui sistematicamente as pessoas LGBTQIAP+ do mercado de trabalho. “Infelizmente, essas pessoas não são absorvidas pelo mercado de trabalho formal e têm que criar um negócio para sobreviver”, reflete. “Em geral, são pessoas que enxergam oportunidade na dor e, por não terem técnicas de empreender, sofrem muito no começo, porém o que estamos desenvolvendo é justamente a chance de instrumentalizar e dar melhores condições para essa jornada”, continua. 

Além de existir esse entrave de acesso, ainda existem desafios de permanência dessas pessoas. Segundo a pesquisa “Assumido, Com Orgulho”, do LinkedIn, 25% dos profissionais LGBTQIAP+ falam abertamente sobre sua sexualidade com apenas uma parte dos colegas e 25% com ninguém. Dentre os motivos, 37% afirmaram terem medo de sofrer represálias. Logo, o empreendedorismo surge como uma possibilidade delas se expressarem por completo em suas carreiras profissionais.  

A pesquisa da Mais Diversidade encontrou mais duas principais razões que levam essas pessoas a empreender. 48% dos entrevistados listaram “fazer diferença no mundo” e “aproveitar uma habilidade” como os principais motivadores para a abertura dos negócios.

O valor de ser mulher lésbica num negócio de impacto

Thalita Gelenske é fundadora e CEO da Blend_Edu (Crédito: Divulgação)

Thalita Gelenske é fundadora e CEO da Blend_Edu (Crédito: Divulgação)

Esse foi o caso de Thalita Gelenske, fundadora da Blend_Edu, uma consultoria de diversidade corporativa. Assim como muitos da comunidade, Thalita não falava abertamente sobre sua orientação sexual na empresa que trabalhava como RH, por receio de como aquilo impactaria sua carreira. Mas quando surgiu a oportunidade de estruturar a área de diversidade da empresa, ela enxergou uma saída para criar um espaço acolhedor para pessoas como ela. 

“Eu vi nesse tema de diversidade e inclusão um grande propósito. Uma forma de desenvolver algo que fizesse sentido para mim profissionalmente, mas também pessoalmente”, relata. Ativando suas conexões no LinkedIn, Thalita começou vendendo treinamentos, consultorias e outras ações, num modelo de bootstrapping. Ou seja, revertendo o lucro que recebia dos projetos para investir no crescimento do negócio. “Com certeza trouxe uma camada de complexidade e até uma curva de crescimento mais demorada”, descreve. 

A empreendedora até participou de alguns editais para startups, ainda em 2018, mas enfrentava a descrença de investidores. Ela lembra: “Na época, o ecossistema de investidores de impacto no Brasil era muito embrionário. Eu senti essa dificuldade por ser uma liderança mulher, num negócio de impacto e falando de diversidade. Nem todo mundo via valor”. 

Hoje, a Blend_Edu se posiciona como uma startup especialista em inovação para a diversidade. Dentre suas áreas de atuação, a empresa oferece consultorias, treinamentos, experiências e a Diversidade S.A, um ambiente digital para capacitar times de diversidade.

A diversidade como motor da inovação

Mariana Torres é CEO da Diversa Jobs (Crédito: Divulgação)

Mariana Torres é CEO da Diversa Jobs (Crédito: Divulgação)

O empreendedorismo também veio para Mariana Torres como uma oportunidade de criar impacto na sociedade. Como psicóloga de formação e vinda do subúrbio carioca, a empreendedora entendia o significado da frase “a oportunidade não cruza o Rebouças”, dita por Maria Rita na canção “Corpitcho”. “O Rebouças é um túnel que separa a Zona Sul (área mais abastada da cidade) das outras zonas, onde as oportunidades são escassas”, explica.  

“A Diversa Jobs nasceu para ser uma ponte entre empresas e pessoas que geralmente têm menos oportunidades”, descreve a psicóloga. “Mulheres, pessoas negras, mães solo, pessoas com deficiência, pessoas da comunidade LGBT+ também possuem um poder incrivelmente grande de inovação, criatividade e resolução de problemas. Quando tive contato com algumas empresas, vi que elas precisavam disso”, continua Mariana. 

Hoje, a Diversa Jobs é uma HRtech que conecta pessoas de grupos sub-representados com empresas que desejam aumentar a diversidade de seus times. “Além do serviço de recrutamento e seleção de ‘talentos diversos’, também realizamos serviços alinhados às estratégias ESG, como planos de ação, mentorias, cursos para liderança e RHs, por exemplo”, explica a fundadora.

Assim como Thalita, Mariana também enfrentou desafios para adentrar no ambiente das startups. “O ecossistema de inovação – empreendedores, investidores, hubs e organizações – ainda é muito masculino. Então, quando eu chego, uma mulher, negra e LGBT, há sim um certo estranhamento, uma descredibilização, muitas vezes”, relata. 

COMO EMPRESAS PODEM APOIAR EMPREENDEDORES LGBTQIAPN+ 

Amanda Aragão, sócia e CHR da Mais Diversidade (Crédito: Divulgação)

Amanda Aragão, sócia e CHR da Mais Diversidade (Crédito: Divulgação)

Em tempos de agenda ESG, um primeiro passo que as organizações podem tomar é fazer uma análise do destino de seus investimentos. “Eu acho que o mais simples seria fazer uma avaliação entre o seu próprio investimento social privado. E se questionar: para quais organizações eu estou repassando o meu recurso? Quem é aquela pessoa que está à frente do negócio?” reflete Amanda Aragão. 

“Uma outra alternativa é por meio do desenvolvimento de fornecedores”, relata. Ou seja, a organização avalia quais empresas fazem parte da sua cadeia de valor e propõe ações intencionais para incluir e apoiar empresários LGBTQIAP+. “A gente tem exemplos de grandes empresas que estão financiando o desenvolvimento de empresas menores, tanto em fortalecimento institucional, quanto em treinamento de competências que são requeridas atualmente”, afirma.

Por fim, outra iniciativa que as empresas podem tomar é atrelar recursos de produtos e serviços a doações para instituições que apoiem a agenda. “Vale cada negócio avaliar estrategicamente como inserir essa causa dentro de algo que faça sentido para o próprio negócio”, resume a sócia da Mais Diversidade. 

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