Executivas fazem o balanço de 2025
Entre prêmios, dilemas e revisões de rota, lideranças femininas compartilham lições que aprenderam no ano
Para finalizar o ano, reunimos relatos de lideranças femininas de diferentes setores, da economia criativa às fintechs, do impacto social à indústria cervejeira, para refletir sobre os aprendizados que obtiveram ao longo do ano. Este conjunto de depoimentos representa, para Women to Watch, um retrato plural de 2025 como um ano de síntese, mudanças e responsabilidade ampliada.
Em comum, as lideranças revelam um período marcado por decisões difíceis, reconhecimento profissional, revisões de rota e pela consolidação de modelos de liderança mais conscientes do seu papel coletivo.
Entre prêmios, lançamentos, transformações nos negócios e reflexões pessoais, os depoimentos evidenciam que liderar, hoje, vai além de performance e resultados. Envolve coragem para sustentar visões em cenários instáveis, compromisso com diversidade e inclusão, atenção às pessoas e disposição para transformar visibilidade em legado.
Ao compartilhar aprendizados, conquistas e dilemas, essas executivas apontam caminhos possíveis para o futuro, inspirando novas formas de exercer poder, influência e responsabilidade em um mundo em constante mudança.
Ana Costa, VP de reputação, sustentabilidade e jurídico da Natura

(Crédito: Divulgação)
2025 foi um ano que me fez refletir, na mesma intensidade, sobre urgência e esperança. Estar na linha de frente das agendas de reputação e sustentabilidade da Natura reforçou que problemas complexos exigem respostas sistêmicas, construídas a muitas mãos, em diálogo constante com comunidades locais, governos, empresas e investidores. Em um ano em que o Brasil recebeu o mundo na COP30, e Belém se tornou o coração simbólico do planeta, tive a alegria de testemunhar o protagonismo das pessoas da floresta, que fazem parte da história da Natura em uma relação de mais de 25 anos, e que naquele momento estavam evidentemente inspirando futuros possíveis. Ver a Amazônia ocupar o centro do debate global, não como metáfora, mas como potência viva, renovou meu compromisso de defender seu papel na solução climática e de fortalecer caminhos onde inovação, cultura, ciência e bioeconomia se traduzem em prática.
Do ponto de vista pessoal, liderar hoje significa criar ambientes nos quais a escuta é tão transformadora quanto à estratégia, onde as pessoas estão no centro de cada decisão. Liderar é transformar vidas por meio do que fazemos as pessoas acreditarem que é possível. Finalizo este ano convicta de que regenerar, sejam ecossistemas, relações ou os próprios negócios, é um trabalho contínuo. O papel das empresas, e o meu como executiva, é fazer com que essa visão se materialize em decisões diárias e consistentes e de longo prazo.
Ana Kuroki, CSO da Africa Creative

(Crédito: Rodrigo Pirim)
2025 foi um ano intenso e duro, mas ao mesmo tempo com algumas pinceladas de alegria e celebração, o ano do meu Caboré. Se eu pudesse resumir, diria que pareceu um ano inteiro de mercúrio retrógrado, ou seja, metade caos, metade revisão. Ainda pegando carona no tema horóscopo, vale dizer que, como boa ‘capricorniana’ ,meus aprendizados falam um pouco mais de trabalho do que de vida pessoal. Acho que ficam pra mim três grandes lições neste ano:
1) La garantía soy yo (eu sou a garantia). O mundo muda mesmo o tempo todo. Contas mudam de agências, grupos se fundem, marcas deixam de existir, assim como cargos e lideranças em velocidades maiores e por muitas razões. Dito isso, não temos controle do contexto, do outro ou do mundo, mas temos da nossa própria trajetória, onde, como e com quem queremos estar e fazer.
2) Me sinto pronta. Acho que trabalhar nossas habilidades e, mais, nossa cabeça e estrutura (física, mental e espiritual) para as mudanças, pensar onde e como você pode fazer a diferença dependendo do cenário tornou-se uma constante na minha liderança.
3) Work hard and be nice to people (trabalhe duro e seja gentil com as pessoas). Uma frase de Anthony Burrill que segue fazendo muito sentido pra mim. Ser alguém que intencionalmente pensa e cuida do outro na medida do possível, faz toda a diferença e as pessoas reconhecem isso. É um ciclo virtuoso que vale a pena perseguir, e, definitivamente, ser alguém legal é um diferencial.
Camila Novaes, client marketing director da Visa Brasil

(Crédito: Divulgação)
2025 foi um ano de colheitas. Depois de muito trabalho e dedicação, vivi momentos marcantes. O auge foi conquistar o Caboré de Profissional de Inovação, reconhecimento que simboliza não apenas uma conquista individual, mas coletiva. Aprendi que coragem e colaboração são forças transformadoras. Inovar vai além da tecnologia, é sobre pessoas, diversidade e conexões genuínas. Ser mentora, ser mentorada e assistir às alunas do programa de bolsas para talentos negros se formando na FGV, falar sobre carreira com nosso presidente Brasil e Global reforçou meu compromisso com a inclusão.
No negócio, mergulhamos na creator economy, hiperpersonalização em campanhas, realizamos grandes patrocínios e lançamos produtos que conectam experiências a pagamentos. No âmbito pessoal, reafirmei a importância de celebrar cada passo e compartilhar conhecimento para abrir caminhos para outras mulheres. Este ano provou que liderança é sobre impacto e legado, e juntos podemos ir muito além.
Cecilia Bottai Mondino, VP de marketing do Grupo Heineken Brasil

(Crédito: Divulgação)
2025 foi um ano intenso de aprendizados para quem atua no mercado de cerveja. Um ano que exigiu revisões, adaptações e muita escuta, à medida que as pessoas passaram a se relacionar com a categoria de novas formas. Nesse cenário em transformação, ficou ainda mais claro que criatividade, transparência e proximidade com as pessoas não são apenas diferenciais, são indispensáveis para seguirmos crescendo com consistência.
Profissionalmente, 2025 também foi marcante pelo reconhecimento com o Prêmio Caboré, na categoria Profissional de Marketing. Mais do que um símbolo da minha trajetória, o prêmio reforça a força do trabalho que construímos no Grupo Heineken, guiado por coragem, colaboração e por uma crença profunda no poder das marcas de gerar impacto positivo e relevância cultural.
No lado pessoal, enquanto o mercado mudava, em casa os altos e baixos ganharam outro significado com minha filha entrando na adolescência e meu filho de 11 anos me ensinando, à sua maneira, a leveza do presente. Se no trabalho eu já praticava flexibilidade emocional, em casa virei especialista. Entre crises e gargalhadas, aprendi que navegar mudanças com empatia, humor e presença é um dos presentes mais valiosos que este ano me trouxe.
Gabriela Onofre, CEO do Publicis Groupe Brasil

(Crédito: Divulgação)
Para mim, 2025 foi um ano de síntese dos aprendizados que venho acumulando ao longo da minha trajetória. Voltei a refletir sobre o ‘degrau quebrado’ da carreira feminina, aquele ponto inicial em que menos mulheres avançam para posições de liderança e que acaba moldando todo o percurso. Segundo o relatório Women in the Workplace, da McKinsey, nas primeiras promoções para funções gerenciais, apenas 81 mulheres (e 54 mulheres negras) avançam para cada 100 homens. No fim das contas, enquanto os homens sobem, em média, quatro degraus, as mulheres sobem apenas dois.
Nesse contexto, 2025 foi um ano de reforçar o protagonismo feminino no dia a dia, sem esperar pelas condições ideais. Fazer a máquina se mover exige decisão, mesmo com risco, dúvida e desconforto. Foi com essa visão que expandimos o Entre, um programa que já formou mais de 200 mulheres periféricas em criação e produção, oferecendo a chance de iniciar uma trajetória que talvez não existisse sem essa ponte; e criamos o Ampliar, voltando para aceleração de carreira de pessoas com deficiência. Mas, para mim, um dos dados mais simbólicos do ano foi ver 70% dos cargos de liderança ocupados por mulheres. Muitas delas chegaram onde estão de forma orgânica, outras com apoio intencional, mas todas com competência e repertório.
Aprendi cedo que não se trata de escolher entre carreira e vida pessoal, mas de combinar expectativas, comunicar limites e buscar uma dinâmica sustentável, e isso faz toda a diferença quando penso no exemplo que quero deixar. Neste ano, reforcei a certeza de que liderar é equilibrar visão e coragem, pois visão sem coragem vira sonho, e coragem sem visão é salto no escuro.
Gilvana Viana, cofundadora da MugShot

(Crédito: Grazielle Salgado)
2025 foi um ano de conquistas profundas para mim. Vi as minhas empresas se fortalecerem como estruturas criativas maduras, conectadas ao impacto que quero gerar. Consumi muita arte, viajei, escrevi artigos e compartilhei visões de mercado que ampliaram meu olhar sobre o setor. Também vivi momentos decisivos na carreira: ser jurada no Cannes Lions foi um marco afetivo e profissional. Fui reconhecida como Women to Watch 2025, integrei o júri de Soundcraft no Lisbon International Advertising Festival, fui indicada ao Prêmio Potências e seguirei 2026 como presidente do júri do D&J Awards.
Em um momento de avanço do ‘backlash’ e redução de compromissos reais com diversidade, mesmo sendo maioria no país, entendi que reconhecimento é responsabilidade. É transformar a visibilidade em caminhos sustentáveis e manter a pauta viva, abrindo espaço para que mais pessoas negras ocupem esses lugares de forma permanente.
Juliana Roschel, CMO do Nubank

(Crédito: Divulgação)
No Nubank, sempre dizemos que ‘it’s still day 1’, e 2025 foi um ano que colocou esse mindset à prova. Em meio a um contexto extremamente intenso, foi necessário exercer resiliência e coragem para manter clareza nos caminhos que estávamos construindo. Ao mesmo tempo em que atingimos a marca de 110 milhões de clientes, tivemos o desafio de compreender ainda mais profundamente as nuances, desejos e diferentes formas de relacionamento de cada uma dessas pessoas, elevando nossa comunicação a novos patamares de segmentação e inovação. Encerramos o ano fortalecidos, e sigo confiante e energizada para liderar um time apaixonado que continuará transformando a forma como as pessoas lidam com suas finanças.
Nana Lima, cofundadora de Think Olga e Think Eva

(Crédito: Mayara Neves)
Pensando sobre o ano de 2025, a frase ‘o que te trouxe até aqui não é o que vai te levar adiante’ é a que mais resume essa volta ao sol que todos estamos precisando encerrar, nem que seja pelo ritual de renovação. Seja no âmbito pessoal ou profissional, as coisas mudaram, e seguem mudando, muito rápido. Ainda estamos esperando o ‘novo normal’ do pós-pandemia chegar.
No empreendedorismo feminino e no campo do impacto social, isso se confirmou como uma verdade que precisamos encarar de frente. As ferramentas, os formatos e as formas de exercer o nosso trabalho mudaram profundamente, e precisamos aceitar e nos adequar. Isso também aparece no cenário da pauta de gênero que, apesar das desigualdades estarem longe de diminuir, vemos a atenção e os recursos que antes existiam se tornarem cada vez mais escassos. Isso aparece também no micro, no dia a dia do trabalho e dos nossos relacionamentos. Estamos cada vez mais imersos em tecnologias, com baixo foco e menor capacidade de cognição, atravessados por uma sensação constante de esgotamento.
Vamos precisar aprender a navegar esse mar turbulento e entender como jogar com as velhas cartas nesse novo tabuleiro. Um cenário que exige reconhecer nossos limites e inegociáveis individuais e coletivos, além de mais capacidade de diálogo, mais escuta e mais humanidade no encontro com o outro. Que em 2026 a gente consiga diminuir o ruído e se preencher mais daquilo que realmente nos nutre.
Rafaela Alves, COO da AlmapBBDO

Rafaela Alves, COO da AlmapBBDO (Crédito: Divulgação)
2025 foi um ano que escancarou a importância da consistência. Não é sobre ter mais ou menos dados, e não é apenas sobre tecnologia de ponta. É sobre transformar informações em estratégia de negócio. Não tenho dúvidas de que o grande diferencial do meu time, neste ano, foi ter uma liderança focada em resultado, mas que opta por usar a tecnologia como base, e não como fim.
É preciso determinação para encontrar o caminho da tecnologia aliada à criatividade. Não é fácil, não é simples, mas é eficaz. O maior aprendizado desse ano, para mim, é que inteligência artificial é sobre agilidade, mas o grande fator que muda negócios e disputa indústrias está no ativo humano.
Yuri Mussoly, CCO da DM9
(Crédito: Divulgação)
2025 foi um ano de decisões importantes na minha vida, daquelas que mudam não só a trajetória profissional, mas também a forma como a gente se enxerga no mundo. Assumi a responsabilidade de liderar criativamente uma das maiores agências do Brasil. Um desafio que carrega peso e altas expectativas. Aprendi que mudar exige tempo, paciência e resiliência, mas que nada disso se sustenta sem coragem. Coragem para sustentar visões, atravessar cenários complexos, tomar decisões difíceis e, principalmente, para permanecer fiel aos próprios valores. Ocupar uma cadeira como a da DM9, sendo a primeira mulher a assumir o cargo de CCO, é um privilégio imenso, e também uma responsabilidade coletiva. Não desejo que essa conquista seja um ponto fora da curva. Liderança também é abrir caminhos, ampliar espaços e garantir que as próximas nós encontrem portas mais abertas do que as que encontramos.