Opinião
Me decifra ou te esqueço
As marcas precisam, assim como Édipo, decifrar o cliente para não serem esquecidas
As marcas precisam, assim como Édipo, decifrar o cliente para não serem esquecidas
6 de maio de 2024 - 6h20
Cresci ouvindo histórias sobre mitologia, paixão do meu avô materno. Um dos contos gregos narra o encontro de Édipo com a Esfinge de Tebas, que lhe propõe um enigma. Se o resolver, poderá continuar sua viagem. Se falhar, será devorado. Édipo resolve o mistério e segue seu destino. Não vou relembrar o enigma, porém dou um spoiler: tem a ver com autoconhecimento, essencial a todos nós. Mas voltando aqui à frase da Esfinge para Édipo: “Decifra-me ou devoro-te!”
É raro um dia no qual eu não me lembre do impacto desta frase no meu dia a dia profissional. A evolução tecnológica tem transformado diversos setores da sociedade, e o marketing não é exceção. As marcas precisam, assim como Édipo, decifrar o cliente para não serem, no caso, esquecidas. Difícil tarefa em um cenário no qual as novidades não param de surgir.
A boa notícia é que, com a chegada da inteligência artificial (IA) generativa, uma tendência detectada por futuristas como a Daniela Klaiman se destaca: o Know Me Better. Trata-se de uma abordagem que utiliza algoritmos sofisticados para compreender profundamente o comportamento, preferências e necessidades dos consumidores.
E por que este approach importa? Porque nos ajuda a conhecer mais o cliente e a não agir como mídia invasiva. Ele nos orienta sobre o melhor momento e a hora mais adequada para entrar em contato para oferecer produtos, serviços e mensagens. Tudo de um jeito personalizado, preciso e, portanto, relevante. E, acreditem, em marketing, o momento e o formato certos asfaltam a estrada que nos leva ao sucesso de uma campanha. Neste artigo, vou analisar cinco aspectos nos quais o Know Me Better vem transformando o cenário do marketing.
Este sempre foi um objetivo fundamental no marketing e a IA o tornou mais acessível do que nunca. Com o Know Me Better, as empresas podem analisar grandes volumes de dados dos consumidores, desde histórico de compras até interações em redes sociais, para criar perfis detalhados de cada cliente. Com base nesses perfis, as campanhas de marketing podem ser adaptadas de forma precisa para atender às necessidades individuais de cada consumidor. Um exemplo notável são os marketplaces globais que utilizam algoritmos avançados para recomendar produtos com base no histórico de compras e nas preferências de navegação de cada usuário. É incrível a capacidade destes algoritmos de acertaram o que nem nós sabíamos que queríamos.
A IA capacitou as empresas a oferecer uma experiência de cliente mais aprimorada do que nunca. Segundo a ótica do Know Me Better, as marcas podem prever as necessidades dos consumidores antes mesmo que eles percebam. É o que acontece com streamings de música e podcast, que usam esta tecnologia para fazer recomendações com base no histórico e nas preferências de navegação de cada usuário. O resultado é aquele momento no qual você se sente bem porque plataforma conhece suas preferências a ponto de recomendar uma música que te agrada imediatamente. E falando de tecnologia, importante sempre reforçar a questão ética e a responsabilidade de todos nós em seu uso adequado, não deixando que os algoritmos nos “aprisionem” e nos “colem” em redes sociais, por exemplo, cruzando a linha do uso saudável.
Este aspecto é essencial para o sucesso de qualquer campanha de marketing. A IA tem permitido uma segmentação mais refinada, levando em conta uma ampla gama de variáveis, desde dados demográficos até comportamentais. Por exemplo, as redes sociais trabalham com o Know Me Better para segmentar anúncios com base nas atividades e interesses dos usuários, garantindo assim que sejam exibidos para o público-alvo mais relevante. Esta forma de programar mídia digital não é nova, mas se sofistica com novas tecnologias e integração de dados.
Uma das vantagens mais poderosas indicadas pelo Know Me Better é a capacidade de antecipar tendências e mudanças no comportamento do consumidor. Ao analisar grandes volumes de dados em tempo real, a IA pode identificar padrões emergentes e prever tendências. Assim, varejistas de moda globais utilizam a ferramenta para analisar as redes sociais e mapearem as tendências de moda antes mesmo de se tornarem mainstream. Esse rastreamento permite que se antecipem aos concorrentes e lancem produtos alinhados com as demandas do mercado.
Ao entender profundamente as preferências e necessidades dos consumidores, as empresas podem oferecer produtos e serviços altamente personalizados, aumentando assim a lealdade do cliente. Na minha casa, assim como na sua, minha página inicial da maior plataforma de streaming atual mostra um cardápio de sugestões bem diferente do que é exibido para meu marido ou meus filhos. Esta variedade é construída conforme usamos a plataforma e nosso dados vão sendo capturados pela IA. É a consolidação dessas informações que permite indicações tão precisas de filmes, séries e programas, com base no histórico de visualização de cada usuário. Cria-se, desta forma, um círculo virtuoso, com a experiência de usuário altamente personalizada, levando ao encantamento do consumidor e aumentando a probabilidade de renovação da assinatura.
Correndo o risco de ser repetitiva, mas vale reforçar: ao mesmo tempo em que o uso da IA está revolucionando o marketing, também demanda cuidado ético na mesma medida. Neste quesito, acredito que a responsabilidade passa pelas corporações e pelos seus colaboradores.
Finalmente, vale lembrar que já dispomos de inúmeras ferramentas para produção de conteúdo, sejam peças estáticas ou filmes, que podem trazer velocidade e redução de custo. Elas trarão nova dinâmica para a criação das campanhas e exigirão algumas mudanças no perfil dos profissionais das agências e das empresas. Porém, na minha opinião, a criatividade e a mão humana seguirão fazendo toda a diferença e serão potencializadas com o uso destas tecnologias.
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