No ritmo atual, não alcançaremos as metas da ONU de igualdade de gênero

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No ritmo atual, não alcançaremos as metas da ONU de igualdade de gênero

Relatório da ONU indica fracos avanços para a erradicação da pobreza, fome, violência de gênero e oportunidades no mercado de trabalho para as mulheres 


6 de novembro de 2023 - 14h54

Segundo o relatório da ONU Mulheres deste ano, o mundo está falhando com mulheres e meninas em diferentes aspectos (Crédito: FrankHH/Shutterstock)

Na metade do caminho para 2030, o progresso no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável de número 5, sobre igualdade de gênero, está fora de curso, segundo o relatório deste ano da ONU Mulheres. O estudo mostra que o mundo está falhando com as mulheres e meninas em diferentes aspectos, incluindo a erradicação da pobreza, da violência de gênero e a geração de oportunidades iguais no mercado de trabalho.  

Para alcançar tais metas, o texto apela para uma abordagem integral e holística, que visa maior colaboração e empenho das partes interessadas, com mais financiamento e ações políticas específicas. O relatório ainda conclui que, ao não priorizar a igualdade de gênero agora, estamos colocando em risco toda a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. 

“Igualdade de gênero não é apenas um objetivo dentro da Agenda 2030”, disse Maria-Francesca Spatolisano, Secretária-Assistente para Coordenação de Políticas e Assuntos Interagências da ONU. “É o próprio fundamento de uma sociedade justa e um objetivo sobre o qual todos os outros objetivos devem se apoiar. Ao derrubar as barreiras que têm impedido a plena participação de mulheres e meninas em todos os aspectos da sociedade, liberamos o potencial inexplorado que pode impulsionar o progresso e a prosperidade para todos”. 

Insegurança alimentar, pobreza e justiça climática 

Sob um cenário climático que piora a cada ano, a insegurança alimentar deve afetar até 236 milhões de mulheres e meninas, em comparação com 131 milhões de homens e meninos, devido às mudanças climáticas. Até 2030, 1 a cada 4 mulheres e meninas viverão sob insegurança alimentar grave ou severa se nada for feito.  

Ainda por consequência das mudanças climáticas, as mulheres também sofrerão impactos de ordem econômica. A crise ambiental pode empurrar até 158,3 milhões a mais de mulheres e meninas para a pobreza, sendo 16 milhões a mais do que o número total de homens e meninos. A fim de atingir a meta de erradicação da pobreza, o progresso deverá ser 26 vezes mais rápido, afirma o estudo. 

Violência de gênero 

Nenhum país está perto de erradicar a violência de parceiros íntimos, e apenas 27 países têm sistemas abrangentes para rastrear e alocar orçamentos para igualdade de gênero e empoderamento das mulheres. A cada ano, globalmente, 245 milhões de mulheres são vítimas de violência perpetuada por seus parceiros. 

Outro ponto de destaque do estudo é a incidência de mulheres em zonas de conflito, que aumentou significativamente. Em 2022, o número de pessoas do sexo feminino vivendo nesses contextos atingiu 614 milhões, 50% a mais do que em 2017. 

Mercado de trabalho e economia do cuidado 

A lacuna salarial e de ganhos permanece alta. Para cada dólar que os homens ganham em renda do trabalho globalmente, as mulheres ganham apenas 51 centavos. Apenas 61,4% das mulheres em idade de trabalho estão na força de trabalho, em comparação com 90% dos homens na mesma condição. 

A disparidade de gênero em cargos de poder e liderança permanece enraizada. Somente 28% dos cargos de liderança no mercado de trabalho globalmente são ocupados por mulheres. Com a taxa de progresso atual, até 2030, as mulheres alcançarão 30% dos postos de liderança. 

Em relação aos trabalhos de cuidado não remunerados e domésticos, o cenário não vislumbra melhorias. No ritmo atual, a próxima geração de mulheres ainda passará, em média, 2,3 horas a mais por dia do que os homens.  

Algumas das soluções para a questão, de acordo com o estudo, são as cotas de gênero, por exemplo, para aumentar a representação das mulheres tanto nos negócios quanto na política. Outros instrumentos incluem arranjos de trabalho flexíveis, mentoria e treinamento de liderança, além do acesso a serviços de cuidados infantis. 

Atenção especial às mulheres mais velhas 

Um diferencial do estudo deste ano é o foco sobre as mulheres mais velhas, que indica que 1 a cada 10 mulheres no mundo têm mais de 65 anos, e até 2050 essa proporção subirá para 2 a cada 10. Uma das constatações do texto é que as mulheres mais velhas enfrentam taxas mais altas de pobreza e violência do que os homens na mesma faixa etária.  

Em relação aos aspectos econômicos, em 28 dos 116 países levantados na pesquisa, menos da metade das mulheres mais velhas têm uma pensão. Dessa forma, o menor poder aquisitivo também impacta o acesso à saúde de que muitas delas precisam. Dados da ONU destacam que mulheres sofreram 63% mais mortes relacionadas ao calor em comparação aos homens durante o verão de 2022 na Europa. 

O caminho para a mudança 

Enquanto aproximadamente 41 países estão próximos de atingir a meta para pelo menos um dos objetivos sustentáveis, ainda existem mais de 80 países sem dados registrados para pelo menos um dos objetivos. A resistência aos avanços das pautas de gênero e a subsequente falta de investimentos são os principais responsáveis pelo atraso no progresso dos ODS. 

A falta de um olhar mais atento às nuances de gênero em algumas políticas e iniciativas pode inclusive agravar essas desigualdades. Como, por exemplo, uma intervenção focada na geração de empregos, mas sem um foco na igualdade de gênero, pode falhar ao não abordar normas sociais tendenciosas e necessidades de cuidados infantis que impedem as mulheres de participar da força de trabalho em pé de igualdade. 

A estimativa da ONU é que seja necessário um investimento de aproximadamente US$ 6,4 trilhões por ano em 48 países em desenvolvimento, abrangendo quase 70% da população, a fim de alcançar a igualdade de gênero em áreas-chave, incluindo os objetivos de acabar com a pobreza e a fome, e apoiar uma participação mais igualitária das mulheres na sociedade até 2030.  

“O financiamento para o desenvolvimento deve priorizar políticas e programas comprometidos em fechar as lacunas de gênero e capacitar mulheres e meninas. A igualdade de gênero deve ser orçada como um objetivo separado, mas sinérgico, para alcançar todos os objetivos globais”, destaca o relatório. 

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