Olivia Lang: criatividade e neurodivergência no audiovisual
Para a diretora de cena, colaboração, aprendizado e confiança em si mesma são os elementos para o sucesso
Olivia Lang: criatividade e neurodivergência no audiovisual
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Lidia Capitani
19 de janeiro de 2024 - 15h08
A trajetória profissional da diretora audiovisual Olivia Lang é um testemunho de paixão, perseverança e superação. Hoje, ela é diretora de cena na Czar de São Paulo, mas seu caminho nem sempre foi uma linha reta. Nascida em um ambiente permeado pela influência jornalística de seus pais, Olivia se apaixonou por câmeras e vídeos desde a infância.
Aos cinco anos, a câmera entrou em sua vida pelos seus pais, que a usavam em suas profissões, mas Olivia arranjava um jeito de brincar com ela durante viagens e em casa para experimentar. “Isso foi um divisor de águas, pois percebi que poderia registrar momentos em movimento, algo que me encantou profundamente”, lembra.
Superando desafios acadêmicos, Olivia, diagnosticada com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) aos 12 anos, buscou caminhos não convencionais. Inicialmente, considerou carreiras visuais como arquitetura e design, mas a falta de confiança acadêmica a levou a trabalhar cedo. Sua jornada na produção musical foi o primeiro passo, buscando conhecimento em música, ritmo e produção audiovisual.
A cineasta iniciou sua incursão no cinema por meio de cursos livres, ampliando sua visão sobre o mercado cinematográfico. Apesar das dificuldades acadêmicas, optou por estudar design e chegou à pós-produção, onde aprendeu sobre edição, som e montagem. Sua verdadeira paixão, no entanto, era o set de filmagens. Após experiências em diversos setores, desde produção musical até a produção de vídeos na editora Abril, encontrou seu verdadeiro chamado para a direção audiovisual.
O ápice de sua carreira veio com a especialização como diretora de fotografia e a posterior incursão na publicidade durante a pandemia. Com três anos na direção, Olivia Lang colhe os frutos de uma trajetória única e significativa, enraizada na diversidade de suas experiências.
“Acho incrível abordar a neurodivergência de uma perspectiva positiva. Apesar das inerentes dificuldades em uma sociedade predominantemente neurotípica, acredito que ela nos proporciona vantagens em diversas profissões e relações”, afirma a diretora. “Em meu caso, a neurodivergência ampliou minha habilidade de comunicação, levando-me a expressar meus pensamentos e sentimentos de maneiras não convencionais”.
A habilidade de hiperfoco, característica do TDAH, também tornou-se uma vantagem profissional para Olivia. “Conseguir realizar diversas tarefas simultaneamente e manter tudo em foco é uma característica que, infelizmente, a falta de informação sobre TDAH costumava esconder”, avalia. Com essa habilidade de transitar sua atenção em diferentes demandas, a diretora diz que se sente à vontade para liderar e delegar funções dentro de um set de filmagem.
Graças à terapia, Olivia aprendeu a conviver com seu funcionamento, libertando-se dos moldes que o mercado impõe. Hoje, por estar numa posição mais privilegiada no set, ela consegue adequar as dinâmicas e os processos do cotidiano às suas necessidades. “Superar desafios como autoestima e a conclusão de projetos pessoais ainda é uma jornada, mas, sinceramente, agora consigo enxergar mais aspectos positivos do que negativos”.
A cineasta reconhece o avanço da presença feminina na indústria, mas ressalta a necessidade de quebrar padrões binários de gênero. “Ser mulher nesse meio significa uma batalha diária, mas é gratificante quando nos deparamos com outras mulheres e membros da comunidade LGBTQIA+ que enfrentam desafios semelhantes”.
Apesar de sua inclusão no prestigiado ranking de novos talentos da produção publicitária do Meio & Mensagem de 2023, Olivia destaca a importância contínua de promover mais diversidade em projetos. “A mudança que estamos vivenciando é notável, com uma exposição maior do nosso trabalho, mas ainda há um longo caminho a percorrer, especialmente em relação aos roteiros que recebemos”, avalia.
Ao refletir sobre sua ascensão na carreira, Olivia destaca a confiança em sua intuição e a manutenção da conexão com sua identidade pessoal. “Percebo agora que meus filmes carregam minha marca, uma conquista baseada na defesa firme das minhas crenças ao longo dos anos”.
Para a diretora, o processo de criação publicitário é colaborativo. “Manter a conexão com minha identidade pessoal e humana, além do papel de diretora, é crucial. Isso se traduz na minha preocupação com o bem-estar de todos no set. Essa abordagem, somada à sensibilidade do meu trabalho de transformar cenas do cotidiano em imagens tocantes, talvez seja o que me diferencie”.
A criatividade de Olivia é alimentada pela observação do cotidiano, consumo ativo de conteúdos visuais e uma ampla gama de influências, tanto online quanto offline. “A observação da vida cotidiana, seja ao caminhar pela rua, andar de metrô, ou simplesmente observar as pessoas em suas rotinas mundanas, é o que mais me inspira”, afirma.
A cineasta destaca a importância de manter a mente aberta, explorar diversas formas de pesquisa e equilibrar o mundo digital com experiências tangíveis. “A variedade de formas de pesquisa, desde a tela do computador até livros físicos, reflete minha tentativa de ‘multimidializar’ minha abordagem criativa. Acredito na importância de sair da tela do computador e explorar o físico, adicionando uma dimensão tangível à pesquisa e à criatividade”.
Uma fonte de orgulho para Olivia Lang é o projeto “Lea”, um curta-metragem que conta a história da primeira árbitra de futebol brasileira, Lea Campos. O filme foi criado pela agência Ogilvy para a marca Intimus, e foi lançado no final de 2022, durante a Copa do Mundo de futebol. O vídeo ganhou um Leão de Ouro na categoria “Entertainment Lions For Sport'” em 2023. “Poder abordar a história de uma mulher que desbravou caminhos em um contexto historicamente desafiador, abrindo portas para outras mulheres, é uma honra”, conta.
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