Parentalidade, carreira e futuro das organizações

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Opinião

Parentalidade, carreira e futuro das organizações

O mercado precisa se abrir para modelos de trabalho mais inovadores e flexíveis, para que filhos não virem mais um peso na conta da sobrecarga materna


28 de novembro de 2023 - 8h54

(Crédito: eamesBot/Shutterstock)

Recentemente, por 40 dias eu estive em Portugal com a minha família e eu e meu parceiro invertemos os nossos papéis. Ele cuidou, educou, encantou, explorou o mundo com nossos filhos, enquanto eu me dediquei prioritariamente ao trabalho.

Nesse período, meus meninos cresceram na velocidade da luz e se permitiram experimentar de tudo: comidas, sotaques e vulnerabilidades expostas, como nunca vi antes. A presença é combustível para o crescimento das nossas crianças, como um adubo de coragem para eles se jogarem ao mundo, sabendo que existe uma cama elástica para impulsioná-los de volta.

Volto dessa experiência pensando nos novos combinados que precisaremos estabelecer em família agora, para que os efeitos dessa experiência não sejam dissipados pela rotina. Como encontrar um ponto de equilíbrio que me permita construir uma carreira e uma família ao mesmo tempo?

Equilíbrio é um conceito relativo e raramente se encontra nos 50% de qualquer coisa. Doce ilusão pensar que vou dedicar 33,33% do meu tempo igualmente para minha carreira, família e autocuidado. Mas, uma coisa é certa: se a sobrecarga do cuidado estiver 110% nas minhas costas, não sobrará energia para mais nada.

De acordo com o IBGE, as mulheres gastam o dobro de horas nos cuidados domésticos, se comparado aos homens. Elas são, também, as principais cuidadoras de outras pessoas da família, como filhos e parentes idosos, por exemplo (o que chamamos de geração “sanduíche”). Essa sobrecarga tem nome e sobrenome. É amplamente conhecida como “economia do cuidado”. Representa um esforço de trabalho invisível, não valorizado e sem remuneração, que equivaleria a 11% do PIB brasileiro e que, historicamente, se acumula nos ombros das mulheres.

Este ano esse tema chegou na redação do ENEM. “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil” virou de repente a pauta mais urgente do momento.

Eu mal voltei de viagem e fui teletransportada para essa notícia. O que a Michelle de hoje diria para a minha versão do passado fazendo essa prova sem a menor consciência do mercado de trabalho que me esperaria? Eu começaria dizendo o seguinte: você não precisa dar conta de tudo sozinha e de forma perfeita. Você pode e deve pedir ajuda. Alguns pratos irão cair, fato. Então, escolha quais irão cair de forma consciente, tomando as rédeas da culpa materna que habita em nós. Como uma sombra que insiste em ficar por perto, mas não nos paralisa. Escolha uma pessoa que tope compartilhar as responsabilidades com você e um trabalho que compartilhe dos seus valores.

Mais do que palavras, essa prova representa a antecipação de um assunto delicado que merece espaço na mente da futura geração produtiva desse país. Uma provocação a fazer algo hoje por um mercado de trabalho diferente no futuro para muitas mulheres esgotadas que, dentre seus vários papéis, conciliam filhos e carreira.

Eu, como uma das fundadoras da Filhos no Currículo, sei bem o quanto as organizações têm um papel essencial na desconstrução dessa realidade, na medida em que oferecem políticas mais isonômicas, a exemplo das licenças parentais (uma licença igual tanto para pais quanto mães) e o investimento em uma cultura de bem-estar parental.

Para dar um exemplo da porta pra fora, de quem já está avançando nesse sentido e abrindo caminhos para as organizações do futuro, temos o caso do Nubank. A fintech entende essa dinâmica e transformou a parentalidade em uma estratégia poderosa para alavancar o seu próprio sucesso. Mapeou as demandas de suas pessoas e lançou há mais de um ano uma licença parental de 120 dias para todas as suas figuras parentais, permitindo o seu fracionamento em 2 períodos de 60 dias. Essa flexibilização foi essencial para o engajamento no usufruto do benefício. A licença parental do Nubank inclui os casos de paternidade e adoção, independente da estrutura familiar ou da orientação de gênero. Vale contar que para as figuras maternas (biológicas ou não), a licença-maternidade pode ser ainda mais estendida, para 180 dias e sem fracionamento, em alinhamento com as diretrizes do Programa Empresa Cidadã.

Para o Nubank, investir em diversidade e inclusão é parte intrínseca na estratégia de negócio da companhia e condição para que as suas pessoas se sintam seguras. Com o auxílio da Filhos no Currículo, o Nu oferece apoio emocional individual, fóruns de trocas e conscientização dos aliados da parentalidade mensalmente. O benefício chamado SOS Filhos no Currículo atua como extensão da rede de apoio de quem concilia filhos e carreira dentro do banco, oferecendo acesso a um time de especialistas da jornada parental, com atendimentos e sessões de aconselhamento individuais. Já no âmbito coletivo, a Filhos promove rodas de conversa e eventos periódicos para apoio emocional, conexões significativas e momentos valiosos de troca e apoio mútuo na intenção de ajudar a comunidade a conciliar filhos e carreira.

O mercado de trabalho precisa reconhecer de uma vez por todas que a chave para o desbloqueio do nosso máximo potencial está no respeito pela nossa identidade, trazendo modelos de trabalho mais inovadores e flexíveis para que filhos não virem mais um peso na conta da sobrecarga materna.

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