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Reconheça a interseccionalidade das pessoas com deficiência

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Opinião

Reconheça a interseccionalidade das pessoas com deficiência

Não é mais possível pensar em programas de diversidade, equidade e inclusão sem atender às especificidades de cada marcador social


18 de dezembro de 2023 - 6h10

(Crédito: Shutterstock/vicova)

As pessoas com deficiência trazem consigo um marcador social que muitas vezes é predominante em relação a outros marcadores no que diz respeito a mecanismos de exclusão social. Porém, não há dúvida de que diferenças como as de gênero e raça se cruzam com a questão das deficiências e potencializam a discriminação sofrida por essas pessoas. A isso chamamos de interseccionalidade. 

O conceito de interseccionalidade foi sistematizado por Kimberlé Crenshaw, que é uma professora negra, teórica e feminista norte-americana, e significa a sobreposição ou intersecção de identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação ou discriminação. Em outras palavras, é a soma de várias formas de opressão. 

A deficiência é tão estigmatizante que acaba se sobrepondo a outras condições que também são alvo de discriminação. No contexto mais capacitista, o gênero da pessoa com deficiência, assim como a sexualidade, chega a ser neutralizado. O marcador para na nossa deficiência e, raramente se estende por nossas interseccionalidades.  

Quando se trata de interseccionalidade de marcadores sociais, é necessário lembrar que as causas precisam avançar juntas. Isto é, formamos pilares da diversidade e, quando olhamos o ser humano como um todo, percebemos a existência das demais características diferentes que se interseccionam.  

A origem da opressão e da exclusão enfrentadas pelas pessoas diversas é a mesma: a discriminação. Sendo assim, definir estratégias comuns para a quebra dessas opressões torna-se muito mais eficaz do que movimentos que focam um recorte e negligenciam completamente outros. Até porque os marcadores efetivamente se acumulam e isso faz com que a opressão se multiplique.  

Considere as interseccionalidades de uma mulher, preta, mãe, periférica, com deficiência. Pensando somente no âmbito do mercado de trabalho, podemos imaginar as dificuldades enfrentadas por essa pessoa para vencer as barreiras, exercer e ser valorizada por sua competência profissional. 

Há casos de mães cadeirantes que são privadas de estarem conscientes durante os partos de seus bebês por decisões capacitistas dos médicos responsáveis. Tornar imperativa a cesariana com anestesia geral para essas mães é uma atitude capacitista, que impede a vivência de um momento importante da maternidade, que é o de encontrar e embalar o bebê em seu primeiro contato com o mundo. Além disso, é frequente os médicos perguntarem se a mulher com deficiência quer dar continuidade na gestação, como se sua condição fosse impeditiva para dar à luz.  

A interseccionalidade se torna evidente quando assumimos o preconceito. Podemos quebrar barreiras atitudinais e entender que uma característica não pode inferiorizar um indivíduo. Somar várias qualidades pode nos tornar pessoas mais plurais, criativas e interessantes.  

No mundo do trabalho, por exemplo, na teoria não é mais possível pensar em programas de diversidade, equidade e inclusão sem atender às especificidades de cada marcador social, ao mesmo tempo e com o mesmo respeito.  

A interseccionalidade indica que o capacitismo se soma aos demais comportamentos opressores que a pessoa com deficiência tem que lidar. É sempre importante considerar que os movimentos não são concorrentes. Estratégias de posicionamento podem ser aprendidas entre os diferentes grupos, de maneira que se fortaleçam conjuntamente. Temos muito o que aprender com iniciativas da negritude e da população LGBTQIAP+, entre outras. Assim como acreditamos que temos muito a ensinar também. 

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