Sandra Annenberg: “Precisamos entender o passado para pavimentar o futuro”

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Sandra Annenberg: “Precisamos entender o passado para pavimentar o futuro”

A apresentadora da Globo reflete sobre o telejornalismo e conta sobre o processo de apurar os fatos marcantes do ano para o "Retrospectiva"


22 de dezembro de 2023 - 16h33

Sandra Annenberg é jornalista e apresentadora da Globo (Crédito: Globo/Lucas Seixas)

Em 2024, Sandra Annenberg completa 33 anos de jornalismo na Globo. De lá para cá, o ofício e o jeito de fazer televisão mudaram muito, mas ela segue com a mesma missão: o compromisso com a verdade. “Isso nos leva a apurar ainda mais, afinal, hoje em dia, devemos, além de informar como sempre, combater as fake news, o que nos faz trabalhar em dobro.”

Apresentadora do “Globo Repórter” e do “Retrospectiva”, que irá ao ar no dia 29 de dezembro, a jornalista reflete sobre sua carreira no telejornalismo da emissora, fala sobre maturidade, assédio e, claro, traz alguns spoilers do programa que mostrará os acontecimentos mais marcantes do ano.

“É uma obra feita a muitas mãos, e o que se vê é um bordado lindo que traduz tudo o que vivemos ao longo de 365 dias. Um trabalho do qual me orgulho muito”, diz.

De fato, 2023 começou com os ataques a Brasília no dia 8 de janeiro, passou pelo ouro da ginasta Rebeca Andrade no mundial de ginástica, seguido pela participação do Brasil na Copa do Mundo Feminina. Foi, ainda, marcado pelas guerras entre Ucrânia e Rússia, e entre Hamas e Israel. Foi o ano dos impactos das mudanças climáticas em pauta, além de uma grande perda do jornalismo brasileiro: Glória Maria. Sandra passará por todos esses acontecimentos no programa, e aproveita para olhar para sua própria trajetória ao refletir sobre ele nesta entrevista.

“Fomos da esperança às tragédias, de alegrias às tristezas com tanta rapidez que mal dava para respirar. Este é um ano daqueles para entrar na história, e acho fundamental rever tudo para não incorrer nos mesmos erros. Entender o passado para pavimentar o futuro”, conta.

Confira a entrevista com Sandra Annenberg ao Women to Watch.

Você está há mais de 30 anos no telejornalismo da Globo. De lá para cá, o que mudou no jornalismo e no jeito de fazer TV?  

Em 2024 completo 33 anos de jornalismo na Globo. Do início até hoje, o jornalismo e o jeito de fazer TV mudaram muito. O jornalismo hoje é instantâneo, podemos nos informar online a todo momento e em diversas plataformas. E o jeito de fazer TV também precisou mudar, hoje fazemos tudo muito mais “ao vivo” e a tecnologia precisou acompanhar essa evolução. Precisamos ser bem mais rápidos. Mas, ao mesmo tempo, temos um compromisso com a verdade que nos leva a apurar ainda mais, afinal, hoje em dia, devemos, além de informar como sempre, combater as fake news, o que nos faz trabalhar em dobro. Resumindo: a informação pode estar mais à mão (literalmente), mas é importante buscarmos sempre veículos confiáveis e de credibilidade.   

Você já foi alvo de algum episódio de assédio na profissão? Como foi?  

Eu tenho 55 anos e trabalho em televisão há mais de 40 anos, sou de uma geração em que o assédio era comum. Naquele tempo não tínhamos a voz que temos. Sei que tenho um papel importante nas conquistas das profissionais de TV. O início foi difícil, mas hoje sinto orgulho da minha trajetória. Sempre precisei trabalhar mais que os homens para provar que era capaz, que tinha talento. Ser mulher não é fácil em nenhum setor, mas unidas podemos continuar a lutar por direitos e salários iguais.  

E como é amadurecer na TV? Como você se sente como mulher madura em uma grande emissora?  

Envelhecer não é fácil para quem trabalha com imagem e é mais difícil ainda para as mulheres. Mas eu diria que hoje em dia é um pouco melhor. O etarismo é a última barreira das discriminações e eu faço questão de “botar a cara para bater” e mostrar nas telas as mudanças que a idade traz. Acho que isso pode ser um estímulo para que aceitem melhor o amadurecimento das mulheres.   

Para você, quais são os desafios e os avanços do jornalismo atual?  

Em tempos de redes sociais, de internet, de fake news, o jornalismo nunca foi tão necessário. É preciso trabalhar em dobro para desfazer as mentiras e ainda levar informação de qualidade. E agora ainda estamos diante da Inteligência Artificial. Lamento pelo cidadão que vai precisar desconfiar sempre. Será preciso duvidar e questionar, antes de acreditar na notícia.   

Nem todos sabem, mas sua primeira experiência na Globo foi como atriz. Como foi essa jornada e o que a fez optar pelo jornalismo?  

Sim, fui atriz antes de ser jornalista. Mas nunca decidi que iria mudar de profissão, as oportunidades foram aparecendo e eu fui seguindo os caminhos que surgiam. Entrei no jornalismo como moça do tempo e, quando vi, estava apresentando jornal. Então resolvi cursar a faculdade e nunca mais saí da profissão.   

Você está 5 anos à frente do “Retrospectiva” e do “Globo Repórter”, que também acabou de completar 50 anos. Pode falar um pouco sobre os desafios de cada programa?   

O “Globo Repórter” é um desafio semanal, colocar no ar um documentário a cada seis dias não é para os fracos, e sempre com uma pegada completamente diferente. Vamos das grandes viagens aos grandes temas de comportamento da sociedade, passando sempre por descobertas e inovações. Gostamos de tratar de tudo, nosso foco é aberto, nos interessamos pelo ser humano. As produções são sempre minuciosas e aprofundadas, só um time de profissionais muito experientes consegue dar conta. E me sinto privilegiada de trabalhar com tanta gente tão talentosa.   

Já a “Retrospectiva” é o trabalho de um ano inteiro. Começamos a colecionar os fatos marcantes assim que o novo ano se inicia, no segundo semestre dividimos os temas pelos editores que mergulham nos arquivos e pesquisam tudo o que foi dito ao longo do ano sobre aquele tópico. Depois de selecionar o que há de mais emblemático, seguimos para a edição de imagens que alinha e junta os pedaços. E eu costuro tudo na apresentação. É uma obra feita a muitas mãos, o que se vê é um bordado lindo que traduz tudo o que vivemos ao longo de 365 dias. Um trabalho do qual me orgulho muito.  

Falando um pouco de retrospectiva, quais foram os episódios mais marcantes da sua profissão? E de 2023?   

Os grandes plantões e coberturas são os episódios mais marcantes. Estive nas eleições de dois papas, em três Copas, fui à Santa Maria para a cobertura do incêndio na boate Kiss, noticiei em primeira mão a morte da Princesa Diana… nossa, foram tantos plantões! Em cada um desses momentos, emoções diferentes que exigem da gente um envolvimento profundo.  

Em 2023, eu diria que participar da celebração dos 50 anos do “Globo Repórter” foi muito especial. 

O que esperar do Retrospectiva em 2023? O que promete nos emocionar?  

Sempre tem alguém que diz que ficou faltando algo nas retrospectivas, mas eu tenho a impressão de que este ano conseguimos dar conta de tudo. E olha que não foi pouco o que aconteceu. Rever 2023 é muito impactante. Fomos da esperança às tragédias, de alegrias às tristezas com tanta rapidez que mal dava para respirar. Este é um ano daqueles para entrar na história. E acho fundamental rever tudo para não incorrer nos mesmos erros. Entender o passado para pavimentar o futuro. 

Quais são seus planos para o futuro?  

Não sou de fazer planos. Gosto de deixar a vida me levar. Se pudesse fazer apenas um desejo, seria: que tudo continue exatamente como está. Estou vivendo um dos melhores momentos da minha vida pessoal e profissional. Me sinto realizada.  

Por fim, pode recomendar três produtos culturais?  

Como estamos no fim do ano, difícil recomendar teatro porque as produções saem de cartaz. Então, sugiro livros como companhia. Indico os de dois queridos e grandes amigos: o último lançamento de Edney Silvestre, “Segredos de um Repórter: Tudo Aquilo que eu Gostaria que tivessem me contato antes de enfrentar as câmeras”, e, claro, as obras completas dele. E também o primeiro livro de Ronaldo Fraga, “Memórias de um Estilista Coração de Galinha”.  

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