Urgência do resgate feminino
Por que características associadas ao masculino têm sido privilegiadas nas esferas de liderança e influência?

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Há um desequilíbrio notório nas esferas de liderança e influência, onde características tradicionalmente associadas ao masculino são privilegiadas em detrimento de qualidades frequentemente percebidas como femininas.
Yuval Noah Harari, renomado historiador e filósofo, ao criticar as lideranças contemporâneas, ressalta que elas estão “erguendo muros e aprofundando divisões, justamente quando mais precisamos de união”. Este artigo propõe que a complementaridade entre as características femininas e masculinas é vital para um progresso social e organizacional sustentável.
O foco, portanto, recai sobre a imperativa necessidade de resgatar e integrar os elementos femininos, que se mostram complementares e indispensáveis aos já consolidados atributos masculinos.
Emma Fox, diretora executiva da Berry Bros & Rudd, uma renomada varejista de vinhos de luxo, corrobora essa perspectiva: “Trata-se menos de enxergar os estilos de gestão em termos binários, e mais de defender e valorizar os atributos tradicionalmente vistos como ‘femininos’ — empatia, capacidade de ouvir, colaboração — que são cruciais em qualquer negócio.”
Fox argumenta que a presença de mulheres em cargos de diretoria introduz uma nova e valiosa perspectiva, enriquecendo o ambiente corporativo. Estudos aprofundados confirmam que estilos de liderança frequentemente associados às mulheres, como a gestão transformacional e a comunicação colaborativa, estão intrinsecamente correlacionados com uma eficácia organizacional superior.
Isso demonstra que as características femininas não se limitam a um mero estereótipo, mas representam um caminho distinto e comprovado para a performance, atuando como um complemento essencial aos estilos de liderança já estabelecidos.
Desmistificando a vocação feminina para os bastidores
Durante a última edição do Rio Innovation Week, tive a oportunidade de acompanhar o painel “A importância de diversificar: Por que investir em startups lideradas por mulheres?”. Minha expectativa era encontrar argumentos que corroborassem minhas observações empíricas sobre o notável desempenho de lideranças femininas em concorrências à frente de agências de publicidade no Brasil.
Contudo, o painel iniciou, como é comum em discussões sobre liderança feminina, com a apresentação de desafios e dificuldades. Um ponto de consenso foi a percepção de que as mulheres possuem uma “vocação natural” para atuar nos bastidores, longe dos holofotes.
Essa percepção é amplamente reforçada pela Teoria da Congruência de Papéis (Role Congruity Theory), que postula que um grupo é avaliado positivamente quando suas características se alinham aos papéis sociais esperados para esse grupo. Consequentemente, muitas mulheres, mesmo possuindo inegável competência, evitam o “palco”.
Para justificar essa suposta vocação, o painel destacou a maior predisposição masculina ao risco, com a citação: “Os homens se arriscam, erram mais, já é esperado”.
Em contrapartida, o funcionamento feminino foi caracterizado por uma maior sensibilidade à segurança: “As mulheres são mais cuidadosas e se punem se erram”, conforme Ligia Pinheiro Barbosa, investidora-anjo e cofundadora do CoPai.
Essa dicotomia, no entanto, obscurece as vastas oportunidades inerentes às características femininas, que permitem a construção de um caminho próprio de performance.
É fundamental desmistificar a ideia de que a performance é um atributo exclusivamente masculino, intrinsecamente ligada a risco, competitividade e agressividade. Pelo contrário, a performance pode e deve ser multifacetada, abraçando diferentes abordagens e estilos.