Um novo pacto com a saúde
A verdadeira longevidade é equação inexata com soluções aproximadas, envolvendo um olhar acurado para a saúde e tempo dedicado ao que nos dá prazer

(Crédito: Shutterstock)
Que o povo brasileiro é otimista já não há dúvidas, e isto se reflete, também, no que diz respeito à expectativa de vida. Uma pesquisa realizada pela Ipsos perguntou a pessoas de vários países quanto pretendiam viver: nós aqui no Brasil respondemos até 80 anos. Países como a Hungria, Turquia e Singapura indicaram 64, 72 e 77 anos, respectivamente.
Nossa perspectiva não se descola muito da realidade, já que o IBGE mostra que estamos vivendo em média 76,4 anos. O que esse estudo não perguntou é como queremos levar a vida até os 80 anos e para mim isto é o mais importante.
Viver sem qualidade de vida é sobreviver. Afinal, de que adianta estender os anos, se não tivermos um olhar dedicado ao bem-estar? Na geração que nos antecedeu, envelhecer era aceitar uma série de renúncias. Para muitos, começava por volta dos 60 — ou antes — e vinha acompanhado de uma ideia de decadência inevitável. Mas o mundo mudou. Hoje, longevidade não é sinônimo de declínio. É um convite à continuidade. E essa mudança silenciosa tem desdobramentos profundos sobre como habitamos o nosso próprio corpo.
O cuidado com a saúde precisa deixar de ser reativo para se tornar proativo e diário. A tecnologia tem papel central nesse novo pacto, porém complementar, porque saúde depende em grande parte de atitude e consistência. Definitivamente, isto é a escolha de cada um e a tecnologia pode ser uma grande aliada.
Em um mundo de metas, telas e novos conteúdos a todo momento, ela encontra a missão nobre de tornar visível o que antes era apenas intuitivo. Nosso corpo fala e a inovação traduz esta linguagem. Muitas vezes, os sinais aparecem antes que algo se complique, entretanto estamos tão absorvidos por outras questões que não os ouvimos ou damos a devida atenção.
E se todo auxílio é bem-vindo, ouvir em alto e bom tom esse chamado, ainda mais traduzido na nossa linguagem executiva de números, gráficos e insights claros e acionáveis, se torna um grande diferencial.
Os dispositivos vestíveis e conectados são excelentes exemplos, já que nos ajudam a perceber, com clareza inédita, o que o corpo já nos dizia em sussurros. Dados como sono leve, apneia, níveis de estresse, batimentos irregulares e oxigenação noturna passam a integrar uma nova alfabetização do bem-estar.
Além disso, os novos relógios já medem a quantidade de antioxidantes na pele, substâncias essenciais para a defesa do organismo contra os radicais livres, moléculas instáveis que aceleram o envelhecimento celular e estão associadas a doenças crônicas. Os carotenóides, por exemplo, presentes na cenoura, beterraba, abóbora, espinafre, mamão, manga e couve, são considerados antioxidantes naturais, que podem ser medidos na pele por sensores especializados.
Testei esse recurso, pela primeira vez, e levei um susto: o resultado veio muito abaixo do patamar considerado ideal. Ver isso traduzido em números é um estímulo instantâneo para comer melhor e a possibilidade de medir, diariamente, tem me ajudado a incorporar o hábito. Afinal, não basta consumir esses alimentos de forma pontual. Só após, aproximadamente, 10 dias de alimentação adequada, os resultados começam a aparecer. O interessante dos relógios é que vira uma gamificação e, com isso, somos instigados a sempre atingir um nível melhor.
A conclusão aqui é a de que o cuidado contínuo não pode ser sinônimo de grandes sacrifícios, como muitos ainda pensam. Pequenas mudanças no cotidiano podem conduzir melhorias sensíveis e crescentes. E isso é essencial, porque transformações radicais têm um complicador: raramente se mostram sustentáveis no longo prazo. Afinal, é difícil manter grandes renúncias ou rotinas desagradáveis durante toda a vida. O que se mantém é aquilo que se ajusta à realidade possível de cada um e que, consequentemente, é assimilado, se tornando parte de quem somos.
A ciência nos mostra que manter a saúde mental é fundamental para um envelhecimento bem-sucedido. Portanto, o pacto com o corpo não é apenas físico. É também emocional, relacional e existencial. Começa cedo. A nova longevidade não tem a ver com aposentadoria. Tem a ver com escolhas feitas ainda antes dos 40. Às vezes, até antes dos 30. É como se fosse uma aplicação financeira: o que investirmos hoje nos ajudará no futuro.
Agora, vale observar todos esses pontos com o desafio de não ficar dependente. Adoro o texto escrito por Nadine Stair, intitulado “Instantes”. Deixo aqui um trecho como reflexão: “se eu pudesse viver a vida novamente, cometeria mais erros, não tentaria ser perfeito, relaxaria mais. Na verdade, levaria poucas coisas a sério. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais pores do sol, tomaria mais sorvete e menos feijão” (o poema é mais longo, vale ler, só pedir ao Gemini que ele te traz na íntegra).
Em linhas gerais, a máxima é essa: a vida está no equilíbrio, e a verdadeira longevidade é equação inexata com soluções aproximadas, envolvendo um olhar acurado para a saúde e tempo dedicado ao que nos dá prazer. Uma coisa é certa: cada um, na sua individualidade, descobrirá a receita ideal. Algo que nenhuma tecnologia irá te trazer.