17 de junho de 2017 - 16h21
Após os primeiros minutos de contemplação e euforia com a estrutura, organização e ativações do Palais, fui buscar o auditório onde eu assistiria minha palestra em Cannes. Como sábado ainda é um dia bem fraco, não tive muita dificuldade em escolher Mentalism for Marketers, com um tal de Keith Barry. Quase na entrada da sala, parei para ver a exibição de campanhas para causas quando um cara me pergunta se eu sabia onde era a palestra de Keith Barry. Como até então não sabia o nome do speaker, sugeri que perguntasse para algum staff. Havia vários ao redor. Depois vi que o cara era o próprio Keith Barry, que deveria estar testando sua popularidade por aqui.
Um irlandês agitado, divertido, carismático , que vive de entreter audiências através do dom da hipnose e ilusionismo. E, sim, ele é bem famoso e eu é que estava mal informado.
A intenção da apresentação era boa e eternamente almejada: como saber o que se passa na mente do consumidor para prever seus hábitos e atitudes. Sendo bem literal, o mentalist mostrou uma campanha que fez em 2013 para uma operadora de seguros sul-africana onde ele hipnotizava pessoas jovens para sentirem como é difícil ser idoso. Depois, comentou sobre um spot de rádio que gravou para uma cadeia de fast food na Irlanda onde, através de um som ambiente específico, induzia os ouvintes a sentir vontade de comer aquele sanduíche sempre que vissem a cor vermelha. Quase que como uma hipnose mesmo. Aquilo começou a me incomodar, pois não acho que a propaganda deve ser utilizada dessa forma, explicitamente introduzindo desejos na mente das pessoas. Cade o Conar da Irlanda? Ao mesmo tempo, me remeteu a um filme que acabei de assistir no meu voo para cá que questiona exatamente o poder e a ética por trás da hipnose, Get Out (assistam, vale muito a pena).
Não deu muito tempo para refletir, pois o cara é um entertainer frenético e logo começou a fazer perguntas para a audiência e acertar todas as respostas. Realmente impressionante. Não disse que era um dom?! Dom que, segundo ele, foi desenvolvido com muita interatividade e relacionamento com as pessoas e quase nada de tecnologia.
Após convencer a todos de que realmente é um mentalist, no número final, ele fez uma garota acreditar que também poderia ler a mente do outro participante e que ambos poderiam ficar invisíveis! Sim, tiramos até foto para comprovar. E tudo porque essa garota disse acreditar no poder da hipnose aliada a um pouco de mágica. Na verdade, a maioria levantou o braço para essa pergunta, talvez com um sentido mais romântico da palavra.
O fato é que esta garota saiu do auditório acreditando que ela conseguiu ler a mente de alguém e que ficou invisível por um instante. Keith, sem pudor nenhum, fez a amiga e todos ali presentes prometerem que jamais contariam a verdade, pois a vida dessa garota vai ser bem mais interessante se ela continuar acreditando na magia.
E será que a função da propaganda também não deve ser um pouco essa?!
P.S. Garota loira de saia jeans e blusinha azul, por favor, não leia esse texto.
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