Consumo consciente e fé impulsionam as favelas do Brasil
Pesquisa da Data Favela, que ouviu mais de 16 mil pessoas em todos os estados brasileiros traduz os desejos dos moradores de favelas

Data Favela ouviu 16 mil pessoas que residem nas favelas de todos os estados do Brasil (Crédito: Simlinger / shutterstock)
Na última sexta-feira, 18, o Data Favela realizou em São Paulo o anúncio dos primeiros dados da pesquisa “Favela no Mapa, a potência das favelas brasileiras”. O estudo entrevistou 16 mil pessoas, que residem em favelas de todos os estados do Brasil.
O evento na capital paulista contou com nomes como Renato Meirelles, co-fundador do Data Favela, Vinicius Athayde, co-cundador do Data Favela e CEO da CUFA Global, e Bruna Hasclepildes, coordenadora nacional da pesquisa de campo.
Ao Meio e Mensagem, Léo Ribeiro, CEO da Comunidade Door e da InFavela, explica alguns insights que foram apresentados pela pesquisa. “Para entender o consumo entre moradores de favelas, é importante entender seus significados para esse público. Nas favelas, o consumo representa mais do que a satisfação de uma necessidade utilitária. Quando há acesso, o consumo traz a sensação de conquista e celebra o esforço individual”, diz.
Agentes de consumo
A pesquisa indicou que 78% dos respondentes se esforçam para comprar coisas que não tiveram condições financeiras de ter quando eram mais jovem. Isso se reflete também na economia, já que 85% se sentem realizados quando economizam para comprar um produto e conseguem comprá-lo. Por outro lado, quando não há acesso ao consumo, isso representa frustração e exclusão.
Nesse aspecto, o estudo revelou que 62% já se sentiu excluído por não ter condições financeiras para consumir algum produto que estava na moda, enquanto 50% já foi constrangido ou humilhado por não ter algum produto ou não usar determinada marca.
Por isso, para Ribeiro, entender o consumo nas favelas apenas pelo viés da necessidade, atribuindo a ele o caráter de sobrevivência é preconceituoso e não dialoga com a realidade vivida. Dado que se reflete na resposta de 83% das pessoas que concordam com: “gosto de encontrar produtos mais baratos que entregam a mesma qualidade de produtos mais caros, porque isso faz eu me sentir mais inteligente, e não apenas para economizar”.
“O preço é um fator de acesso, mas a qualidade também pesa. para esse consumidor, errar custa caro, a marca representa qualidade e ajuda a evitar desperdícios. a escolha é feita com base no custo-benefício”, avalia.
O executivo afirma, ainda, que a favela é sustentada por três pilares: a corrida incansável em busca de dias melhores, o consumo consciente e a fé como impulsionadora de oportunidades. Para ele, a favela não deve ser vista como carência, mas como um centro de potencial econômico e cultural, capaz de movimentar bilhões.
“Devemos desafiar estereótipos antiquados. Este estudo não apenas ilumina esses aspectos, mas também reforça a necessidade de reconhecimento e respeito, não apenas como estatísticas de tragédia, mas como agentes ativos de consumo, investimento e realização de sonhos”, diz.
Preferências de uma potência
Os moradores das favelas brasileiras têm uma relação especial com a aparência. Segundo os dados da pesquisa, 4 em cada 10 favelados e faveladas se importam muito com a própria aparência.
Nesse sentido, 60% dos moradores pretendem comprar perfumes, enquanto 51% dos respondentes pretendem comprar produtos de beleza nos próximos seis meses. Entre as marcas, O Boticário é mais desejada por 46% dos entrevistados que afirmam que comprariam mais se o preço não fosse um impeditivo.
Na parte de moda, a Nike lidera o ranking de marca preferida entre os moradores de favela, com 20% das considerações. Dentre os respondentes, 70% afirmam que pretendem comprar peças de vestuário do próximo semestre. Entre os marketplaces, 50% do público afirmara que a Shopee é a favorita.
“O consumo, para o favelado, não é necessariamente o gasto pelo gasto, é sobre poder de compra, superação, realização de sonhos e inspiração para quem compartilha das mesmas vontades e está no mesmo corre”, concluí o executivo.