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Consumo consciente e fé impulsionam as favelas do Brasil

Pesquisa da Data Favela, que ouviu mais de 16 mil pessoas em todos os estados brasileiros traduz os desejos dos moradores de favelas

i 21 de julho de 2025 - 16h32

Data Favela ouviu 16 mil pessoas que residem nas favelas de todos os estados do Brasil (Crédito: Simlinger / shutterstock)

Data Favela ouviu 16 mil pessoas que residem nas favelas de todos os estados do Brasil (Crédito: Simlinger / shutterstock)

Na última sexta-feira, 18, o Data Favela realizou em São Paulo o anúncio dos primeiros dados da pesquisa “Favela no Mapa, a potência das favelas brasileiras”. O estudo entrevistou 16 mil pessoas, que residem em favelas de todos os estados do Brasil.

O evento na capital paulista contou com nomes como Renato Meirelles, co-fundador do Data Favela, Vinicius Athayde, co-cundador do Data Favela e CEO da CUFA Global, e Bruna Hasclepildes, coordenadora nacional da pesquisa de campo.

Ao Meio e Mensagem, Léo Ribeiro, CEO da Comunidade Door e da InFavela, explica alguns insights que foram apresentados pela pesquisa. “Para entender o consumo entre moradores de favelas, é importante entender seus significados para esse público. Nas favelas, o consumo representa mais do que a satisfação de uma necessidade utilitária. Quando há acesso, o consumo traz a sensação de conquista e celebra o esforço individual”, diz.

Agentes de consumo

A pesquisa indicou que 78% dos respondentes se esforçam para comprar coisas que não tiveram condições financeiras de ter quando eram mais jovem. Isso se reflete também na economia, já que 85% se sentem realizados quando economizam para comprar um produto e conseguem comprá-lo. Por outro lado, quando não há acesso ao consumo, isso representa frustração e exclusão.

Nesse aspecto, o estudo revelou que 62% já se sentiu excluído por não ter condições financeiras para consumir algum produto que estava na moda, enquanto 50% já foi constrangido ou humilhado por não ter algum produto ou não usar determinada marca.

Por isso, para Ribeiro, entender o consumo nas favelas apenas pelo viés da necessidade, atribuindo a ele o caráter de sobrevivência é preconceituoso e não dialoga com a realidade vivida. Dado que se reflete na resposta de 83% das pessoas que concordam com: “gosto de encontrar produtos mais baratos que entregam a mesma qualidade de produtos mais caros, porque isso faz eu me sentir mais inteligente, e não apenas para economizar”.

“O preço é um fator de acesso, mas a qualidade também pesa. para esse consumidor, errar custa caro, a marca representa qualidade e ajuda a evitar desperdícios. a escolha é feita com base no custo-benefício”, avalia.

O executivo afirma, ainda, que a favela é sustentada por três pilares: a corrida incansável em busca de dias melhores, o consumo consciente e a fé como impulsionadora de oportunidades. Para ele, a favela não deve ser vista como carência, mas como um centro de potencial econômico e cultural, capaz de movimentar bilhões.

“Devemos desafiar estereótipos antiquados. Este estudo não apenas ilumina esses aspectos, mas também reforça a necessidade de reconhecimento e respeito, não apenas como estatísticas de tragédia, mas como agentes ativos de consumo, investimento e realização de sonhos”, diz.

Preferências de uma potência

Os moradores das favelas brasileiras têm uma relação especial com a aparência. Segundo os dados da pesquisa, 4 em cada 10 favelados e faveladas se importam muito com a própria aparência.

Nesse sentido, 60% dos moradores pretendem comprar perfumes, enquanto 51% dos respondentes pretendem comprar produtos de beleza nos próximos seis meses. Entre as marcas, O Boticário é mais desejada por 46% dos entrevistados  que afirmam que comprariam mais se o preço não fosse um impeditivo.

Na parte de moda, a Nike lidera o ranking de marca preferida entre os moradores de favela, com 20% das considerações. Dentre os respondentes, 70% afirmam que pretendem comprar peças de vestuário do próximo semestre. Entre os marketplaces, 50% do público afirmara que a Shopee é a favorita.

“O consumo, para o favelado, não é necessariamente o gasto pelo gasto, é sobre poder de compra, superação, realização de sonhos e inspiração para quem compartilha das mesmas vontades e está no mesmo corre”, concluí o executivo.