Como o envelhecimento da população desafia empresas
Enquanto o poder de consumo 50+ deve chegar a R$ 3,8 trilhões, preconceito ainda é uma barreira nas empresas
A proporção de idosos – pessoas com 60 anos ou mais – na população brasileira quase duplicou de 2000 a 2023, segundo as Projeções de População do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O percentual saltou de 8,7% para 15,6% em 23 anos.

Pacto Prateado, do Grupo Boticário, também teve campanha com a atriz Eliane Giardini (Crédito: Divulgação)
A projeção é que, em 2070, cerca de 37,8% dos habitantes do País sejam idosos. Em 2000, a idade média da população brasileira era de 28,3 anos, em 2023, subiu para 35,5 anos. Já em 2070, deve alcançar 48,4 anos.
As Projeções de População do IBGE utilizam dados de diversas fontes, como os três censos demográficos mais recentes (2000, 2010, 2022). Segundo o estudo, a população vai atingir seu contingente máximo com 220.425.299 habitantes em 2041. Depois disso, o número de brasileiros vai começar a diminuir, alcançando 199.228.708 em 2070.
À medida que o envelhecimento da população deixa de ser uma tendência distante e se torna uma projeção palpável, a atenção de diversos setores econômicos cresce. Em maio, a empresa de pesquisa especializada no mercado de longevidade Data8 apresentou o estudo “Mercado prateado: consumo dos brasileiros 50+ & projeções”.
O levantamento revelou que os brasileiros acima de 50 anos devem ampliar sua participação no consumo das famílias de 24%, em 2024, para 35%, em 2044. Em valores absolutos, o montante salta de R$ 1,8 trilhão para R$ 3,8 trilhões, no mesmo intervalo.
Etarismo nas empresas
Mas, para explorar essa oportunidade, é preciso entender quem é o consumidor sênior, suas demandas e desenvolver ofertas, de fato, personalizadas. “O interesse tem subido, mas o conhecimento sobre quem são essas pessoas e quais as particularidades delas ainda é muito superficial”, provoca o médico geriatra, consultor e diretor técnico do Centro Internacional de Longevidade Brasil, Milton Crenitte.
Uma das chaves para isso estaria em colocar essas pessoas no centro das tomadas de decisão, com medidas organizacionais focadas no público idoso. “As organizações ainda refletem o preconceito da sociedade”, aponta o gerontólogo. Para combater o idadismo nas empresas, primeiro, seria necessário criar um ambiente de inclusão e pertencimento.
Depois, reconhecer e promover o valor das equipes multigeracionais. “É a partir da voz das pessoas idosas dentro dessas equipes que as soluções e produtos vão ser produzidos. Vai ser a melhor forma de endereçar para o público 60+ que está aí, consome, tem gostos, desejos e é diverso”, aponta Crenitte.
Programas de atração
Algumas empresas já estão investindo na empregabilidade como um de seus pilares para atender e dialogar com o público sênior. É o caso do Grupo Boticário que, no ano passado, apresentou o Pacto Prateado, um conjunto de iniciativas antietaristas. O projeto estabeleceu metas de contratação e desenvolvimento de profissionais com mais de 50 anos em todas as áreas da companhia.
“Trabalhamos para aumentar a representatividade de colaboradores 50+ no quadro total, e principalmente em posições de liderança, entendendo que a senioridade é um ativo estratégico. Não se trata apenas de incluir, mas de reconhecer o valor da experiência acumulada, da escuta atenta, da visão sistêmica que só o tempo proporciona”, descreve Renata Gomide, VP de marketing do Grupo Boticário.
Nestlé, por sua vez, criou em 2023 o programa “Experiência que Faz Bem” com objetivo de oferecer oportunidades de emprego para pessoas com mais de 50 anos nas suas lojas próprias (Nespresso, Dolce Gusto Neo e Empório Nestlé). A companhia também investe na contratação de profissionais com mais de 60 anos para as campanhas nos pontos de venda.
“Hoje, temos mais de 2 mil profissionais com mais de 50 anos nos nossos quadros e seguimos atraindo talentos com maior experiência e impulsionando carreiras mais longas na empresa. Esses profissionais atuam em todos os níveis da empresa, desde operação até a liderança”, descreve Augusto Drumond, head de diversidade e inclusão da Nestlé.
Para além da atração, é preciso investir na retenção desse público. Na empresa de alimentos, uma das ferramentas para isso foi o programa “Viver Bem”, uma trilha de aprendizado com temas como saúde física, nutrição, saúde mental e planejamento previdenciário e financeiro.