Maximídia

Cenário fiscal limita potencial de expansão do Brasil

Para a economista Zeina Latif, reformas estruturais e maior eficiência do Estado são essenciais ao crescimento

i 2 de outubro de 2025 - 13h23

Zeina Latif, economista e sócia da Gibraltar Consulting (Crédito: Edu Lopes/Máquina da Foto)

Zeina Latif, economista e sócia da Gibraltar Consulting (Crédito: Edu Lopes/Máquina da Foto)

No painel “Como as lideranças estão planejando 2026: os cenários macroeconômicos e caminhos para o crescimento no Brasil”, apresentado no Maximídia 2025, Zeina Latif, economista e sócia da Gibraltar Consulting, traçou um panorama dos principais desafios econômicos internos e externos.

No campo internacional, destacou que a política econômica de Donald Trump, marcada por medidas protecionistas e tarifas adicionais sobre exportações, pode reduzir a produtividade da economia americana e gerar efeitos indiretos no Brasil.

Os recentes tarifários imposto pelos Estados Unidos alcança diversas exportações brasileiras, que refletem diretamente no PIB.

Entre os setores mais atingidos estão café, carne bovina, açúcar e alumínio.

Ainda assim, Latif ressaltou que o comércio mundial mostra resiliência, o que mitiga parte dos impactos, e que a Casa Branca tem se mostrado sensível às pressões do setor privado, abrindo espaço para negociações.

Ela observou também que, por ser uma economia relativamente fechada, o Brasil tende a sentir menos os efeitos diretos, mas perde competitividade por não ter avançado em acordos comerciais nos últimos anos.

Desafios fiscais

No mercado interno, as projeções indicam desaceleração do crescimento, segundo o Banco Central do Brasil.

O PIB deve avançar 2,2% em 2025 e 1,8% em 2026. A inflação, embora acima da meta, deve cair de 4,8% em 2025 para 4,3% em 2026, enquanto a taxa Selic tende a permanecer elevada, recuando de 15% para 12,25% no período.

O retorno aos juros de um dígito é esperado apenas em 2029. Para a economista, a política monetária já mostra efeitos de desaceleração da atividade, o que abre espaço para cortes futuros, mas a velocidade da queda dependerá da credibilidade da política fiscal.

O quadro fiscal aparece como maior vulnerabilidade. O resultado primário projetado é negativo, em -0,5% do PIB em 2025 e -0,6% em 2026, distante das metas oficiais. A dívida pública deve continuar em trajetória ascendente, passando de 80,2% para 84,5% do PIB.

A economista avaliou que o desafio vai além da trajetória da dívida: a ausência de reformas que aumentem a eficiência do Estado e reduzam a rigidez orçamentária limita a capacidade de ajuste e reforça a percepção de risco nos mercados.

Ela acrescentou que, embora a economia brasileira tenha demonstrado capacidade de reação após crises recentes, o potencial de crescimento segue limitado, na faixa de 2% a 2,5%, abaixo do necessário para reduzir desigualdades e ampliar o mercado consumidor.

“Nosso Calcanhar de Aquiles é a política fiscal. Não se trata apenas de reduzir dívida, mas de ter um Estado que funcione melhor e entregue serviços com eficiência. Sem isso, não há como sustentar o crescimento”, destaca.

Nesse sentido, defendeu que educação, produtividade e ambiente de negócios mais favorável são condições essenciais para sustentar avanços de longo prazo.

Segundo Zeina, o cenário para 2026 será definido pela capacidade do País em lidar com o desafio fiscal e acelerar reformas estruturais, em meio a um ambiente externo mais incerto.

“O Brasil criou musculatura para crescer, mas a dúvida é quão ambiciosos vamos ser nas reformas. O desafio é acelerar mudanças para aproveitar as oportunidades de médio e longo prazo”, completou.